Por Nubor Orlando
Facure
A Religião –
milagres, profecias, prodígios e dogmas irracionais
Na
condenação de Galileu ele foi obrigado a refugiar-se em sua própria casa e
renunciar aos princípios científicos que divulgava. A Igreja da época estava
dando o recado de que não suportaria a perversão dos fundamentos aristotélicos
que ela adotava. O sistema do mundo criado por Deus correspondia ao que
Aristóteles e Ptolomeu haviam decifrado: “Deus, como Ser supremo e onipotente,
criou e pôs o mundo em movimento e, desde então, tudo funciona com perfeição e
harmonia, com ou sem a sua presença.” “Ele estabeleceu a ordem para o Universo
e nada pode mudá-la.” “As estrelas que estão fixadas e imóveis nas abóbadas do
firmamento são formadas de uma substância divina diferente da que existe no
mundo sublunar.” “A Terra ocupa o centro do Universo e o Sol, que vai de um
extremo ao outro do horizonte, serve de lâmpada que ilumina o céu.” “Tudo que é
perfeito e escapa ao entendimento humano é obra de Deus.” “O círculo é tido
como a figura perfeita, submetendo os planetas a uma órbita circular nas suas
trajetórias em volta do Sol.” “Não há qualquer ligação entre a vida do homem e
a dos animais, eles fazem parte da criação apenas para povoarem o mundo.” “O
Homem conhecido na época era o homem branco, originado de um casal criado no
paraíso, de onde foi expulso por ceder à tentação do sexo.” “Condenado a viver
na Terra, terá de seguir os mandamentos da Lei de Deus, que só a Igreja é
competente para revelar, podendo ser salvo ou condenado a penas eternas
conforme sua submissão.”
Como
doutrina que esclarece o início e o fim do Homem, a Religião da época era um
sistema acabado, pronto, e que não admitiria mudanças desnecessárias. Seu
conteúdo era completo e suficiente para consolar e aliviar nossas dores,
ensinar a tolerância aos nossos sofrimentos, justificar a incoerência aparente
da Justiça divina e garantir a salvação para os fiéis submissos aos seus
sacerdotes. As desigualdades também ocorrem por obra e vontade de Deus e não
nos compete desafiá-Lo em seus desígnios.
Conseguindo
“explicar” os mistérios do mundo e da vida, as concepções religiosas
desempenhavam um papel superior ao da ciência iniciante que Galileu inaugurava
na época. A religião com esse formato fornece segurança, conforta no
sofrimento, alivia nossos medos, faz troca com nossos “pecados” e assegura a
esperança numa vida futura, onde conseguiremos obter o que a Terra não nos
privilegiou.
A Ciência –
o estatuto do conhecimento verdadeiro, racionalidade, indeterminação,
pensamento livre para criar a sua verdade
Galileu
criou um novo sistema de entendimento do mundo, daí o perigo que ele
representava para a Igreja. Usa o raciocínio matemático para comprovar as teses
de Copérnico, deslocando o Sol para o centro e colocando a Terra no cortejo dos
planetas ao seu redor. Num mundo tido como regular e perfeito ele descobre as
irregularidades da superfície lunar onde viu suas crateras. Num sistema tido
como imutável ele acrescentou luas acompanhando o planeta Júpiter, que não
foram descritas por Aristóteles.
Ao mesmo tempo,
o alicerce da Igreja via-se abalado por novas descobertas que se sucederam
rápidas. Ticho Brahe testemunhou por dois meses a passagem de uma estrela nova
no firmamento, que a Igreja supunha fixo e invariável. Johanes Kepler comprovou
matematicamente que as órbitas dos planetas são elípticas e não círculos
perfeitos como se supunha. René Descartes construiu um sistema filosófico que
permitiria separar o corpo da Alma, e André Vessálius inaugurou o estudo da
anatomia humana num corpo que lhe parecia comportar-se como uma máquina, capaz
de mover-se com músculos sem a ajuda do Espírito.
Mais tarde,
Isaac Newton, identificou a “força atrativa” que mantém os astros em suas
órbitas, que movimenta as águas dos oceanos, no sobe e desce das marés, e
provoca a queda dos corpos.
Gradativamente
as “forças imateriais” que produziriam o movimento e a ordem do Universo foram
reconhecidas como “forças da gravidade”. As Leis divinas que mantêm a
regularidade dos fenômenos físicos foram substituídas por princípios matemáticos.
Os “mistérios” que sustentam a vida foram compreendidos como combustão do
oxigênio, fermentação dos alimentos ou metabolismo celular. Os “espíritos
animais” que transitam pelo corpo humano produzindo seus reflexos e movimentos
foram identificados quimicamente como neurotransmissores. A regularidade dos
acontecimentos foi violada pelo princípio da incerteza. O determinismo linear
de uma causa para cada efeito foi abalado pela casualidade circular em que o
padrão de resposta determina a intensidade da causa.
O paradoxo:
“ciência como religião” – dogmas, rituais, hierarquia, o sagrado e o profano
Historicamente
a Religião tem base na tradição cultural dos seus seguidores. Seu conteúdo, que
orienta o comportamento dos fiéis, está redigido em textos sagrados que
persistem inalterados por séculos. A linguagem aí empregada é quase sempre
simbólica, permitindo interpretações conflitantes. Daí a importância do
sacerdote e do sistema de hierarquia que os classifica. Entre esses sacerdotes
são distribuídas as regalias materiais e o poder divino que os pressupõem
representantes de Deus na Terra.
Por outro
lado, a construção do saber produzido pela ciência é uma conquista do esforço
individual ou de um grupo de pesquisadores. Seus textos, embora redigidos em linguagem
técnica, procuram ser o mais claro possível para compreensão dos interessados.
A verdade é procurada exaustivamente pela observação ou pela experimentação.
Textos escritos ou opiniões pronunciadas por personalidades hierarquicamente
destacadas têm importância relativa e, para serem aceitas, precisarão
submeter-se a comprovações realizadas por experimentadores independentes. O
conhecimento científico tem duração relativamente curta, costumam reunir-se em
um conjunto de proposições teóricas que constituem um paradigma e, de tempos em
tempos, os cientistas envolvem-se na tentativa de proporem novos e mais
adequados paradigmas.
A Ciência
não deixou de ocupar-se, também, com dilemas que sempre estiveram sob o domínio
das religiões. Ela tem, a seu modo, uma proposta para a origem do Universo e da
vida na Terra. É apropriado para a Ciência pesquisar o mecanismo que
desencadeia os fenômenos, como eles acontecem, mais do que tentar explicar por
que eles acontecem. Ela se ocupa minuciosamente com a causa da dor e muito
pouco com o porquê do sofrimento humano. A opção da Ciência é esclarecer, mais
do que consolar.
Já é aceito
por todos que para fazer ciência é preciso adotar o método científico.
Classicamente a pesquisa precisa estar enquadrada na liturgia do método. Usa-se
a dedução ou a indução; a observação ou a experimentação. Os fenômenos
estudados fornecem os elementos que, aplicados a raciocínios matemáticos,
fornecem o valor da verdade descoberta.
Algumas
proposições científicas já estão de tal forma comprovadas e aceitas que deverão
ter a duração eterna das verdades sagradas das religiões - a gravidade existe
como força de atração em todo universo - a energia tem valor inviolável, ela se
transforma, mas, não se cria nem se perde – o calor tende a se dispersar, assim
como toda energia do universo onde a tendência é o caos - a luz é um fenômeno
eletromagnético - a matéria visível em todo universo é da mesma natureza da
matéria existente na Terra - as moléculas de todas as substâncias estão em
constante movimento - a variedade das espécies se deve à evolução pela seleção
natural.
A Ciência
Espírita - Fundamentos teóricos, controle experimental, filosofia
espiritualista e conteúdo moral
O texto da
Doutrina Espírita teve início com as revelações transmitidas por Espíritos
desencarnados de natureza superior, com o propósito de esclarecerem e
orientarem a humanidade.
Os objetos
de estudo da Doutrina Espírita incluem o mundo espiritual, os seres que o
habitam, suas relações com o mundo material e as consequências dessa relação.
Para o
Espiritismo, a grandiosidade do Universo e as leis inteligentes que o governam
são provas suficientes para comprovarem a existência de Deus.
Deus é
criador de tudo que existe e sua criação é incessante. Na situação evolutiva em
que se encontra a humanidade, ainda não temos condições de compreender a origem
do Universo e da vida na Terra. O que se tem como certo é que Deus sempre criou
e sempre continuará criando.
Existem dois
elementos fundamentais no Universo, o espiritual e o material. O elemento
espiritual tem início como “princípio inteligente”. Essa “centelha espiritual”
transita do mundo espiritual ao mundo material, ocupando corpos que lhe
permitem evoluir na escala da vida inteligente na Terra. O Universo é
preenchido por um “fluido” de natureza sutil, com propriedades que ainda
escapam ao nosso entendimento. É dele que se origina toda a matéria conhecida.
As propriedades das substâncias só existem em função desse fluido, e pela sua
atuação essas propriedades podem sofrer as mais diversas alterações. A acidez
ou a alcalinidade é dada pela presença desse fluido e, por sua atuação, um copo
de água pode curar ou produzir malefícios.
Existe um
propósito divino na criação. Estamos todos destinados a caminhar pela extensa
fieira das existências, na Terra ou em outros mundos, buscando a condição de
Espíritos angélicos que um dia atingiremos.
Deus atua
por meio de Leis que a inteligência humana irá gradativamente descobrindo.
Estamos todos “mergulhados no pensamento de Deus” e nada que ocorre no Universo
escapa ao seu consentimento. Somos livres para agir e obrigados a arcar com as
consequências dos nossos atos. Cada um é responsável pelo seu próprio destino.
As Leis morais são pressentidas pela consciência de todos nós e, à medida que a
humanidade avançar na sua evolução, o Homem será cada vez mais consciente da
aplicação dessas Leis.
O mundo
espiritual está permanentemente em íntimo contato com o mundo material. Um e
outro processam trocas fluídicas entre si e exercem influência sobre o outro.
Essa interferência recíproca é tão intensa que não há como permanecer sem sua
convivência. Uma multidão de Espíritos desencarnados transita com cumplicidade
em todos os ambientes da Terra. Eles nos acompanham e nós os atraímos
compartilhando com eles nossa intimidade. Os pensamentos, que frequentemente
temos como sendo nossos, são, muitas vezes, o pensamento deles. Dentro das Leis
divinas está estabelecido que atraímos para nossa companhia aqueles com quem
sintonizamos os nossos propósitos. O bem atrai os bons e o mal convive com a
ignorância.
Por envolver o mundo espiritual e os Espíritos que aí habitam, não temos controle da comunicação espiritual, e os métodos da ciência humana, seu sistema de controle e experimentação não se aplicam à ciência do Espírito. Entretanto, alguns homens têm em sua constituição uma disposição especial que lhes permite entrar em contato lúcido com os Espíritos desencarnados. Trata-se do fenômeno da mediunidade, que se registra em todos os povos e em todas as épocas da humanidade. A mediunidade é o grande campo de experimentação em que a doutrina espírita se apoia para revelação e comprovação dos seus postulados. A expectativa futura é de que no decorrer dos séculos todos os homens possam estar conscientes do seu intercâmbio com o mundo espiritual. Os fenômenos mediúnicos explicam uma série de ocorrências frequentemente tidas como sobrenaturais ou produzidas por uma energia desconhecida. A transmissão do pensamento, a visão a distância, as premonições, a xenoglossia, a psicometria, a psicografia e a psicofonia são exemplos já bem estudados e esclarecidos pelo Espiritismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário