quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Vivência Existencial


Por Fernanda Leite Bião

Ao renascermos, somos pequeninos e desajeitados. Sem o auxílio do outro, ficamos à mercê da provável extinção das forças físicas.

Embora Espíritos milenares, renascemos em condição de aprendizes de todo tipo de condição humana, dentro de um momento histórico, em torno de uma rede social, nossa família de base, e vinculada a nós pelas experiências anteriores.

O que sei ao voltar a um corpinho de matéria densa como o organismo terreno?

Começamos uma nova caminhada, diante de desafios e incertezas, expectativas e esperanças, tendências e probabilidades, velhos e novos aprendizados, de acordo com nossas potencialidades, possibilidades, necessidades e força de vontade.

No campo dos sentimentos, somos ainda sementinhas.

Os primeiros toques, dos pais e cuidadores, além de transmitirem uma energia muito gostosa e sutil, vêm carregados de gestos, de toques e olhares, que serão as nossas primeiras diretrizes, na condição de encarnados, as primeiras lições da alma de volta ao estágio terreno.

Você já reparou como são atentos os olhinhos das crianças, que nada perdem, nada deixam passar em branco, querendo tudo aprender? O sorriso expressando alegria, lágrimas, que podem ser de dor, cansaço ou teimosia. Carinha feia pode ser um não. Carinha feliz, barriga cheia.

Existem tantas possibilidades de aprender a sentir, a se manifestar.

Daí a importância de sermos mais do que reprodutores de crenças, valores e atos. Temos de ensinar, educar nossos semelhantes.

É possível mudar a si mesmo. Um condicionamento adquirido pode ser modificado por um novo aprendizado, desde que haja motivação para tanto.

Motivação: ação que me motiva. Qual é a sua?

Repare que estamos falando de autoconhecimento, da relação com o outro, de dar e receber, da manifestação de existir. Conhecer a si mesmo, sendo-aí-no-mundo-com-o-outro. Coexistir, para autodescobrir.

Lembremos da máxima de nosso querido Mestre Jesus: “Ama ao próximo como a ti mesmo e a Deus sobre todas as coisas”.

Ama, amar – ação de desenvolvimento do amor. Não está pronto nem acabado, não existe fórmula perfeita ou única, é um verbo que transmite o movimento constante da habilidade de amar.

O amor pode ter várias formas de se expressar, mas o verbo fala de uma ação que envolve sempre um ou mais sujeitos. Nós, eu, você, eles, todos, quem sabe? Próximo, posso ser eu, pode ser você, pode ser a natureza. Todos e qualquer um pode ser o seu próximo. Jesus não nomeou nada nem ninguém em especial.

Amar o próximo – movimento de transcender ao outro, de se abrir ao outro, de sentir o outro e de possibilitar o outro a nos sentir.

O outro é um mundo à parte de você e, ao mesmo tempo, em diálogo com você. Mesmo que o outro conviva ao seu lado, é alguém diferente, alguém que, muitas vezes, interpretou e interpreta sons, gestos e sentimentos de forma diferente da sua, mas que está em movimento, tanto quanto você.

É preciso compreender. Compreender toda a energia que pulsa vida, que poderemos nomear Deus, Criador, Senhor, Amor.

Compreender que tudo e todos estão revestidos dessa energia-possibilidade que só conhecemos por meio da convivência.

Viver – relacionar-se com o mundo, mundo que é sentido, para conhecer. Conhecimento de si, conhecimento do outro. Momento de diálogo, que traz o germe do aprendizado de habilidades necessárias para evoluir.

Nomes variados atribuímos ao montante de sentimentos, emoções, pensamentos e energias que precisamos combinar para organizar nossa vida como seres.

Importante se reconhecer em tudo isso.

Mais que olhar só para fora, aprenda a olhar, também, para dentro de si.

A comunhão do ser está na possibilidade de diálogo entre o velho e o novo, entre o hoje e o amanhã, entre o que sei do amor e o que vou aprender com o amor e sobre amar.

A comunhão do ser consigo mesmo atravessa a relação tríade eu-tu-eterno. Você-próximo-Deus.

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