quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Reencarnação


Por Sérgio Biagi Gregório

1) Qual o conceito de reencarnação? É possível separar encarnação de reencarnação?

Reencarnação (re + encarnação) significa voltar a entrar na carne. A reencarnação é a volta do Espírito à vida corpórea, mas em outro corpo especialmente formado para ele e que nada tem de comum com o antigo. Pode-se falar também que é a doutrina da pluralidade e da unidade das existências corpóreas, isto é, do nascimento ou renascimento de Espíritos tanto na esfera terrena como na de outros planetas.

A diferença entre encarnação e reencarnação, caso fosse necessária, seria esta: a encarnação é ato de o Espírito tomar a carne; a reencarnação, a doutrina do fato.

Rigorosamente, a encarnação seria a primeira encarnação do Espírito; a reencarnação, a segunda. E, pelo fato da partícula Re haver perdido a sua força reduplicativa, significaria os demais nascimentos. (Paula, 1976)

Observação: Allan Kardec emprega os termos encarnação e reencarnação como sinônimos.

2) As plantas reencarnam? E os animais?

Reencarnação é a volta do Espírito em um novo corpo. As plantas não têm consciência de si, elas não pensam, não têm mais do que a vida orgânica. Elas não têm um Espírito, por conseguinte, não há razão para empregarmos o termo reencarnação quando nos referirmos a elas.

Os animais, ao contrário, possuem um princípio espiritual, que tem individualidade e sobrevive ao corpo. Mesmo não tendo consciência de si, podemos usar o termo reencarnação, pois essa individualidade, em atendimento à lei de evolução, pode tomar outros corpos.

Pergunta 597. Pois se os animais têm uma inteligência que lhes dá certa liberdade de ação, há neles um princípio independente da matéria?
— Sim, e que sobrevive ao corpo.
Pergunta 597A. Esse princípio é uma alma semelhante à do homem?
— É também uma alma, se o quiserdes; isso depende do sentido em que se tome a palavra; mas é inferior à do homem. Há, entre a alma dos animais e a do homem tanta distância quanto entre a alma do homem e Deus. (Kardec, 1995)

3) Podemos reencarnar em outros mundos? O que acontece com o perispírito?

Sim. Baseando-nos na teoria da pluralidade das existências e dos mundos habitados, o Espírito pode reencarnar em qualquer um desses mundos. Emigrando da Terra, o Espírito deixa aí o seu invólucro fluídico (perispírito) e forma outro apropriado ao mundo onde vai habitar.

Pergunta 187. A substância do perispírito é a mesma em todos os globos?
— Não; é mais eterizada em uns do que em outros. Ao passar de um para outro mundo, o Espírito se reveste da matéria própria de cada um, com mais rapidez que o relâmpago. (Kardec, 1995)

4) Qual o limite da encarnação?

O limite da encarnação é a perfeição do Espírito. Enquanto não o conseguir, fará tantas encarnações quantas forem necessárias, pois a benevolência de Deus é infinita. Importa-nos aproveitar bem esta encarnação.

Pergunta 186. Há mundos em que o Espírito, deixando de viver num corpo material, só tem por envoltório o perispírito?
— Sim, e esse envoltório torna-se de tal maneira etéreo que para vós é como se não existisse; eis então o estado de Espíritos puros.
Pergunta 186A. Parece resultar daí que não existe uma demarcação precisa entre o estado das últimas encarnações e o do Espírito puro?
— Essa demarcação não existe. A diferença se dilui pouco a pouco e se torna insensível, como a noite se dilui ante as primeiras claridades do dia. (Kardec, 1995)

5) Quais são os objetivos da encarnação dos Espíritos?

1) Expiação — Expiar significa remir, resgatar, pagar. A expiação, em sentido restrito consiste em o homem sofrer aquilo que fez os outros sofrerem, abrangendo sofrimentos físicos e morais, seja na vida corporal, seja na vida espiritual.

2) Prova — Em sentido amplo, cada nova existência corporal é uma prova para o Espírito. A prova, às vezes, confunde-se com a expiação, mas nem todo sofrimento é indício de uma determinada falta. Trata-se frequentemente de simples provas escolhidas pelo espírito para acabar a sua purificação e acelerar o seu adiantamento. Assim, a expiação serve sempre de prova, mas a prova nem sempre é uma expiação.

3) Missão — A missão é uma tarefa a ser cumprida pelo Espírito encarnado. Em sentido particular, cada Espírito desempenha tarefas especiais numa ou noutra encarnação, neste ou naquele mundo. Há, assim, a missão dos pais, dos filhos, dos políticos etc.

4) Cooperação na Obra do Criador — Através do trabalho, os homens colaboram com os demais Espíritos na obra da criação.

5) Ajudar a Desenvolver a Inteligência — a necessidade de progresso impele o Espírito às pesquisas científicas. Com isso a sua inteligência se desenvolve, sua moral se depura. É assim que o homem passa da selvageria à civilização.

6) Há diferença entre reencarnação e palingenesia?

A palavra palin significa "novamente", "outra vez", "de volta". Palingenesia é o suposto regresso à vida, depois da morte real ou aparente. A palingenesia – não é apenas reencarnação –, pois não se aplica somente à vida orgânica. Em O Livro dos Espíritos, há uma constante afirmação de que tudo se encadeia no Universo.

Final da pergunta 540 — "É assim que tudo serve, tudo se encadeia no Universo, desde o átomo primitivo até o Arcanjo, pois ele mesmo começou pelo átomo". (Kardec, 1995)
A reencarnação, por seu turno, refere-se à vida orgânica, principalmente a vida humana.

7) É possível provar a reencarnação de um Espírito? Como?

Sim. O Dr. Ian Stevenson, diretor do Departamento de Psiquiatria e Neurologia da Escola de Medicina da Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos da América, catalogou mais de 2.000 casos, principalmente de crianças, que espontaneamente manifestavam as suas recordações. Tomou, contudo, o cuidado de enfatizar que eram "casos sugestivos de reencarnação" e não a reencarnação propriamente dita. Tendo em mãos o relato das recordações, partia para as pesquisas em cartório de registros civis, jornais e pessoas que tinham convido com esse Espírito numa encarnação passada. (Stevenson, 1971)

8) Como interpretar a frase: "Aquele que não nascer de novo não pode ver o reino de Deus"?

Esta frase comporta duas posições:

1.ª) Refere-se à reencarnação, pois quem não nascer de novo (entrar em outro corpo) não pode ver o reino de Deus. Ou seja, há necessidade de várias encarnações para podermos acrisolar o nosso espírito imortal.

2.ª) "Nascer de novo" pode referir-se à mudança comportamental, em que somente adquirindo novos hábitos de conduta, podemos vislumbrar um outro mundo, o mundo espiritual.

9) A partir de quando o cristianismo deixou dar crédito à reencarnação?

Até o Concílio de Nicéia, em 325, quando o imperador Constantino esforçou-se por fazer condenar esta crença, pois tinha muitos pecados na consciência, a reencarnação era norma vigente. São Justino fala, inclusive, que "a alma habita mais de uma vez um corpo humano".

Só em 543, no V Concílio Ecumênico de Constantinopla, sob a pressão do imperador Justiniano, é que o anátema foi lançado pela Igreja, sobre um certo número de proposições de Orígenes acerca da reencarnação: "as almas podiam voltar à Terra por cansaço da contemplação divina ou esfriamento do amor de Deus, e que eram reenviadas para os corpos como castigo". O reencarnar por amor ao próximo não foi excluído. (Crolard, 1979)

10) A reencarnação é um dos princípios fundamentais do Espiritismo? Por quê?

Se Deus não existisse, teríamos de criá-lo. Do mesmo modo, se a reencarnação não existisse, teríamos de inventá-la. Sem a reencarnação, como poderíamos responder às seguintes questões: Por que uns nascem sãos e outros doentes? Por que uns são inteligentes e outros ignorantes? Por que uns são ricos e outros pobres?

Bibliografia Consultada

CROLARD, Jean-Francis. Renascer Após a Morte. Tradução de Antonio Manuel de Almeida Gonçalves. _____: Europa-América, 1979 (?)
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed. São Paulo: Feesp, 1995.
PAULA, J. T. Dicionário Enciclopédico Ilustrado de Espiritismo, Metapsíquica e Parapsicologia. 3. ed. São Paulo: Bels, 1976.
STEVENSON, I. 20 Casos Sugestivos de Reencarnação. São Paulo, Difusora Cultural, 1971.
São Paulo, abril de 2008

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