O filme sobre sua vida estava em
cartaz em Santos ao mesmo tempo em que Divaldo Franco era ouvido por milhares
de pessoas simpáticas ao espiritismo que lotavam o Mendes Convention Center. Um
dos vários grandes momentos da película, ao vê-lo aos prantos por conta das
dificuldades impostas ao seu destino, o espírito conselheiro e orientador de
Joanna de Angelis lhe disse: "Quem se dedica a enxugar as lágrimas dos
outros, não tem tempo para chorar". Nos apenas cinco minutos concedidos a
cada repórter na coletiva, Divaldo Franco mostrou o quanto é importante seu
trabalho e que todo o reconhecimento ainda não faz jus a sua trajetória.
Confira:
Diário - O senhor chorou muitas
vezes?
Divaldo Franco - Muitas vezes
engoli muitas lágrimas para poder consolar quem estava com sofrimento maior do
que o meu. Essa frase de Joana de Angelis confortou-me muito. Toda vez que eu
sofria um ataque por conta de ficar conhecido, como é natural, me deixava
abater. Então, ela me dizia: "Olha, não há tempo. Se você se abater, quem
vai confortar os infelizes?" Então, eu enxugava as lágrimas e avançava.
Diário - O senhor deve ter
inúmeros exemplos.
Divaldo Franco - Tem um episódio
na minha vida em que soube de um homem que cometeu o suicídio ao se atirar sob
um trem. O repórter escreveu a situação com muitos detalhes e eu fiquei
impressionado. Durante muitos anos, eu orei por este homem. Eu o via e orava.
No entanto, houve um momento que passei por uma grande provação, superior às
minhas forças. Perdi 16 quilos em um mês, o entusiasmo e pela primeira vez,
chorei. No entanto, senti uma mão em meu ombro e me assustei. Aí, ouvi uma voz
inesquecível que me disse: "Se tu choras, o que será de nós, a quem tu
consolas". Olhei e vi um espírito de pé e era ele, o suicida. Ele ainda me
disse: "Tu oras por mim sem me conhecer". Ele me contou tudo,
inclusive o motivo de sua decisão e pediu para que eu não chorasse. Eu lhe
disse que também tinha direito (de chorar) e ele me disse: "Não tem. Tu te
preparas-te para enxugar as lágrimas".
Diário - O senhor interferiu na
produção do filme?
Divaldo Franco - Não. Só
participei de uma cena final. Não fui consultado em nada. Os realizadores foram
muito gentis comigo. A escolha de algumas locações em Santos me honra muito.
Diário - Como o senhor analisa os
sofrimentos atuais?
Divaldo Franco - Eles nos convidam
a cada vez mais fazer o bem. De termos um objetivo vivo e real. O Brasil e o
mundo estão precisando de pessoas otimistas. Estamos cansados de guerras.
Tentamos a traição, o crime, a difamação. Não seria a hora de tentarmos o amor?
Temos que contribuir com a obra de Deus e a misericórdia de Cristo.
Diário do Litoral - O senhor não
descansa?
Divaldo Franco - As minhas alegrias
são o trabalho. Dediquei toda a minha vida à fraternidade, alegria de viver.
Sou uma pessoa muito simples, desde minhas origens. Estamos vendo um mundo
muito áspero. O processo sociológico, feito pela tecnologia e ciência, está
fazendo com que o indivíduo tenha uma vida vazia, sem metas, sem objetivos. A
ciência atingiu o macro e o micro cosmo, que solucionou os enigmas do
pensamento, mas que não consolou o coração.
Diário - Está faltando amor?
Divaldo - Ele vem sendo pervertido
lentamente. A libido passou a ser mais do que uma necessidade. As pessoas estão
vivendo atormentadas. Cristo nos demonstra que a felicidade é amar. Temos que
ter um objetivo essencial. O grande psiquiatra austríaco Viktor Emil Frankl
dizia que a vida que não tem meta é uma vida sem sentido. No entanto, estamos
vendo que as metas hoje são imediatas e sem significado. Temos que dar um grito
e dizer que é bom poder amar, estimular alguém, dar e dar-se. Eu respeito muito
a frase rotariana "aquele que não vive para servir, não serve para
viver", mas acho pessimista. Eu diria: aquele que não vive para servir
ainda não aprendeu a viver. É fantástico amar, amar a natureza, respeitar os
valores e os direitos alheios. Compreender que cada um é um, que tem o direito
à liberdade, mas não penetrando na do outro.
Diário - São materialistas?
Divaldo - Ter para comprar, gozar e frustrar-se. Descobrir o vazio e cair na melancolia, na depressão. E, como solução final, o suicídio. Essa pandemia já mostra que já são 360 milhões de depressivos crônicos no mundo. Uma falência da cultura. A verdadeira cultura é que leva à paz. A cultura da paz é importante. Lembro de Madre Tereza de Calcutá, que dizia: se você quer a paz no mundo, vá para casa e seja pacífico no seu lar. Vejo que a solução, do ponto de vista técnico, é a educação. Alan Kardec dizia que o melhor instrumento contra o materialismo e a crueldade é a pedagogia. A vida não está cara, somos nós que a encarecemos. Prazer é instinto, felicidade é emoção. Vamos lembrar que o próprio Alan Kardec nos ensinou que a base do espiritismo é: "Fora da caridade não há salvação".
Fonte: Diário do Litoral
Nenhum comentário:
Postar um comentário