segunda-feira, 13 de junho de 2016

Fernando Pessoa, Poeta e Médium


O poeta - No século 19, o movimento de caráter filosófico, científico e pedagógico, iniciado no ocidente europeu, promovido pelos enciclopedistas, e que se costuma designar iluminismo, abrangia pesquisas, teatro, romance e poesia. Os adeptos dessa corrente intelectual sofreram sérias perseguições, cujas obras pioneiras e ousadas chocavam-se com o meio social conservador: elas refletiam a inclinação elegante e mundana, característica das sociedades cultas da época. No começo do século 20, com tendência nacionalisticas, o iluminismo despontou em Portugal e teve em Fernando Pessoa sua expressão máxima na poesia.

Fernando Antônio Nogueira de Seabra Pessoa nasceu em Lisboa, no dia 13 de junho de 1888. Tendo sua família transferido residência para a província de Natal - União Sul Africana, fez seus estudos na High School, em Durban, lá recebendo educação inglesa, marcando-o para o resto da vida. Ainda jovem, Fernando regressou a Portugal, no período em que despontava o modernismo, corrente literária caracterizada pelo refinamento de forma com forte tendência para a renovação literária moderna. Desenvolvida na França e na Itália, se espalhou rapidamente por toda a Europa.

Revelando tendência para as letras e, ainda familiarizado com a literatura inglesa, Fernando aproximou-se de autores portugueses. Aos 25 anos lançou o poema Pauis, publicado na revista literária Orfeu. A obra foi considerada ponto de partida para a instalação definitiva do modernismo em Portugal. Entusiasmada, a geração de Fernando Pessoa foi entrando na vida literária e revelaram talentosos poetas, que se encarregaram de levar o modernismo ao público, em diversas revistas e obras, já com propósitos de doutrinação e crítica.

Assim, a partir de Fernando Pessoa e de sua obra singular, teve início em Portugal uma fase de criação poética que derrubou os padrões românticos. Ele passou a escrever em seu próprio nome e usando heterônimos (nomes imaginários). A despersonalização, real ou fingida, que Fernando manifestava com relação aos seus heterônimos, era de qualquer modo, um elemento definido: Ricardo Reis, Alberto Carrero, Álvaro de Campos, nomes imaginários, que assumem na obra de Fernando Pessoa atitudes diversas, representando, inclusive, estéticas diferentes, com a publicação de poemas que se tornaram o grito de guerra da renovação moderna.

A vida de Fernando Pessoa, que se conservou celibatário, transcorreu no ambiente da pequena burguesia de Lisboa, sendo o poeta obrigado a trabalhar como tradutor correspondente, saltando sempre de um humilde emprego para outro do mesmo nível. De físico discreto, hábitos moderados, embora se excedesse às vezes na bebida, jamais procurou uma correspondência entre a sua extraordinária capacidade intelectual e seu comportamento cotidiano. Após atravessar grave crise de neurastenia, morreu de infecção pulmonar, em 20 de novembro de 1935, aos 47 anos.

Embora durante muitos anos tenha publicado contos, novelas, traduções e ensaios, o genial poeta português só foi devidamente apreciado por poucos. Somente após a sua morte, com a publicação de Obras completas, contendo boa parte de seus escritos, o grande público pôde sentir a extraordinária e complexa riqueza de sua obra: ela constitui, no seu conjunto, a mais profunda e bela criação poética da língua portuguesa da atualidade. Fernando Pessoa passou a ser considerado o maior poeta português do século 20 e um dos maiores nomes da poesia universal.

O médium - Tudo indica que Fernando Pessoa pertencia a uma família de médiuns. Frequentemente, confessava a amigos que fazia parte de um pequeno grupo de sessões práticas de Espiritismo. Nelas, sua mãe apresentava, segundo o poeta, expressivas manifestações mediúnicas. Além da participação de sua família, ele sempre mencionava sua tia Anica e uma senhora de nome Maria, ambas médiuns de escrita automática. Consta que Fernando Pessoa tornou-se médium de escrita automática - psicomecânica e também médium vidente, aos 28 anos.

Sua primeira comunicação mediúnica foi através da escrita de seu falecido tio Cunha. A expressiva mediunidade psicomecânica, ou de escrita automática, como Fernando Pessoa classificava, não interferia na mente do médium, nem havia, tão pouco, alterações de personalidade, mas, segundo o poeta, por vezes ficava inconsciente, magnetizado e caindo para o lado.

Quanto à sua mediunidade de vidência, Fernando Pessoa conseguia ver com absoluta nitidez a sua aura, a irradiação de suas mãos e a presença de Espíritos benfeitores que o assistiam nas horas de necessidade.

Num difícil momento de sua existência, Fernando Pessoa demonstrou ser médium sensitivo: quando do suicídio de seu fiel amigo, o poeta Sá Carneiro. Na ocasião, levado por uma forte depressão, revelou claro sintoma do chamado envolvimento, quando se dá a imantação de um Espírito em uma pessoa. O fato ocorreu logo após a morte de Sá Carneiro. O citado fenômeno é comum e naturalmente tratado nos Centros Espíritas peelos médiuns passistas e doutrinadores. Em O Livro dos Médiuns, Allan Kardec faz minucioso exame e elucida todos os gêneros de manifestações mediúnicas. Kardec discorreu a respeito da ação dos Espíritos sobre a matéria e a importância do comportamento dos médiuns no intercâmbio espiritual.

Os heterônimos - É muito provável que os heterônimos Ricardo Reis, Alberto Carrera e Álvaro Campos, com quem Fernando Pessoa assinava seus poemas, sejam nomes dados por poetas quando encarnados, o que demonstra que a autoria desses versos seja de Espíritos desencarnados e não dele mesmo. Para um espírita esclarecido e conhecedor da Doutrina dos Espíritos, é um caso banal, pois são cientes de que há inúmeros livros de poesia mediúnica já publicados, entre eles: Parnaso de Além Túmulo (FEB), com poemas recebidos por Francisco Cândido Xavier; Antologia dos Imortais (FEB), por Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira; Antologia do Mais Além, por Jorge Rizzini (esgotado); Novos Cânticos (Edições Correio Fraterno), por Dolores Bacelar. Deve-se ao heterônimo Álvaro de Campos a manifestação de um elemento bem fora do comum, que se tornou comum à personalidade de Fernando Pessoa - o ocultismo.

Fernando Pessoa nunca assumiu a autoria de sua poesia mediúnica, senão teria posto os nomes de seus verdadeiros autores. Grande poeta e também grande médium, ele fez uso de sua notável capacidade intelectual, dando mais prioridade aos interesses espirituais que aos terrestres. Esta posição com bases nos conhecimentos e esclarecimentos da Doutrina Espírita são renegados até hoje, por milhares de conterrâneos seus em Portugal, por ainda possuírem certas traves em suas mentes.


Maria A. Romano - Jornal O Semeador - julho 2009

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