Por Rogério Coelho
O homem virtuoso é aquele que faz
do bem uma necessidade imprescindível
Ninguém é conscientemente mau. A
maldade anda de mãos dadas com a ignorância; daí Jesus dizer (2) que o
conhecimento da verdade libertar-nos-á do espólio de nosso passado de equívocos,
alcandorando-nos às regiões superiores da sabedoria e do amor, o que, em última
análise significa nossa alforria espiritual. Assim, para mais rapidamente
alcançarmos esse desiderato, necessário se faz a desafiante conquista da
virtude.
Realmente é um grande desafio a
erradicação das idiossincrasias do “homem-velho” recobertas pela pátina dos
séculos…
Ensina François-Nicole-Madeleine
(3) que “(…) a virtude no mais alto grau, é o conjunto de todas as qualidades
essenciais que constituem o homem de bem. Ser bom, caritativo, laborioso,
sóbrio, modesto, são qualidades do homem virtuoso. Infelizmente, quase sempre
as acompanham pequenas enfermidades morais que as desornam e atenuam. Não é
virtuoso aquele que faz ostentação da sua virtude, pois que lhe falta a
qualidade principal: a modéstia, e tem o vício que se lhe opõe: o orgulho."
Aquele que encontra prazer em
realizar atos de virtude, integra-se a ela incorporando-a ao seu
“modus-operandi”.
Com amplo descortino intelectual
narra Quintín (1): “(…) o homem adquire
a virtude com o esforço dirigido ao bem que o inspira e, insistindo em
praticá-la, conforma a sua vida aos seus ditames. Para conseguir essa disposição é
imprescindível adquirir o conhecimento do Bem; quer dizer que o homem saiba o
valor moral de seus atos, de acordo com as leis morais.
Assim, a tendência ao bem é o
primeiro passo para a virtude. Sua realização se transforma em experiência
estimuladora; porém, só é virtude quando se constitui em um hábito natural,
consciente e prazeroso. O motivador da
virtude e seu alimento é o amor ao bem, como afirmava Aristóteles, que “o homem
virtuoso é aquele que faz do bem uma necessidade imprescindível, que põe sua
felicidade no bem”.
A virtude é o resultado da ação
consciente, iluminada pela inteligência e resultante de uma vontade determinada
a fazer sempre o bem e amparada pelo sentimento que lhe propicia cooperação
para seu cumprimento; ela é a conquista mais desafiante para o homem que deve
empenhar-se em consegui-la; ela propicia, à vida, nobreza e dignidade, trocando
as asperezas do processo evolutivo e facultando alegrias ao superá-las.
Santo Agostinho, que a adquiriu
com grande esforço e perseverança, repassando mentalmente – antes de dormir –
todos os seus atos para verificar em quais deles não fora correto e poder
corrigi-los no dia seguinte ensinava: “virtude é a boa qualidade do ânimo, pelo
qual se vive bem e a qual ninguém usa mal”.
Assim, o homem se inclina, moralmente, a uma constante ação do bem, que
lhe faz bem através das boas ações.
(…) Quando o homem apresenta más
ações, certamente está enfermo, fora de sua razão, visto que há, em todos os
seres pensantes, uma tendência inata para o bem, porque todos possuem, em seu
íntimo, a presença do Psiquismo Divino. O maior inimigo da virtude é o vício ou
disposição para fazer o mal; este resulta dos apetites grosseiros da
personalidade com seus consequentes danos morais.
A arte, a ciência e a tecnologia
facilitam e embelezam a vida, mas somente a aquisição da virtude moral proporciona
ao homem, equilíbrio, autocontrole, feliz intercâmbio com seus semelhantes e
com tudo o que o rodeia, transformando-se na mais alta realização pessoal. Das virtudes cardinais bem vividas, nascem a
fé, a esperança e a caridade, sem as quais o indivíduo não se encontra com seu
próprio eu. Dessas surgem a humildade, o perdão, a paciência, a abnegação, a
renúncia, a beneficência… Diante de todas, para o perfeito êxito, impõe-se a
humildade. Sem esta as outras enfraquecem
e perdem seu valor.
O orgulho, a vaidade e a presunção
constituem vícios que impedem o desenvolvimento e a grandeza da virtude.
A ética espírita, examinando as
virtudes essenciais para o homem, fiel ao pensamento cristão e paulino,
estabelece que a caridade ou ação do bem por amor ao bem em favor de alguém,
com conhecimento do bem é, por excelência, a base mais importante para a
conquista de outros relevantes valores morais”.
Referências:
(1) FRANCO, Divaldo. Rumo às Estrelas. Araras: IDE, 1992, pelo Espírito Quintín López Gómez. cap. 2;
(2) BÍBLIA, N.T. João. Português. O novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1983, cap. 8, vers.; e
(3) KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2009, cap. XVII, item 8.
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