Por Louis Neilmoris
E qual o formato do Cristianismo
segundo o Espiritismo?
Sendo de uma nova ordem de
concepções, a Doutrina Espírita precisou se servir de novos verbetes
para configurar suas proposições. Assim foi que o codificador criou termos
como espiritismo,
espírita, perispírito, mediunidade e distinguiu espírito de Espírito. Entretanto, para não
gerar mais conflitos e confusões, Allan Kardec eximiu-se de engendrar
novas derivações para outros termos complexos, tais como
alma, religião
e cristianismo —
se bem o
poderia ter feito.
O fato é que para a Doutrina dos
Espíritos alma,
religião, cristianismo e outros vocábulos tradicionais
não estão mais bem configurados para os efeitos modernos do Espiritismo.
Por isso, é impossível se responder se sua filosofia é ou não uma religião
apenas com um sim ou um
não. É que precisaríamos
discorrer sobre a acepção de religião, para não há mais comum
acordo acerca do seu significado concreto e definitivo.
De igual maneira, para atestarmos que
o Espiritismo é compatível com a Doutrina do Cristo, precisaríamos
nominá-la com outro termo, uma vez que o empregado vulgarmente —
cristianismo —
não é
condizente com o formato que os espíritas entendem como apropriado para se
referir verdadeiramente ao modelo cristão.
Isso é importante para evitar
ambiguidade. Pegue-se o exemplo do que ocorreu à época de Kardec: a
série de manifestações espirituais do Século XIX desencadeou um surto de
denominações filosóficas e religiosas agrupadas numa expressão comum: Moderno
Espiritualismo,
ou Neoespiritualismo. Ao inaugurar seus estudos acerca daqueles fenômenos,
o mestre lionês cuidou de especificar o seu ramo particular com um novo
rótulo, a fim de que ficasse bem definido. Foi então que o denominou espiritismo. E na introdução de O LIVRO DOS ESPÍRITOS
ele
bem determina que a ciência que criara era também espiritualista, como
aquelas outras doutrinas similares, mas que, especificando o gênero
espírita, automaticamente demarcava um escopo bem traçado, de modo que
apartava os demais espiritualistas dos espíritas:
Para
designar coisas novas são necessárias palavras novas. Assim exige a boa compreensão,
para evitar a confusão que ocorre as palavras têm vários sentidos. Os termos:
espiritual, espiritualista, espiritualismo têm uma definição bem definida, e
acrescentar a eles nova significação, para aplicá-los à Doutrina dos
Espíritos, seria multiplicar os casos de numerosas palavras com muitos
significados. De fato, o Espiritualismo é o oposto do materialismo.
Aquele que acredita haver em si alguma coisa além da matéria é espiritualista.
Entretanto,
isso não quer dizer que creia na existência dos Espíritos ou em suas
comunicações com o mundo visível. Em vez das palavras espiritual,
espiritualismo, nós usamos, para indicar a crença nos seres espirituais,
os termos espírita e Espiritismo, cuja forma lembra a origem e o sentido
da raiz da palavra e que, por isso mesmo, apresentam a vantagem de ser perfeitamente
compreensíveis, deixando ao
vocábulo espiritualismo a
significação que lhe é
própria.
Diremos,
pois, que a doutrina espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do
mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos
do Espiritismo serão os espíritas, ou, se quiserem, os espiritistas.
Voltando à questão da definição da
mensagem do Cristo — para
medirmos a participação do Espiritismo nessa crença
—, vamos brincar de Kardec: vamos rejeitar o termo
cristianismo, pois o modo como ele tem sido empregado pela tradição não
figura a Boa Nova de Jesus.
A seguir, vamos denominar a doutrina cristã
como Cristonismo.
Portanto, o Cristonismo é a doutrina
fundamentada no ensino do Cristo nos moldes
defendidos pelos espíritas. Avançando na brincadeira, até
acrescentaríamos que os seguidores dessa nossa doutrina seriam chamados de
cristianistas.
Em prosseguindo nossa tesa —
e o mais
importante —, carecemos conceituar os fundamentos do Cristonismo, ou seja, a
visão espírita da
mensagem do Cristo; o que é ser verdadeiramente cristão, ou Cristianista. E
onde mais poderíamos buscar a definição senão no próprio idealizador dessa
Boa Nova? Vamos beber da fonte de Jesus, segundo as seguintes passagens bíblicas:
Os
fariseus, tendo sabido que Jesus tapara a boca aos saduceus, reuniram-se; e um
deles, que era doutor da lei, propôs-lhe esta questão para tentá-lo: “Mestre, qual o
mandamento maior da lei?” Ele respondeu: “Ame o Senhor teu Deus de
todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito; este o
maior e o primeiro mandamento. e aqui está o segundo, semelhante a esse:
ame o teu próximo, como a ti mesmo. Toda a lei e os profetas se acham contidos
nesses dois mandamentos”. (MATEUS,
22: 34 a 40)
“Façam
aos homens tudo o que querem que eles façam a vocês, pois é nisto que consistem
a lei e os profetas”.
Jesus (Idem,
7:12)
“Tratem
todos os homens como gostariam que eles os tratassem”.
E havendo
qualquer dúvida interpretativa sobre estas máximas, poder-se-ia recorrer imediatamente
a O EVANGELHO SEGUNDO ESPIRITISMO, capítulo XI - “Amar o próximo como a si mesmo”.
O modelo
espírita lê a mensagem de Jesus sem misticismos, sem ritualismo e sem
burocracia.
Não mais as
exigências litúrgicas e nem cultos externos. O procedimento é simples: sempre praticar
a caridade para com tudo e com todos. Isto resume tudo.
Esta
simplicidade passa longe do formalismo das religiões tradicionais, portanto,
diferenciando-se do convencional Cristianismo.
Mas não é de
nossa pretensão estabelecer novos termos. Então, esqueçamos os artifícios
anteriores e passemos a concluir a peleja mediante o que se nos apresenta tal
como é:
A Doutrina Espírita é sim cristã, considerando a mais pura proposta de Jesus que é a de amor a Deus e caridade ao próximo, pelos mesmos critérios que gostaríamos que fôssemos tratados por todos. Quem proceder fora dessa conceituação é que se diferencia do autêntico Cristianismo.
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