quarta-feira, 5 de abril de 2017

Reencarnação e Espiritismo


Necessário vos é nascer de novo.

Não foram os espíritas que inventaram a Reencarnação — palavra que grafamos com inicial maiúscula, em homenagem de nossa Alma agradecida à lei sábia e misericordiosa que projetou luz sobre o até então incompreendido problema do Ser, do Destino e da Dor.

O ensino reencarnacionista vem de muito longe, de povos antigos e remotíssimas doutrinas.

Ao Espiritismo couberam, apenas, a honra e a glória de estudá-lo, sistematizando-o, para convertê-lo, afinal, num dos principais, senão no principal fundamento de sua granítica estrutura doutrinária.

Grandes vultos do passado, no campo da Religião, da Filosofia e da Ciência, aceitaram e difundiram a Reencarnação.

Orígines (nascido em 185 e falecido em 254), considerado por São Jerônimo como a maior autoridade da Igreja de Roma, afirma, no livro “Dos Princípios”, em abono da tese básica do Espiritismo: “As causas das variedades de condições humanas são devidas às existências anteriores.

São, ainda, do eminente e consagrado teólogo as seguintes palavras: “A maneira por que cada um de nós põe os pés na Terra, quando aqui aportamos, é a consequência fatal de como agiu anteriormente no Universo.”

Ainda de Orígines: “Elevando-se pouco a pouco, os Espíritos chegaram a este mundo e à ciência dele. Daí subirão a melhor mundo e chegarão a um estado tal que nada mais terão de ajuntar.”

Crisna, no Bhagavad-Guitá (o Evangelho da Índia), predica, com absoluta e inegável clareza: “Eu e vós tivemos vários nascimentos. Os meus, só são conhecidos de mim; vós não conheceis os vossos.”

Os Vedas, milhares de anos antes de Jesus-Cristo, difundiam, largamente, a ideia reencarnacionista.

Buda aceitava e pregava a Reencarnação.

Os sacerdotes egípcios ensinavam que “as almas inferiores e más ficam presas à Terra por múltiplos renascimentos, e que as almas virtuosas sobem, voando para as esferas superiores, onde recobram a vista das coisas divinas”.

Na Grécia, berço admirável de legítimos condores do Pensamento e da Cultura, encontramos Sócrates, Platão e Pitágoras como fervorosos paladinos das vidas sucessivas.

Sócrates ensinava que “as almas, depois de haverem estado no Hades o tempo necessário, são reconduzidas a esta vida em múltiplos e longos períodos”.

O ensino pitagórico era, como é notório, essencialmente reencarnacionista, dele advindo, por falsa interpretação de mentes pouco evoluídas, a errônea teoria da metempsicose.

Entre os romanos, Virgílio e Ovídio disseminavam os princípios reencarnacionistas.

Ovídio chegava a dizer: “quando minha alma for pura, irá habitar os astros que povoam o firmamento”, admitindo, assim, semelhantemente aos espíritas, a sucessividade das vidas em outros planetas.

São Jerônimo afirmava, por sua vez, “que a transmigração das almas fazia parte dos ensinos revelados a um certo número de iniciados”.

Deixemos, contudo, esses consagrados vultos, cuja opinião, embora respeitável e acatada, empalidece ante a opinião da figura máxima da Humanidade — Nosso Senhor Jesus-Cristo.

O Sublime Embaixador pregou a Reencarnação. Algumas vezes, de forma velada; outras, com objetividade e clareza.

Falando a respeito de Elias, o profeta falecido alguns séculos antes, diz o Mestre: — “Elias já veio e não o conhecestes”, compreendendo então os discípulos que se referia a João Batista (Elias reencarnado).

No famoso diálogo com Nicodemos, afirma que ninguém alcançará o Reino de Deus “se não nascer de novo.

Nascer da água e do Espírito — o que completa a intenção, o pensamento reencarnacionista de Jesus.

Em outra oportunidade, externando por meio de simples alegoria sobre a Lei de Causa e Efeito — ou Carma —, sentencia: — “Ninguém sairá da Terra sem que pague até o último ceitil”, isto é: até a completa remissão das faltas.

Como Se vê, o Espiritismo não criou, não inventou a Reencarnação.

Aceitando-a como herança de eminentes filósofos e de respeitáveis doutrinas, de Jesus e de Seus discípulos, e confirmada, a seu tempo, pelos Espíritos do Senhor, o Espiritismo promoveu o seu estudo, a sua difusão, a sua exegese.

Ela é, contudo, antiquíssima, conhecida e professada antes do Cristo, na época do Cristo e em nossos dias.

Há mais de um século o Espiritismo apresenta-a por único meio de crermos num Pai Justo e Bom, que dá a cada um “segundo as suas obras” e como elemento explicativo da promessa de Jesus, de que “nenhuma de suas ovelhas se perderia”.

A Reencarnação é a chave, a fórmula filosófica que explica, sem fugir ao bom-senso nem à lógica, as conhecidas desigualdades humanas — sociais, econômicas, raciais, físicas, morais e intelectuais.

Sem o esclarecimento palingenésico, tais diversidades deixariam um doloroso “ponto de interrogação” em nossa consciência, no que diz respeito à Justiça Divina.

Sem as suas claridades, seria a Justiça de Deus bem inferior à dos homens.

Teríamos um Deus parcial, injusto, caprichoso, cruel, impiedoso mesmo.

Um Deus que beneficiaria a uns e infelicitaria à maioria.

Com a Reencarnação, temos Justiça Incorruptível, equânime, refletindo a ilimitada Bondade do Criador.

Um Deus que perdoa sem tirar ao culpado a glória da remissão de seus próprios erros.

Um Deus que perdoa, concedendo ao culpado tantas oportunidades quantas ele necessite para reparar os males que praticou.

Com a Palingenesia, temos um Deus que se apresenta, no Altar de nossa consciência e no Templo do nosso coração, como Pai Misericordioso e Justo, um Pai carinhoso e Magnânimo, que oferece a todos os Seus filhos os mesmos ensejos de redenção, através das vidas sucessivas — neste e noutros mundos, mundos que são as “outras moradas” a que se refere Jesus no Evangelho.

Tantas vidas quantas forem necessárias, porque o essencial e o justo é que “nenhuma das ovelhas se perca”...


Do livro Estudando o Evangelho, de José Martins Peralva

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