terça-feira, 27 de novembro de 2012

Um outro Lugar no Mundo

Foi-se uma década. A primeira do século 21, com uma coleção de problemas e alguns avanços. A humanidade sofre com várias coisas: a fome de pelo menos um quinto da população, as catástrofes climáticas, as guerras, a má distribuição das riquezas, o desemprego em muitos países, as novas formas de violência que se espalham pelo mundo, como o bullying; países que retomam métodos fascistas de governar, intolerância, xenofobia, preconceitos, mau gosto estético e artístico…

Como se não bastassem os macro problemas, cada indivíduo carrega sua cota de dores e dificuldades, independentemente do quanto carrega no bolso. O sofrimento é bem democrático e não escolhe ricos ou pobres, homens ou mulheres, jovens ou idosos, embora varie de forma. Alguns se escondem em fortificações que já foram casas. Outros se refugiam nas drogas lícitas ou ilícitas. Outros e outras, muitos, se entregam a uma alienação voluntária e confortável, lavando as mãos como se nada lhes dissesse respeito. Puro engano!

Crise é a palavra mais usada para definir os problemas que assolam o coletivo e o individual. As manifestações dessa crise de humanidade, e ao mesmo tempo existencial, vão dos homicídios aos suicídios. Essencialmente a crise é individual, mas o coletivo influencia, já que somos em parte fruto do ambiente em que vivemos. Se uma sociedade adoece porque seus valores se esgotaram, os indivíduos passam a adoecer também.

Certamente a crise mais profunda é de ordem espiritual. As conexões com as forças superiores e com a própria natureza se enfraqueceram ao longo do século passado. O materialismo foi sendo substituído, lentamente, pelo ateísmo. “Se Auschwitz-Birke-nau existiu, Deus não existe”, disse Primo Levi no livro A trégua. Tantos horrores ao longo das últimas décadas lançaram o ser humano num vazio existencial. Falta perspectiva quanto ao futuro. A quantidade de crenças e crendices que não solucionam sua tristeza lança o ser humano numa busca incessante por algo que dê sentido e propósito à sua existência.

Vivemos numa época em que a abundância de coisas que nos são oferecidas como panaceias é imensa. Das dietas milagrosas à prosperidade infinita devida a um Deus estranhamente envolvido com as questões mundanas. Ser rico e saudável aqui e agora se tornou a finalidade da existência para muitos desesperados e desorientados. Pagam caro por esses “produtos”: juventude e beleza, e levam um contrato com Deus de brinde!

“Deus é fiel”, “Presente de Deus”, “Guiado por Deus”,… são algumas das frases coladas nos para-brisas de carros por todo canto do país. Mas esse Deus que se presta a conviver com as pessoas na condição de um mercador comum, perde muito de sua influência, força e poder de fortalecer a quem precisa nos momentos mais difíceis. Afinal, ele, Deus, também está pronto para consumo!

Mas existem aqueles e aquelas que se perguntam: isso está certo? Será o melhor caminho para percorrer no mundo? Deus é assim mesmo? Tenho que pagar pelo meu lugar no Céu? Deus é pai de alguns e não pai de todos?

Essas pessoas estão na fronteira de grandes descobertas de natureza espiritual, pois já se permitem duvidar e perguntar. Mais um passo e passam para o campo da verdadeira busca, que ainda é, como sempre foi, mais de natureza subjetiva do que objetiva. Inicia-se uma longa jornada ao fundo do ego. Quem sou eu? O que faço na vida? Qual o propósito da existência?

Com algum esforço e método, as respostas vão chegando. Descobre-se um ser imortal. Aprende que existem alguns caminhos melhores que outros, e que todos têm que fazer escolhas e estabelecer metas, além de sair da mentalidade de rebanho. Essencialmente, percebe que o principal propósito da existência é contribuir de forma positiva com o seu entorno, de acordo com suas possibilidades. Servir.

Aos poucos descobre também que essa nova rota existencial é bastante solitária, mesmo em meio à multidão. Mas a troca vale a pena!

Sair da mundanidade e percorrer um novo caminho, pagando o preço que ainda é o mesmo, vale repetir: o desprezo de uns, o sarcasmo de outros.


Paulo R. Santos

Jornal “O Espírita Fluminense”, Instituto Espírita Bezerra de Menezes – IEBM – Niterói – RJ

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