Por Hernani
Guimarães Andrade
Apresentados em expressões muitas vezes simples, conceitos complexos da ciência se espalham por livros do mais famoso médium espírita do Brasil, que hoje completaria 110 anos
A matéria
densa que compõe nossos corpos e tudo o que nos cerca é energia radiante
condensada - luz coagulada, escreve André Luiz em um dos livros psicografados
por Chico Xavier.
Por ocasião
do 110º aniversário de nascimento de Francisco Cândido Xavier (2 de abril de
1910), PLANETA relembra um texto do parapsicólogo Hernani Guimarães Andrade
publicado em suas edições especiais sobre o médium mineiro e seu trabalho, a
primeira das quais, 127-A, saiu em 1983.
Várias obras
psicografadas por Francisco Cândido Xavier possuem três níveis de compreensão:
o popular, o científico e o filosófico. Assim, os que leem a coleção iniciada
pelo livro Nosso Lar, ditada pelo espírito de André Luiz, podem observar com
muita facilidade esta mencionada estratificação. É conveniente assinalar que os
livros Evolução em Dois Mundos e Mecanismos da Mediunidade, psicografados em
parceria com Waldo Vieira, dão ênfase quase exclusiva ao nível científico.
A
interpretação dos livros pertencentes à série mencionada vai depender muito do
grau de cultura daqueles que os leem, e também da atenção voltada ao texto
lido. Por isso, não é de admirar que muitas pessoas, pouco informadas a
respeito do espiritismo, da parapsicologia, da biologia ou da física,
classifiquem esses livros na categoria de coletâneas de historietas ou
dramalhões ao estilo “água com açúcar” e de péssimo gosto literário. O uso
excessivo de adjetivos qualificativos e a forma literária muito rebuscada, do
tipo “romance antigo”, concorrem ainda mais para conduzir o leitor ingênuo a
semelhante julgamento errôneo acerca do valor dessas obras.
Entretanto, aqueles leitores que procuram reler os citados livros duas ou mais vezes acabam por se surpreender com a paulatina descoberta de notáveis e inéditas informações a propósito de espiritismo, biologia, física, parapsicologia e demais disciplinas científicas.
Garimpo
Há nisso
certa semelhança com a operação de garimpar: à medida que se repetem as
bateadas, vão surgindo os diamantes ou as pepitas do mais puro ouro. Entre a riqueza
de informações, é comum encontrarem-se interessantes previsões científicas,
algumas delas concernentes a avançadas cogitações, somente acessíveis a
cientistas ultraespecializados! Não se trata de meras coincidências, do tipo de
profecias de cartomantes, adivinhos ou astrólogos de almanaque e televisão. São
realmente citações concisas e expressam-se com propriedade e precisão
impecáveis, como a seguinte:
“Irmã
Evelina, quem lhe disse que não moramos lá, na arena terrestre, detidos
igualmente num certo grau da escola de impressão do nosso Espírito eterno?
Qualquer aprendiz de ciência elementar, no planeta, não desconhece que a
chamada matéria densa não é senão a energia radiante condensada. Em última
análise, chegaremos a saber que a matéria é luz coagulada, substância divina,
que nos sugere a onipresença de Deus.”
Este trecho
encontra-se no capítulo 9 de E a Vida Continua…, psicografado por Chico Xavier.
Escrito em 1968, ele revela que “chegaremos a saber que a matéria é luz
coagulada”. Isso significa que o autor preconiza para a ciência o
reconhecimento de que as últimas partículas constituintes da matéria seriam os
fótons. Por outras palavras, a matéria seria formada por ondas eletromagnéticas
(luz) de alta energia, estruturadas de maneira particular.
O mesmo
autor espiritual, André Luiz, no livro Evolução em Dois Mundos, cap. III, no
subcapítulo intitulado “Primórdios da Vida”, apresenta ao pé da página a nota
4, que diz: “Na Esfera Espiritual, em que estagiamos, o eletrão é também
partícula atômica dissociável”. Embora o capítulo III tenha sido psicografado
por Waldo Vieira em 22 de janeiro de 1958, achamos que dificilmente o
psicógrafo teria tido conhecimento dos trabalhos de física teórica
desenvolvidos por Murray Gell-Mann e outros.
Gell-Mann obteve em 1969 o Prêmio Nobel por seus trabalhos teóricos acerca dos modelos matemáticos de hipotéticas subpartículas, os quarks, que seriam os componentes das partículas subatômicas atualmente ainda conhecidas como elementares.
Conclusões
semelhantes
Mas a
antecipação apresentada no livro E a Vida Continua… é muito mais
impressionante, pois somente os físicos bem avançados estão agora chegando a
semelhantes conclusões. Apesar da exatidão rigorosa do soberbo equipamento
matemático de que se servem os físicos teóricos, ainda não se tem uma noção
clara e segura de o que são realmente a matéria, o espaço e o tempo.
O aprofundamento desses temas leva-nos invariavelmente a reflexões metafísicas, embora os físicos não empreguem o mesmo método dos meditadores orientais. A física constrói-se através da observação dos fatos, seguida de teorizações que levam a etapas posteriores de experimentação e consequentes novas observações. É um edifício solido baseado na realidade verificável. Apesar disso, a física está se aproximando de conceitos cada vez mais abstratos. Desse modo, aquilo que outrora se tinha como realidade concreta está se diluindo em entidades às quais faltam as qualidades que normalmente se atribuiriam à própria matéria.
De uma
interessante “conversa” com os físicos Jack Sarfatti e Fred Wolf, o escritor
científico Bob Toben extraiu informações que resultaram num empolgante livro
intitulado Space-Time and Beyond (no Brasil, “Espaço-Tempo e Além”).
Vejamos quem
são os referidos físicos*. Jack Sarfatti é graduado em física pela Cornell
University, M.S., 1967, e PhD, 1969, em física teórica pela Universidade da
Califórnia. Trabalhou três anos no Departamento de Física da San Diego State
University; atuou na Universidade de Londres, em colaboração com o professor
David Bohm; foi cientista visitante, durante o ano acadêmico 1973-74, do Centro
Internacional de Física Teórica, em Trieste, Itália; e é autor de dezenas de
artigos sobre pesquisas originais nos fundamentos da física.
Fred Wolf é
graduado em física pela University of Illinois, Urbana, em 1957, e PhD, em
1962, em física teórica pela Universidade da Califórnia em Los Angeles;
atualmente é professor de física na San Diego University; durante o período de
1973-74, chefiou o grupo designado para o Birkbeck College da Universidade de
Londres e para o Laboratório de Colisões da Universidade de Paris; especialista
em colisões moleculares, consultor particular das maiores instituições
científicas e técnico em análise e operações de computadores, participou de
inúmeros congressos sobre física atômica, onde apresentou considerável número
de teses.
Como se
observa, os físicos entrevistados por Bob Toben, cujo currículo é comparável ao
dos mencionados cientistas, são especialistas respeitáveis. Aquilo que dizem
deve ser bem meditado, antes de se contestar. Além disso, Toben apoiou-se em
uma rica bibliografia constituída por obras de alto nível (ao todo, 89 livros
e/ou artigos).
Nas páginas 46 e 47 de Space-Time and Beyond, leem-se as seguintes legendas: “A matéria não é senão luz (energia) capturada gravitacionalmente” e “A matéria é luz capturada gravitacionalmente”. Os textos encabeçados por esses títulos são claríssimos e trazem desenhos muito elucidativos para explicar ao leitor mediano o seu significado.
Revelações mediúnicas
autênticas
Na página
47, Toben oferece uma sequência de figuras muito interessantes. Começa com um
desenho que mostra uma espécie de nuvem, na qual se lê: “A incompreensível e
desconhecida unidade além do espaço-tempo”. Segue-se outro desenho constituído
de duas carreiras paralelas de flechas, indicando dois sentidos opostos. Entre
as paralelas lê-se: “Torna-se conhecida de si mesma”. Em seguida vê-se um
pequeno círculo rodeado de raios, como se fosse um foco luminoso, e a legenda:
“Criando a Luz”.
Após esse
desenho, veem-se três círculos concêntricos formados por linhas pontilhadas,
tendo sobre si a figura de um foco luminoso como se estivesse girando em um
turbilhão circular. Uma inscrição indica, por meio de uma flecha, que os
círculos de linhas pontilhadas representam “um anel de luz em vibração”; ao
lado lê-se: “A luz captura-se a si própria em um colapso gravitacional”.
Continuam as
legendas: “formando um quantum (mini) black hole [buraco negro]”. O diâmetro
avaliado para o referido “mini-black hole” é de 10-33 centímetros. E termina
com a legenda: “A unidade fundamental da matéria”, esclarecendo que, “na
singularidade dentro do black hole, não há nem espaço, nem tempo”!
A descrição que acabamos de fazer indica as etapas do processo de transformação da luz em partículas de matéria. Essa partícula é aquilo que os físicos entrevistados chamam de “mini-black hole”, um “buraco” no vácuo.
Antecipação
De acordo
com essas fantásticas teorias, os “mini-black holes” formar-se-iam na sequência
temporal normal, isto é, vindo do futuro, transitando pelo presente e fugindo
para o passado. Quanto aos “mini-white holes” – unidade fundamental da
antimatéria –, a sequência temporal seria inversa, isto é, eles viriam do
passado, transitariam pelo presente e seguiriam para o futuro!
O livro que
aqui comentamos é extraordinariamente fascinante. As ideias nele expostas vão
ainda muito mais além. Demos apenas uma pequeníssima amostra do seu incrível
conteúdo. Entretanto, inúmeras de suas passagens poderiam figurar nas obras
ditadas por André Luiz e vice-versa. A diferença estaria na linguagem e na
época em que foram escritos. Os livros psicografados por Chico Xavier antecipam
em vários anos o que encontramos nesse livro.
Achamos
oportuno abordar essas questões concernentes ao aspecto seriamente científico
de certas obras psicografadas por Francisco Cândido Xavier porque temos ouvido
críticas negativas a respeito da legitimidade e da autenticidade de certas
antecipações encontradas em obras mediúnicas. Em particular, observamos que
algumas pessoas fazem a crítica ou por falta de preparo ou por excesso de rigor
científico, devido a uma formação dentro de estreita ortodoxia.
Admitimos
que muitas obras tidas como mediúnicas e contendo “revelações científicas” não
passam de um amontoado de ingenuidades. Tais obras não resistem a um exame
sério da parte de um especialista. Em outras circunstâncias, como vem
acontecendo com os livros de Chico Xavier, é aconselhável que se suspenda o
julgamento muito apressado, pois é possível que a ingenuidade seja do julgador.
Assim é no
caso de luz coagulada. Quando essa expressão foi publicada, há cerca de 15
anos, poucos físicos tê-la-iam levado a sério. Muitos poderiam mesmo apoiar-se
na própria física para contestar a validade da informação transmitida por via
mediúnica. Ainda hoje deve haver físicos prontos para assumir essa posição.
Estarão, contudo, falando por si, e não pela física, pois muitos outros bons
físicos aceitaram como válida a perturbadora expressão: “A matéria é luz
coagulada”!
* Esta matéria foi publicada originariamente na Folha Espírita em Revista, 1977, págs. 66-68, com o título “Luz coagulada”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário