Por Rogério Coelho
*Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher
A antiguidade pagã fazia da mulher
um ser quase divino, a fada protetora, o gênio do lar, a custódia das fontes da
vida.
“As funções a que a mulher é
destinada pela Natureza terão importância tão grande quanto as deferidas ao
homem? “Sim, maior até. É ela quem lhe dá as primeiras noções da vida”. O Livro
dos Espíritos - q. 821
Desde as mais prístinas eras (a
começar no “Paraíso”, com Adão e Eva), falam as Escrituras das defecções
femininas, apontando as mulheres mais como um problema, como uma pedra no
sapato dos homens, levando-os, enfim à perdição, à desgraça, ao desequilíbrio...
Por esses e outros motivos preconceituosos, (ainda na atualidade), em muitos
paises orientais e mesmo ocidentais elas sofrem sérias e injustas
discriminações.
Nesse festival de absurdos
históricos e coerentes com a crença de que a mulher nasceu da costela de Adão,
as mais altas autoridades do catolicismo se reuniram no ano 585, no Concílio de
Mâcon, no qual deveria ser discutido se ela possuía ou não alma.
O resultado desse caldo cultural é
o prevalecimento da tradição e do espírito judaico no cristianismo, o que é uma
incoerência, visto que Jesus, em todas as circunstâncias outorgou às mulheres
honras e proteção, dirigindo-lhes as Suas mais tocantes parábolas e
estendendo-lhes sempre a mão, mesmo quando decaídas e infortunadas... Daí, impertérritas formaram as mulheres
numeroso cortejo assessorando-Lhe a missão, não se omitindo nem mesmo durante a
tragédia ignominiosa do Gólgota, quando até o seleto Colégio Apostólico O
abandonou...
Em 1919, o célebre e notável
escritor francês Léon Denis escreveu[1]: “(...) durante longos séculos a mulher
foi relegada para segundo plano, menosprezada, excluída do sacerdócio. Por uma
educação acanhada, pueril, supersticiosa, maniataram-na; suas mais belas
aptidões foram comprimidas, conculcado e obscurecido o seu caráter. Enfim,
(...) o catolicismo não compreendeu a mulher, a quem tanto devia. Seus monges e
padres, vivendo no celibato, longe da família, não poderiam apreciar o poder e
o encanto desse delicado ser, em quem enxergavam antes um perigo.
A antiguidade pagã teve sobre nós
a superioridade de conhecer e cultivar a alma feminina. Suas faculdades se
expandiam livremente nos mistérios. Sacerdotisa nos templos védicos.
Intimamente associada, no Egito, na Grécia, na Gália, às cerimônias do culto,
por toda a parte era a mulher objeto de uma iniciação, de um ensino especial,
que dela faziam um ser quase divino, a fada protetora, o gênio do lar, a
custódia das fontes da vida. A essa compreensão do papel que a mulher
desempenha, nela personificando a Natureza, com suas profundas intuições, suas
percepções sutis, suas adivinhações misteriosas, é que foi devida a beleza, a
força, a grandeza épica das raças gregas e céltica.
Porque, tal seja a mulher, tal é o
filho, tal será o homem... É a mulher que, desde o berço, modela a alma das
gerações. É ela que faz os heróis, os poetas, os artistas, cujos feitos e obras
fulguram através dos séculos...
(...) A situação da mulher, na
civilização contemporânea, é difícil, não raro dolorosa. Nem sempre a mulher tem por si os usos e as
leis; mil perigos a cercam, se ela fraqueja, se sucumbe, raramente se lhe
estende mão amiga. A corrupção dos costumes fez da mulher a vítima do século. A
miséria, as lágrimas, a prostituição, o suicídio - tal é o destino de grande
número dessas pobres criaturas em nossas sociedades opulentas.
Uma reação, porém, já se vai
operando: sob a denominação de feminismo, um certo movimento se acentua
legítimo em seu princípio, exagerado, entretanto, em seus intuitos; porque, ao
lado de justas reivindicações, enuncia propósitos que fariam da mulher, não
mais mulher, mas cópia, paródia do homem. (!?) O movimento feminista desconhece
o verdadeiro papel da mulher e tende a transviá-la de sua meta que lhe está
natural e normalmente traçada. O homem e a mulher nasceram para funções
diferentes, mas complementares. No ponto de vista da ação social, são
equivalentes e inseparáveis!
O moderno Espiritualismo, graças
às suas práticas e doutrinas, todas de ideal, de amor, de equidade, encara a
questão de modo diverso e resolve-a sem esforço e sem estardalhaço. Restitui à
mulher seu verdadeiro lugar na família e na obra social, indicando-lhe a
sublime função que lhe cabe desempenhar na educação e no adiantamento da
humanidade. Faz mais: reintegra-a em sua missão de mediadora predestinada,
verdadeiro traço de união que liga as sociedades da Terra às do Espaço.
A grande sensibilidade da mulher a
constitui médium por excelência, capaz de exprimir, de traduzir os pensamentos,
as emoções, os sofrimentos das almas, os altos ensinos dos Espíritos celestes.
Na aplicação de suas faculdades ela encontra profundas alegrias e uma fonte
viva de consolações. A feição religiosa do Espiritismo a atrai e lhe satisfaz
as aspirações do coração, as necessidades de ternura, que se estendem, para
além do túmulo, aos entes “desaparecidos”.
O perigo para ela, como para o homem, está no orgulho dos poderes
adquiridos, na suscetibilidade exagerada. O ciúme, suscitando rivalidades entre
médiuns, torna-se muitas vezes motivo de desagregação para os grupos. Daí a
necessidade de desenvolver na mulher, ao mesmo tempo em que os poderes intuitivos,
suas admiráveis qualidades morais, o esquecimento de si mesma, o júbilo do
sacrifício, numa palavra: o sentimento dos deveres e das responsabilidades
inerentes à sua missão mediatriz.
(...) Com o Espiritismo, ergue de
novo a mulher a inspirada fronte; vem associar-se intimamente à obra de
harmonia social, ao movimento geral das ideias. O corpo não é mais que uma
forma tomada por empréstimo; a essência da vida é o Espírito, e nesse ponto de
vista o homem e a mulher são favorecidos por igual. Assim, o Espiritismo
restabelece o mesmo critério dos celtas, nossos pais; firma a igualdade dos
sexos sobre a identidade da natureza psíquica e o caráter imperecível do ser
humano, e a ambos assegura posição idêntica nas agremiações de estudo.
Pelo Espiritismo se subtrai a
mulher ao vértice dos sentidos e ascende à vida superior. Sua alma se ilumina
de clarão mais puro; seu coração se torna o foco irradiador de ternos
sentimentos e nobilíssimas paixões. Ela reassume no lar a encantadora missão
que lhe pertence, feita de dedicação e piedade, seu importante e divino papel
de mãe, de irmã e educadora, sua nobre e doce função persuasiva.
Cessa, desde então, a luta entre
os dois sexos. As duas metades da humanidade se aliam e equilibram no amor,
para cooperarem juntas no plano providencial, nas obras da Divina
Inteligência”.
[1] - DENIS, Léon. No invisível. 19.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2000, cap. VII – 1ª parte.
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