sábado, 16 de julho de 2016

Consequências Morais da Reencarnação


As vidas sucessivas têm por objeto o desenvolvimento da inteligência, do caráter, das faculdades, dos bons instintos, e a supressão dos maus.

Sendo contínua a evolução e perpétua a criação, cada um de nós, no correr das existências, é, a todo instante, feitura de si mesmo. Com efeito, trazemos conosco uma sanção inevitável, que pode deixar de exercer-se imediatamente, mas que, cedo ou tarde, terá uma repercussão certa nas vidas futuras.

As desigualdades morais e intelectuais não são o resultado de decisões arbitrárias da divindade e a justiça já não se acha ferida. Partindo todos do mesmo ponto, para chegar ao mesmo fim, que é o aperfeiçoamento do ser, existe, realmente, uma perfeita igualdade entre todos os indivíduos.

Essa comunhão de origem mostra-nos claramente que a fraternidade não é uma palavra vã. Em todos os degraus do desenvolvimento, sentimo-nos ligados uns aos outros, de sorte que não existe diferença radical entre os povos, a despeito da cor da pele ou do grau de adiantamento. A evolução não é somente individual, é coletiva. As nações se reencarnam por grupos, de sorte que existe uma responsabilidade coletiva como existe a individual; daí resulta que, qualquer que seja nossa posição na sociedade, temos interesse em melhorá-la, porque é o nosso futuro que preparamos.

O egoísmo é, ao mesmo tempo, um vício e um mau cálculo, porque a melhoria geral só pode resultar do progresso individual de cada um dos membros que constituem a Sociedade. Quando estas grandes verdades forem bem compreendidas, encontrar-se- á menos dureza entre os que possuem, e menos ódio e inveja nas classes inferiores.

Se os que detêm a riqueza ficarem persuadidos de que, na próxima encarnação, poderiam surgir nas classes indigentes, teriam evidente interesse em melhorar as condições sociais dos trabalhadores; reciprocamente, estes aceitariam com resignação a sua situação momentânea, sabendo que, mais tarde, poderiam estar, por sua vez, entre os privilegiados.

A Palingenesia é, pois, uma doutrina essencialmente renovadora, é um fator de energia, visto que estimula em nós a vontade, sem a qual nenhum progresso individual ou geral poderia realizar-se.

A solidariedade impõe-se a nós como uma condição essencial do progresso social; é uma lei da Natureza, que já podemos verificar nas sociedades animais, constituídas para resistir à lei brutal da luta pela vida.

O mal não é uma necessidade fatal imposta à Humanidade.

Em resumo, a teoria das vidas sucessivas satisfaz todas as aspirações de nossas almas, que exigem uma explicação lógica do problema do destino. Ela concilia-se perfeitamente com a ideia duma providência, ao mesmo tempo justa e boa, que não pune nossas faltas com suplícios eternos, mas que nos deixa, a cada instante, o poder de reparar nossos erros, elevando-nos, lentamente, por nossos próprios esforços, subindo os degraus dessa escada de Jacob, onde os primeiros mergulham na animalidade e os últimos chegam à mais perfeita espiritualidade.

Podemos dizer, com Maeterlinck:

“Reconheçamos, de passagem, que é lamentável não sejam peremptórios os argumentos dos teósofos e dos neoespiritistas; porque não houve nunca uma crença mais bela, mais justa, mais pura, mais moral, mais fecunda, mais consoladora, e até certo ponto mais verossímil que a deles.

Tão-só com a sua doutrina das expiações e das purificações sucessivas, ela explica todas as desigualdades sociais, todas as injustiças abomináveis do destino. Mas a qualidade de uma crença não lhe atesta a verdade. Ainda que ela seja a religião de seiscentos milhões de homens, a mais próxima das origens misteriosas, a única que não é odiosa, a menos absurda de todas, é preciso não fazer o que fizeram as outras, mas trazer-nos testemunhos irrecusáveis, pois o que ela nos deu até agora não é mais do que a primeira sombra de um começo de prova.”

As provas que Maeterlinck pede, creio tê-las trazido. O que possuímos agora é uma demonstração positiva, e ela nos permite compreender não só a sobrevivência do princípio pensante, senão também a sua imortalidade, pois que durante milhões de anos havemos evolucionado nesta Terra, que deixaremos, quando nela mais nada houver que aprender.


Gabriel Delanne

Do livro “A Reencarnação”, de Gabriel Delanne.


Sobre o autor


François-Marie Gabriel Delanne (Paris, França, 23 de Março de 1857 - 15 de Fevereiro de 1926) foi um francês engenheiro e um dos primeiros pesquisadores espíritas notórios. Intelectual renomado, sua pesquisa sobre a mediunidade é notória no contexto do problema mente-corpo. É considerado como o propagador do espiritismo no mundo.

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