quarta-feira, 7 de junho de 2017

Deus e o Infinito



A questão Deus sempre empolgou o homem na história do pensamento, tornando-se o centro natural de todo o processo de conhecimento. É assim que O Livro dos Espíritos inicia-se o conceito de Deus. Tal tema é de suma importância, pois da compreensão clara da existência de Deus depende nossa apreensão da realidade, assim como a forma de pautar nossa existência.

Que é Deus? (LE, perg. 1) Ao que respondem os Espíritos: Deus é a Inteligência Suprema, causa primária de todas as coisas. Vê-se assim que a Doutrina Espírita define Deus a partir do princípio da causalidade, segundo o qual Deus constitui o fundamento que torna possível o mundo e os seres. A partir desse conceito, Deus deixa de ser tão somente uma questão de fé, para revelar-se de forma racional, na Inteligência que rege as formas da natureza.

Ao buscar definir Deus, porém, é muito comum ao entendimento humano associá-lo à visão de algo que lhe permanece desconhecido, e portanto, à noção de infinito. No entanto, esclarecem os Espíritos que Deus não é o infinito, pois, definir Deus como sendo o infinito, é tomar o atributo de uma coisa por ela mesma, definir uma coisa ainda não conhecida, por outra que também não o é (LE, perg.3).

A) PROVAS E ATRIBUTOS DA DIVINDADE – PANTEÍSMO

PROVAS:

NÃO HÁ EFEITO SEM CAUSA (LE, perg. 4)
A Doutrina Espírita fundamenta a concepção de Deus a partir do axioma: Não há efeito inteligente sem causa inteligente, e à grandeza do efeito corresponde a grandeza da causa (LE, Prolegômenos). O universo mostra-se organizado inteligentemente em todas as suas dimensões. Seria absurdo supor que a inteligência da estrutura universal fosse resultado de um simples acaso.

UNIVERSALIDADE DO SENTIMENTO INTUITIVO DE DEUS
Poder-se-ia pensar que o conceito de Deus fosse uma questão relativa à cultura dos homens, ou seja, o efeito da educação ou produto de ideias adquiridas. No entanto, se o sentimento da existência de um ser supremo não fosse mais que o produto de um ensinamento, não será universal, nem existiria, como as noções científicas, senão entre os que tivessem podido receber esse ensinamento (LE, perg. 6).

A ORDEM DO UNIVERSO:
A Inteligência de Deus revela-se como uma tendência à ordem e harmonia no universo material, e a uma tendência moralizante no universo espiritual. A harmonia que regula as forças do Universo revela combinações e fins determinados, e por isso um poder inteligente. Atribuir a formação primária ao acaso, seria uma falta de senso, porque o acaso é cego e não pode produzir efeitos inteligentes. Um acaso inteligente já não seria acaso (LE, perg.8).

ATRIBUTOS:

DEUS É ETERNO: Por eterno entende-se aquilo que não tem começo nem fim. Se Deus tivesse tido um princípio, teria saído do nada; ora, o nada não existe. Por outro lado, se tivesse sido criado por outro ser, então este último é que seria Deus.

É IMUTÁVEL: Se estivesse sujeito a mudanças, as leis que regem o Universo não teriam nenhuma estabilidade (LE, perg. 13).

É IMATERIAL: Sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria, pois de outra forma Ele não seria imutável, estando sujeito às transformações da matéria (LE, perg. 13).

É ÚNICO: Se houvesse muitos Deuses, não haveria unidade de vistas nem de poder na organização do Universo (LE, perg. 13)

É TODO-PODEROSO: Se não tivesse o poder soberano, haveria alguma coisa mais poderosa ou tão poderosa quanto Ele, que assim não teria feito todas as coisas. E aquelas que Ele não tivesse feito, seriam obra de um outro Deus. E então não seria único (LE, perg. 13).

É SOBERANAMENTE JUSTO E BOM: Sua sabedoria revela-se pela natureza de suas leis de amor, que regem a justiça por todo o Universo (LE,perg. 13).

PANTEÍSMO:

Deus define-se, portanto, especificamente pelas suas qualificações, e a prova de sua existência está no princípio da causalidade, segundo o qual Deus é o fundamento primário que torna possível o Universo e os seres. No entanto, não se deve por isso compartilhar da opinião de que todos os seres e corpos do Universo seriam partes da divindade, tal qual afirma o Panteísmo.

O Panteísmo (Pan=tudo, teo=Deus), entende-se o sistema filosófico que identifica a divindade com o mundo, e segundo o qual Deus é o conjunto de tudo quanto existe. Mas, ao confundir o Criador com as criaturas ter-se-ia uma concepção materialista, onde Deus e matéria identificar-se-iam. Ora, a matéria se transformando sem cessar, Deus nesse caso, não teria nenhuma estabilidade e estaria sujeito a todas as vicissitudes e mesmo a todas as necessidades da humanidade; faltar-lhe-ia um dos atributos essenciais da Divindade: a imutabilidade (LE, perg. 16). Deus não é o Universo, mas nele permanece em suas leis imutáveis que lhe conferem ordem e harmonia.

A inteligência de Deus se revela nas suas obras, como a de um pintor no seu quadro; mas as obras de Deus não são o próprio Deus, como o quadro não é o pintor que o concebeu e executa (LE, perg. 16). Consequentemente, o pintor e o quadro não se confundem, mas permanece a ideia do autor enquanto sendo a essência do quadro; da mesma forma Deus e a criação não se confundem, mas permanece a inteligência como sendo a própria essência, geradora e mantenedora da obra.

B) O MAIOR MANDAMENTO

Certa feita reuniram-se os fariseus, e um deles, doutor da lei, fez a Jesus a seguinte pergunta para prová-lo: Mestre, qual é o maior mandamento da lei? Respondeu Jesus: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito”. Este é o maior e primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este é: ”Amarás teu próximo como a ti mesmo”. Nesses dois mandamentos se reúnem toda a lei e os profetas (MT 22:34-40).

Quando Jesus exorta-nos a esse imperativo moral, ele propõe aos homens a vivência do amor, pois este consiste na expressão da natureza divina, assim como a natureza originária que caracteriza a alma humana. O amor permanece, assim, como sendo a essência divina, ou seja, o liame que liga os homens entre si e com Deus. Efetivamente, esse primeiro mandamento está necessariamente vinculado ao segundo, visto que não se pode amar a Deus sem amar aos homens, nem amar aos homens sem amar a Deus.

Toda busca do ser humano consiste em chegar a Deus, o qual converte-se em objeto de conhecimento e de adoração. Amar a Deus é uma lei natural haja visto a universalidade do sentimento divino, inerente a todo ser humano. Essa ligação, porém, dá-se em pensamento, em sentimento, através da prece, da adoração e da doação de si. O amor a Deus, porém, não ao se restringe a um determinado templo ou altar, mas antes consiste em uma vivência interior, que se dá na intimidade de cada indivíduo. É assim que, certa feita, uma samaritana interpela Jesus: Nossos pais adoravam neste monte, mas vós dizeis que é em Jerusalém que se deve orar. Ao que Jesus respondeu: Não adorareis o Pai neste monte, nem em Jerusalém. Vós adorais quem não conheceis, nós adoramos o que conhecemos (...) Mas, vem a hora, e já chegou, quando os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e verdade (Jô 4:20-25).

Adorar em espírito consiste em uma ligação interior com Deus a partir de uma consciência espiritualizada. No entanto, a adoração sem conhecimento acaba por ser uma relação abstrata, algo misterioso e, portanto, não vivenciado plenamente. A verdadeira adoração é aquela que busca a identificação com Deus em essência, pela consciência dessa essência divina em si mesmo – e no próximo.

“Amar ao próximo como a si mesmo significa fazer aos outros o que quereríamos que nos fizessem”, eis a expressão mais completa da caridade, porque ela resume todos os deveres para com o próximo. Não se pode ter, neste caso, guia mais seguro do que tomando como medida do que se deve fazer aos outros, o que se deseja para si mesmo (ESE-Cap. XI, item 4). Com esta máxima, Jesus ensina-nos a virtual fusão dos seres entre si em um sentimento universal, induzindo os homens, assim, à superação do egoísmo, do personalismo, os maiores entraves ao progresso do Espírito.

Amar a Deus consiste em submeter-se às Suas leis, atendendo, ao mesmo tempo, ao imperativo da prática do bem sincero para com os semelhantes.

Fonte: Estudos Espíritas

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