segunda-feira, 30 de março de 2015

Seminário O Céu e o Inferno

Seminário “O Céu e o Inferno", apresentado na U.S.E em São José do Rio Preto, tendo como facilitador Haroldo Dutra Dias*.










(*)Haroldo Dutra Dias (20 de setembro de 1971 em Belo Horizonte) é um juiz de direito do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, escritor, tradutor, professor e conferencista brasileiro.É bacharel em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), diretor do Foro da Comarca de Ibirité, formado em língua grega clássica pela UFMG (Língua e Literatura), formado em hebraico pela União Israelita de Belo Horizonte, e professor de hebraico bíblico na pós-graduação da Universidade de Brasília. Também é especialista em paleontografia, crítica textual, aramaico e francês. Dias também vem se destacando como um ativo divulgador do Espiritismo, sendo autor e conferencista na área.

sexta-feira, 27 de março de 2015

As Penas Futuras Segundo o Espiritismo (Parte II)



Código Penal da Vida Futura


Nem todas as faltas acarretam um prejuízo direto e efetivo. Nesses casos, a reparação se realiza fazendo-se o que se deixou de fazer, cumprindo-se os deveres que foram negligenciados ou desprezados, as missões em que se tenha falido, praticando-se o bem reparador do mal que se fez. Isso quer dizer, sendo humilde quando se foi orgulhoso, bondoso quando se foi duro, caridoso quando se foi egoísta, benevolente quando se foi maldoso, trabalhador quando se foi preguiçoso, útil quando se foi inútil, temperante quando se foi dissoluto, bom exemplo quando se foi mau e assim por diante. É dessa maneira que o Espírito progride, tornando proveitoso o seu passado. *(30)

18º) Os Espíritos imperfeitos são afastados dos mundos felizes porque perturbariam a sua harmonia. Permanecem nos mundos inferiores onde expiam as suas faltas pelas tribulações da vida e se libertam das suas imperfeições, até merecerem encarnar-se em mundos moral e fisicamente mais adiantados.

Se podemos conceber um lugar de castigo determinado é precisamente nos mundos de expiação, pois é ao redor desses mundos que pululam os Espíritos imperfeitos desencarnados, esperando uma nova existência que, permitindo-lhes a reparação do mal que fizeram, os ajudará a progredir.

19º) Como o Espírito conserva sempre o seu livre-arbítrio, melhora às vezes de maneira lenta e sua obstinação no mal é bastante tenaz. Pode persistir nessa situação durante anos e séculos, mas chega sempre o momento em que a sua teimosia em desafiar a justiça de Deus se abate diante do sofrimento, e então, malgrado a sua fanfarronice, ele reconhece o poder superior que o domina. Desde o momento em que manifesta as primeiras luzes do arrependimento, Deus o faz entrever a esperança.

Nenhum Espírito está na condição de nunca se melhorar. Se assim fosse ele estaria fatalmente destinado a uma eterna situação de inferioridade e escaparia à lei da evolução que rege providencialmente todas as criaturas.

20º) Sejam quais forem a inferioridade e a perversidade dos Espíritos, Deus jamais os abandona. Todos têm o seu anjo da guarda que vela por eles, vigia as expansões da sua alma e se esforça para despertar-lhes bons pensamentos, desejos de progredir e de reparar numa nova existência o mal que tenham feito. Não obstante, o guia ou protetor age na maioria das vezes de maneira oculta, sem exercer nenhuma pressão. O Espírito deve melhorar-se pela força de sua própria vontade e não por força de qualquer constrangimento. Deve agir bem ou mal em virtude de seu livre-arbítrio, sem ser fatalmente empurrado num sentido ou noutro. Se fizer o mal, sofrerá as suas consequências enquanto permanecer no mau caminho. Desde que dê um passo em direção ao bem sentirá imediatamente os seus resultados.

Observação: Seria errôneo acreditar que, em virtude da lei do progresso, a certeza de chegar cedo ou tarde à perfeição e à felicidade pode ser um encorajamento a permanecer no mal, esperando arrepender-se mais tarde. Primeiro, o Espírito inferior não vê a possibilidade de um fim para a sua situação; segundo, sendo ele o artífice da sua própria desgraça, acaba por compreender que dele depende fazê-la cessar e que quanto mais persistir no mal mais longa será a sua infelicidade, pois o seu sofrimento durará sempre se ele próprio não lhe puser um termo. Esse seria, de sua parte, um cálculo errado, com o qual se enganaria a si mesmo. Se, pelo contrário, segundo o dogma das penas irremissíveis, toda esperança lhe fosse negada, ele não teria nenhum interesse em retornar ao bem, pois isso não lhe daria nenhum proveito.

Perante esta lei cai igualmente a objeção referente à presciência. Deus, ao criar uma alma sabe realmente se em virtude do seu livre-arbítrio ela tomará o bom ou o mau caminho; sabe que ela será punida se praticar o mal; mas sabe também que esse castigo temporário é um meio de a levar a compreender o seu erro e de a fazer entrar no bom caminho, ao qual cedo ou tarde chegará. Segundo a doutrina das penas eternas, Deus sabe que a alma falirá, e assim ela já está previamente condenada às torturas sem fim.

21º) Cada um só é responsável pelas suas próprias faltas. Ninguém sofre penalidades pelas faltas alheias, a menos que para isso tenha dado algum motivo, seja provocando-as pelo seu exemplo, seja deixando de impedi-Ias quando podia fazê-lo.

É assim, por exemplo, que o suicida é sempre punido, mas aquele que, por sua dureza de coração, leva um indivíduo ao desespero e daí ao suicídio, sofre uma pena ainda maior.

22º) Embora a diversidade de punições seja infinita, existem as que são inerentes à inferioridade dos Espíritos e cujas consequências, salvo algumas nuanças, são mais ou menos idênticas.

A punição mais comum, entre os que são sobretudo apegados à vida material e negligenciam o progresso espiritual, consiste na lentidão com que se processa a separação da alma e do corpo, e portanto nas angústias que acompanham a morte e o despertar na outra vida, na duração das perturbações que podem então durar desde meses até anos. Entre os que, pelo contrário, tendo uma consciência pura, identificam-se durante a vida corpórea com a vida espiritual e libertam-se das coisas materiais, a separação é rápida, sem dificuldades, e o despertar aprazível, sendo a perturbação quase inexistente.

23º) Um fenômeno muito frequente entre os Espíritos de um certo grau de inferioridade moral consiste em se acreditarem ainda vivos após a morte, e essa ilusão pode se prolongar durante anos, através dos quais eles experimentam todas as necessidades, todos os tormentos e todas as perplexidades da vida. *(31)

24º) Para o criminoso, a visão incessante de suas vítimas e das circunstâncias do crime é um suplício cruel.

25º) Alguns Espíritos são mergulhados em trevas espessas. Outros são postos num isolamento absoluto, no espaço, atormentados pelo fato de não saberem qual a sua condição e o seu destino. Os maiores culpados sofrem torturas que são tanto mais pungentes quanto ignoram o seu fim. Muitos ficam privados de verem os seus seres queridos. Todos, em geral, passam por sofrimentos cuja intensidade é relativa aos males que praticaram, às dores e necessidades que fizeram os outros sofrer, até que o arrependimento e o desejo de reparação, venham trazer-lhes um abrandamento ao fazê-los entrever a possibilidade de dar, por si mesmos, um fim a essa situação.

26º) É um suplício para o orgulhoso ver acima dele, gloriosos e radiantes de alegria, os que ele havia desprezado na Terra, ao mesmo tempo que ele é relegado aos últimos lugares. Para o hipócrita, ver-se trespassado pela luz que revela os seus mais secretos pensamentos, que todos podem ler, não havendo para ele nenhum meio de se esconder ou se disfarçar. Para o sensual é um suplício passar por todas as tentações, todos os desejos, sem poder satisfazê-los. Para o avarento, ver o seu ouro desperdiçado e não poder retê-lo. Para o egoísta, ser abandonado por todos e sofrer tudo aquilo que os outros sofreram dele: terá sede e ninguém lhe dará de beber; terá fome e ninguém lhe dará de comer; nem uma só mão amiga virá apertar a sua, nenhuma voz compassiva virá consolá-lo, pois ele só pensou em si durante a vida e ninguém agora pensa nele nem o lamenta após a sua morte.

27º) O meio de evitar ou atenuar as consequências de suas faltas na vida futura é desfazer-se o mais possível dos seus defeitos na vida presente, reparar aqui mesmo o mal para não ter de repará-lo mais tarde e de maneira mais terrível. Quanto mais demorarmos a deixar os nossos defeitos, mais as suas consequências se tornarão penosas e mais rigorosas será a reparação que tivermos de fazer.

28º) A situação do Espírito, desde a sua entrada na vida espiritual, é aquela que ele mesmo se preparou durante a sua vida corporal. Mais tarde, outra encarnação lhe é concedida para expiar e reparar a anterior, passando por novas provas. Mas ele a aproveitará em maior ou menor grau, segundo o seu livre-arbítrio. Se não a aproveitar, terá um trabalho a recomeçar, e cada vez em condições mais penosas. Dessa maneira, aquele que muito sofre na Terra pode dizer que tem muito a expiar. Os que gozam de uma felicidade aparente, malgrado os seus vícios e sua inutilidade, pagarão caro numa existência posterior. Foi nesse sentido que Jesus disse: Bem aventurados os aflitos porque serão consolados. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. V.)

29º) A misericórdia de Deus é sem dúvida infinita, mas não é cega. O culpado que ela perdoou não está dispensado de satisfazer a justiça, passando pelas consequências de suas faltas. Por misericórdia infinita é necessário entender que Deus não é inexorável, deixando sempre aberta ao culpado a porta de retorno ao bem.

30º) As penas sendo temporárias e subordinadas ao arrependimento e à reparação, que dependem da livre vontade do homem, acontece o mesmo com os castigos e os remédios que devem ajudar a curar as feridas do mal. Os Espíritos em punição não se encontram na situação dos antigos condenados às galeras, mas como os doentes no hospital. Sofrem a doença que frequentemente decorre de suas próprias faltas e passam por meios dolorosos de cura de que necessitam, mas têm a esperança de ser curados e se curam tanto mais rapidamente, quanto observarem com exatidão as prescrições do médico que solicitamente vela por eles. Se eles prolongam os sofrimentos por sua própria culpa, o médico nada tem com isso. 

31º) As penas que o Espírito sofre na vida espiritual juntam-se às da vida corporal, que são a consequência das imperfeições do homem, de suas paixões, do mau emprego de suas faculdades, e a expiação de suas faltas presentes e passadas. É na vida corporal que o Espírito repara o mal de suas existências anteriores, que põe em prática as resoluções tomadas na vida espiritual. É assim que se explicam as misérias e as dificuldades que, à primeira vista, parecem não ter razão de ser, mas na verdade são justas desde que foram determinadas no passado e servem para o nosso adiantamento.* (32)

32º) Deus, pergunta-se, não demonstraria maior amor por suas criaturas se as criasse infalíveis e portanto isentas das vicissitudes decorrentes da imperfeição? Seria necessário, para isso, que ele criasse seres perfeitos, nada tendo a conquistar, nem em conhecimentos e nem em moralidade. Não há dúvida que o podia fazer, mas se não o fez é porque, na sua sabedoria quis que o progresso fosse uma lei geral. Os homens são imperfeitos e, como tal, sujeitos às vicissitudes mais ou menos penosas. Esse é um fato que temos de aceitar, desde que existe. Mas inferir disso que Deus não é bom nem justo seria uma rebeldia.

Haveria injustiça se ele tivesse criado seres privilegiados, mais favorecidos que os outros, gozando sem esforço da felicidade que os outros só atingem penosamente ou jamais poderiam atingir. A justiça de Deus brilha precisamente na igualdade absoluta que rege a criação de todos os Espíritos. Todos têm o mesmo ponto de partida; não há nenhum que seja, na sua formação, mais bem dotado que os outros; nenhum cuja marcha ascensional seja facilitada por exceção; os que chegam ao alvo passaram, como os outros, pela fieira das provas e da inferioridade.

Admitindo-se isso, o que haveria de mais justo do que essa liberdade de ação dada a cada um? A via da felicidade está aberta a todos, o objetivo de todos é o mesmo, as condições para atingi-lo são as mesmas para todos e a lei gravada em todas as consciências foi ensinada a todos. Deus fez da felicidade o prêmio do trabalho e não do favoritismo para que cada um tenha o seu mérito. Todos são livres de trabalhar ou de nada fazer para o seu adiantamento. Aquele que trabalha bastante e com rapidez é recompensado mais cedo, mas aquele que se desvia do caminho ou perde o seu tempo, retarda a sua chegada e só pode lamentar de si mesmo. O bem e o mal são facultativos e dependem da vontade de cada um. O homem, por ser livre, não é fatalmente levado, nem para um, nem para o outro.

33º) Apesar da diversidade de gêneros e graus de sofrimento dos Espíritos imperfeitos, o código penal da vida futura pode se resumir nestes três princípios: 

1º) O sofrimento é inerente à imperfeição.

2º) Toda imperfeição, e toda a falta que dela decorre, trazem o seu próprio castigo nas suas consequências naturais e inevitáveis, como a doença decorre dos excessos, o tédio da ociosidade, sem que haja necessidade de uma condenação especial para cada falta e cada indivíduo.

3º) Todo homem podendo corrigir as suas imperfeições pela sua própria vontade, pode poupar-se os males que delas decorrem e assegurar a sua felicidade futura. 

Essa é a lei da justiça divina: a cada um segundo as suas obras, tanto no céu como na Terra. *(33)

*(30) A necessidade da reparação é um princípio de rigorosa justiça que se pode considerar como a verdadeira lei de reabilitação moral dos Espíritos. É esta uma doutrina que nenhuma religião proclamou ainda. Entretanto algumas pessoas a repelem, por acharem que seria mais cômodo poder apagar as suas faltas simplesmente pelo arrependimento, que só depende de algumas palavras, com a ajuda de certas fórmulas. Convictas de que assim estarão livres, verão mais tarde que isso não foi suficiente. Poderíamos perguntar-lhes se esse princípio não está consagrado na lei humana e se a justiça de Deus pode ser inferior à dos homens. Se elas ficariam satisfeitas quando um indivíduo que as tivesse arruinado por abuso de confiança, se limitasse a dizer-lhes que se lamentariam disso infinitamente. Por que, pois, querem elas recuar ante uma obrigação que toda criatura honesta deveria cumprir na medida de suas forças? Quando essa perspectiva da reparação for introduzida na crença popular se transformará num freio bem mais poderoso que o do inferno e das penas eternas pois ela se refere à vida atual e faz compreender a razão das penas por que o homem está passando. (Nota de Kardec)

*(31) As necessidades, os tormentos e as perplexidades da vida experimentados nas condições de uma existência fictícia, em que o perispírito falsamente representa o corpo material, constituem uma situação bastante dolorosa para o Espírito. Foi dela que certamente se originou o dogma do Inferno material, com o corpo material mas invulnerável, a sofrer sem se destruir.

*(32) Ver o capítulo VI, Purgatório, números 3 e seguintes. Ver também o capítulo XX, Exemplos de expiações terrenas. — No O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo V, Bem-aventurados os aflitos. (Nota de Kardec).

*(33) Algumas pessoas argumentam que as imperfeições vêm de Deus, que nos criou imperfeitos. O princípio da evolução nos mostra que há vários graus de perfeição. Deus nos criou em potência, como sementes que têm em si mesmas todas as potencialidades futuras. Assim, criou-nos perfeitos. Cabe-nos, porém, atualizar, ou seja, desenvolver as nossas potencialidades a fim de atingirmos a perfeição em ato, como seres espirituais. Esse desenvolvimento depende de nós, do nosso livre-arbítrio, sem o qual não teríamos responsabilidade. E sem responsabilidade não seríamos perfeitos como seres espirituais. Veja-se o símbolo bíblico: Adão e Eva eram perfeitos na sua ingenuidade, mas ao desenvolver a razão passaram a agir por si mesmos e erraram. Os erros, porém, serão corrigidos na busca da perfeição.


Do livro O Céu e o Inferno, de Allan Kardec Cap.VII.

quarta-feira, 25 de março de 2015

As Penas Futuras Segundo o Espiritismo (Parte I)


Código Penal da Vida Futura


O Espiritismo não se apoia, pois, numa autoridade de natureza particular para formular um código fantasioso. Suas leis, no que toca ao futuro da alma são deduzidas de observações positivas sobre os fatos e podem ser resumidas da maneira seguinte:

1º) A alma ou Espírito sofre na vida espiritual as consequências de todas as imperfeições de que não se libertou durante a vida corpórea. Seu estado feliz ou infeliz é inerente ao grau de sua depuração ou das suas imperfeições.

2º) A felicidade perfeita é inerente à perfeição, quer dizer à purificação completa do Espírito. Toda imperfeição é ao mesmo tempo uma causa de sofrimento e de privação de ventura, da mesma maneira que toda qualidade adquirida é uma causa de ventura e de atenuação dos sofrimentos.

3º) Não há uma só imperfeição da alma que não acarrete consequências desagradáveis, inevitáveis, e não há uma só qualidade boa que não seja fonte de ventura. A soma das penas é assim proporcional à soma das imperfeições, como a dos gozos é proporcionada à soma das boas qualidades.

A alma que tiver, por exemplo, dez imperfeições, sofrerá mais do que aquela que tiver apenas três ou quatro. Quando dessas dez imperfeições só lhe restarem um quarto ou a metade, ela sofrerá menos, e quando nada mais restar, ela nada sofrerá, sendo perfeitamente feliz. É como acontece na Terra: aquele que sofre de muitas doenças padece mais do que o que sofre apenas de uma ou não tem nenhuma. Pela mesma razão, a alma que possui dez qualidades boas goza de mais felicidade que a outra que possui menos.

4º) Em virtude da lei do progresso, tendo cada alma a possibilidade de conquistar o bem que lhe falta e libertar-se do que possui de mal, segundo os seus esforços e a sua vontade, resulta que o futuro está aberto para qualquer criatura. Deus não repudia nenhum de seus filhos. Ele os recebe em seu seio à medida que eles atingem a perfeição, ficando assim a cada um o mérito das suas obras.

5º) O sofrimento sendo inerente à imperfeição, como a felicidade é inerente à perfeição, a alma leva em si mesma o seu próprio castigo onde quer que se encontre. Não há pois necessidade de um lugar circunscrito para ela. O inferno está assim por toda a parte, onde quer que existam almas sofredoras, como o céu está por toda a parte, onde quer que as almas sejam felizes.

6º) O bem e o mal que praticamos são resultados das boas e das más qualidades que possuímos. Não fazer o bem que se pode fazer é uma prova de imperfeição. Se toda a imperfeição é fonte de sofrimento, o Espírito deve sofrer não só por todo o mal que tenha feito, mas também por todo o bem que podia fazer e que não fez durante a sua vida terrena.

7º) O Espírito sofre segundo o que fez sofrer, de maneira que sua atenção estando incessantemente voltada para as consequências desse mal, ele compreende melhor os inconvenientes do seu procedimento e é levado a se corrigir.

8º) A justiça de Deus sendo infinita, todo o mal e todo o bem são rigorosamente levados em conta. Se não há uma única ação má, um só mau pensamento que não tenha consequências fatais, também não há uma única ação boa, um só bom movimento da alma, numa palavra, o mais ligeiro mérito que fique perdido. E isso, mesmo entre os mais perversos, porque representam um começo de progresso.

9º) Toda falta que se comete, todo mal praticado é uma dívida contraída e que tem que ser paga. Se não for nesta existência, será na próxima ou nas seguintes, porque todas as existências são solidárias entre si. Aquilo que se paga na existência presente não será cobrado na seguinte.

10º) O Espírito sofre de acordo com as suas imperfeições, seja no mundo espiritual, seja no corporal. Todas as misérias, todas as dificuldades que ele enfrenta na vida corpórea são as consequências de suas próprias imperfeições, as expiações de faltas cometidas nesta mesma existência ou nas existências anteriores.

Pela natureza dos sofrimentos e das dificuldades que ele enfrenta na vida corpórea, podemos julgar a natureza das faltas cometidas numa existência anterior e quais as imperfeições que as causaram.

11º) A expiação varia segundo a natureza e a gravidade da falta. A mesma falta pode assim provocar expiações diferentes, segundo as circunstâncias atenuantes ou agravantes nas quais ela foi cometida.

12º) Não há, no tocante à natureza e a duração do castigo, nenhuma regra absoluta e uniforme. A única lei geral é a de que toda falta recebe uma punição e toda boa ação tem a sua recompensa segundo o seu valor.

13º) A duração do castigo está subordinada ao melhoramento do Espírito culpado. Nenhuma condenação é pronunciada contra ele por tempo determinado. O que Deus exige para termo dos sofrimentos é uma melhora verdadeira, efetiva, com um retorno sincero ao bem.

O Espírito é assim e sempre o árbitro do seu próprio destino. Pode prolongar os seus sofrimentos pelo seu endurecimento no mal e abrandá-los e até mesmo abreviá-los pelos seus esforços em praticar o bem.

Uma condenação por tempo determinado, qualquer que fosse esse tempo, teria o duplo inconveniente de fazer o Espírito sofrer inutilmente depois de melhorado, ou de cessar antes que ele se libertasse do mal. Deus, que é justo, pune o mal enquanto ele existe, e deixa de punir quando o mal deixou de existir. Ou, se quisermos, sendo o mal moral a própria causa do sofrimento, este dura somente enquanto aquele subsiste e a sua intensidade diminui à medida que o mal vai desaparecendo.

14º) A duração do castigo estando subordinada ao melhoramento do Espírito, disso resulta que o culpado que não se melhorasse continuaria sofrendo sempre, e que para ele a pena seria eterna.

15º) Uma condição que é inerente à inferioridade dos Espíritos é a de não ver o termo de sua situação e acreditar que sofrem para sempre. Isso faz que para eles o castigo pareça eterno. *(29)

16º) O arrependimento é o primeiro passo para o melhoramento. Mas ele apenas não basta, sendo necessárias ainda a expiação e a reparação. Arrependimento, expiação e reparação são as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e as suas consequências.

O arrependimento suaviza as dores da expiação, porque desperta esperança e prepara a reabilitação, mas somente a reparação pode anular o efeito ao destruir a causa. O perdão seria uma graça e não uma anulação da falta.

17º) O arrependimento pode ocorrer em qualquer lugar e tempo. Se ele for tardio, o culpado sofre por mais tempo.

A expiação consiste nos sofrimentos físicos e morais que são a consequência da falta cometida, seja desde a vida presente, ou seja, após a morte, na vida espiritual, ou ainda numa nova existência corpórea, até que os traços da falta tenham desaparecido.

A reparação consiste em praticar o bem para aquele mesmo, a quem se fez o mal. Aquele que não repara os seus erros nesta vida, por fraqueza ou má vontade, tornará a encontrar-se, numa outra existência, com as mesmas pessoas que ofendeu, e em condições escolhidas por ele mesmo para poder provar-lhes o seu devotamento, fazendo-lhes tanto bem quanto o mal que havia feito.


*(29) Perpétuo é sinônimo de eterno. Dizemos: as neves perpétuas, os gelos eternos dos polos, e também se diz: o secretário perpétuo da Academia, o que não quer dizer que se trate de eternidade, mas somente de um tempo indeterminado. Eterno e perpétuo se empregam, pois, também no sentido de indeterminação. Nessa acepção se pode dizer que as penas são eternas quando entendemos que não têm duração limitada: são eternas para o Espírito, que não vê o seu fim. (Nota de Kardec)

Do livro O Céu e o Inferno, de Allan Kardec Cap.VII.

segunda-feira, 23 de março de 2015

O Céu e o Inferno: Um Relato de Pesquisa e Visão da Vida Vitoriosa



Por: Almir Del Prette e Eugênia Pickina

Maltratar as oportunidades é tão só um claro indício de imaturidade.

Pensemos juntos: o Espiritismo tem um caráter educativo. Não apenas porque seu fundador, Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804–1869), depois Allan Kardec, tenha sido um respeitável educador francês, seguidor de Pestalozzi, mas porque o núcleo da filosofia espírita diz respeito a uma proposta de educação do Espírito.

Por esclarecer a ilógica do drama da queda e do pecado, o Espiritismo, respaldado no uso da razão, discorda da jornada humana como uma história de salvação, pois na realidade tudo corre conforme previsto pelo Criador, à medida que a humanidade continua a vivenciar (neste planeta) um processo educativo destinado à perfeição. Neste sentido, o Criador não poderia ter cometido um erro de planejamento grosseiro, não prevendo que as primeiras criaturas iriam, por uma curiosidade natural, desobedecê-Lo. O erro inicial da proibição absurda levaria ao erro final da salvação de poucos, especialmente pela prática da adulação?

Ademais, se lemos o Espiritismo com olhos reflexivos, nele reconhecemos com transparência o parâmetro da liberdade, pois fomos lançados livres no universo e Deus, entendido como Pai, por isso nos permite até mesmo vivenciar estações existenciais sombrias para aprendermos, por conta própria, o valor do bem e das virtudes. Ou seja, em palavras simples, o erro participa naturalmente do existir humano.

O principal ganho desta “autoeducação”, e continuada através de existências sucessivas, está implicado com o experimentar no campo íntimo que o pequeno “eu” por esforço próprio está a vencer o egoísmo, impregnando seu existir com o altruísmo, a principal qualidade a guiar sua prática futura aqui e em outras dimensões da Vida.

Se a caminhada é solidária, a transformação pessoal é uma experiência solitária, vivenciada no âmago de si mesmo. Um olhar para dentro de si, que começa nas sombras dos equívocos das distorções daquele que teme o encontro consigo mesmo até a descoberta que esse é o caminho para o autoconhecimento, a verdade e a libertação.

Ora. É um engodo, portanto, e mesmo para pretender apaziguar temas religiosos discordantes, querer conciliar um Deus de Amor – que zela pela liberdade de seus filhos e filhas – com dogmas que entendam a existência humana presa à tragicidade do pecado, submetendo em consequência o indivíduo ao ambiente das penas do inferno ou de um local aonde ele vá, depois da morte, purgar suas culpas e maldades. Não seria este um Deus do horror e do pavor?

Este ano o livro O Céu e o Inferno comemora 150 anos. Nesta obra Kardec aborda, entre inúmeros temas, céu, purgatório e inferno, afastando, com o uso da razão, a existência das penas eternas ou de um local “fixo” para o ser humano, após a morte, purgar as suas culpas, não aludindo, portanto, ao cenário dantesco.

Não. Kardec, esclarecido, tanto assegura a inexistência das penas eternas, como, apoiado na falange do Espírito de Verdade, substitui os conceitos pagãos e católicos, equivocados, pela ideia de evolução contínua pela reencarnação.

Graças, então, à prática realizada através das existências sucessivas, é sabido que o ser humano adentra de novo a “estação corpórea”, para pôr em prática seu processo autoeducativo e, ao mesmo tempo, se for necessário, purgar seus erros infelizes do passado.

Contudo, todo ser humano, sem exceção, sempre é genuinamente assistido pela Misericórdia, inspirado pelas boas presenças que assistem à sua passagem na Terra, local no qual lhe é dada a oportunidade de bem viver e desenvolver-se rumo à beleza e ao bem que estruturam os grandes Espíritos, tal como Jesus, o autêntico modelo de quem se percebe espírita e cristão.

O livro O Céu e o Inferno abre, sem ressalvas e por isso sem receio, as janelas do misterioso “transe da morte”. E longe de encontrar uma nova caixa de pandora o homem se depara com uma realidade muito mais simples e suportável do que aquela da visão condicionada pelas religiões necrófilas. A vida prossegue vitoriosa após a passagem.

É certo que o “morrer” como o “nascer” têm normas da vida comuns a todos os Espíritos, entretanto, a passagem de um lado para o outro pode ser mais ou menos “sofrida” na dependência da condição espiritual daquele que vem ou vai para a erraticidade. Quando o processo atingiu seu limite, ao contrário do que pensam alguns, o não nascer e o não morrer é que seriam traumáticos. Portanto, morrer, segundo pode ser inferido da leitura de Allan Kardec, tem uma semelhança com o nascer. Trata-se de um processo de passagem de um lado para o outro para experiências evolutivas que em alguns aspectos se aproximam e, em outros, se distanciam.

O livro O Céu e o Inferno é, também, um relato de pesquisa, que na atualidade receberia a denominação de “analítica descritiva”. Trata-se, sem dúvida, de um material muito rico que merece, por parte dos estudiosos, seguidas leituras.

sábado, 21 de março de 2015

Diante do Tempo


Contempla o mundo ao qual voltaste, através da reencarnação, para resgatar o passado e construir o futuro.

Sol que brilha, nuvem que passa, vento que ondula, terra expectante, árvore erguida, fonte que corre, fruto que alimenta e flor que perfuma utilizam a riqueza das horas para servir.

Aproveita, igualmente, os minutos, para fazeres o melhor.

*
Perdeste nobres aspirações em desenganos esmagadores: no entanto, as esperanças renascem no coração dilacerado, à maneira de rosas sobre ruínas.

Perdeste créditos valiosos na insolvência passageira que te aflige o caminho; todavia, o trabalho dar-te-á recursos multiplicados para conquistas novas.

Perdeste felizes ocasiões de prosperidade e alegria, à vista da calúnia com que te ferem, mas, no culto da tolerância, removerás a maledicência, demandando níveis mais altos.

Perdeste familiares queridos que te largaram à solidão; no entanto, recuperá-los-ás tão logo consigas sazonar os frutos do entendimento, na esfera da própria alma.

Perdeste afetos sublimes na fronteira da morte; todavia, reaverás todos eles, um dia, quando te sentires de espírito libertado, nos planos da Grande Luz.

Perdeste dons preciosos, na enfermidade que te flagela, mas o próprio corpo físico é santuário que se refaz.

*
Observa, contudo, o que fazes do tempo e vale-te dele para instalar bondade e compreensão, discernimento e equilíbrio, em ti mesmo, porque o dia que deixas passar vazio e inútil é, realmente, um tesouro perdido que não mais voltará.


Emmanuel

Do livro Justiça Divina, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier.

quinta-feira, 19 de março de 2015

Purgatório na Visão Espírita


Por Richard Simonetti

Que se deve entender por purgatório?

Resposta: Dores físicas e morais: o tempo da expiação. Quase sempre, na Terra é que fazeis o vosso purgatório e que Deus vos obriga a expiar as vossas faltas. (O Livro dos Espíritos, Questão 1013)

O purgatório não está na Bíblia, foi criado pelo catolicismo para resolver um problema teológico: a salvação.

O purgatório para eles seria uma região no Além onde estagiam as almas que, embora arrependidas e “na graça de Deus”, ou seja, por se submeterem a sacramentos religiosos (batismo, crisma, etc.), não são suficientemente puras para elevarem-se ao Céu, nem tão ruins para merecerem o inferno. Morrem abençoadas, mas não perdoadas.

Em torno dessa ideia central criou-se toda uma mitologia, com crendices que circulou durante a Idade Média, servindo de instrumento para exploração da ingenuidade popular.

Como o catolicismo pregava que aquele que fosse para o inferno de lá não sairia mais (penas eternas), o purgatório seria a região onde os, nem tão bons e nem tão ruins, teriam a chance de serem julgados para ver se iriam para o céu ou para o inferno. E o critério para este julgamento estava nas mãos dos parentes aqui na Terra. Assim foi criado a Doutrina das Indulgências que permitia às famílias abastadas (ricas) promover a transferência de seus mortos do purgatório para o céu, mediante a doação de largas somas de dinheiro às organizações religiosas. Quem adquirisse “relíquias” (supostamente parte do corpo de um santo – osso, dente, cabelos, unhas – ou qualquer objeto que tenha usado ou que tocou seu cadáver), compradas a peso de ouro, o efeito seria mais seguro.

As “relíquias” prestavam-se a vergonhosas fraudes. Como poderiam os fiéis saber se eram autênticos pedaços da cruz onde foi sacrificado Jesus, os cabelos de Pedro, as sandálias de Paulo ou as pedras que imolaram Estevão?

No folclore religioso existe até mesmo a ideia de que é interessante pedir ajuda às almas do purgatório para resolver nossas dificuldades, pois estas estariam sempre dispostas a nos ajudar, a fim de acumularem méritos suficientes para se livrarem de suas penas.

As “penas eternas” é uma aberração teológica incompatível com a justiça e a misericórdia de Deus. Se o arrependimento no momento da morte livra o indivíduo do inferno, levando-o ao purgatório, por que Deus não perdoaria os impenitentes que encontram-se no inferno?

Afinal, a experiência demonstra que, ante sofrimentos prolongados, mesmo os indivíduos mais rebeldes acabam modificando suas disposições.

Então, o que é o purgatório para os Espíritas?

Então, nós espíritas, entendemos por purgatório, as dores físicas e morais: o tempo da expiação. Tempo onde carregamos as cruzes confeccionadas por nós ao transgredirmos as leis divinas. Quase sempre, é na Terra que fazemos o nosso purgatório, ou seja, que expiamos (resgatamos) as nossas faltas. Purgatório significa purgação, purificação. O purgante é o remédio que limpa o organismo. E as dores e aflições é o purgante que limpa a alma das transgressões à Lei Divina. Podemos dizer que, o caminho mais rápido e seguro entre o purgatório e o Céu, é “O PRÓXIMO”. Na medida em que estivermos dispostos a respeitar, ajudar, compreender e amparar aqueles que nos rodeiam, seja o familiar, o colega de serviço, o amigo, o indigente, o doente, estaremos habilitando-nos à felicidade, contribuindo para que ela se estenda sobre o Mundo. Portanto, não nos elevaremos se não tivermos dispostos a auxiliar os companheiros que conosco estagiam no purgatório terrestre.

terça-feira, 17 de março de 2015

Justiça Divina segundo o Espiritismo


A humanidade continua debatendo-se em meio ao nevoeiro denso do sofrimento, mesmo após a vinda do Cristo ainda não compreendemos o caminho que leva à Justiça do PAI, a qual estamos todos inseridos.

Dezenove séculos se passaram e DEUS em sua infinita bondade permitiu que o véu fosse rasgado em prol da humanidade perdida e assim iniciou-se uma nova investida da LUZ, para que os cegos enxergassem, para que os surdos escutassem.

Assim vimos o conhecimento da Justiça Divina atravessar os céus e por intermédio de homens de boa vontade as vozes dos espíritos espalharam-se pelos quatro cantos da abóboda azul para que o homem pudesse enxergar e compreender de forma mais perfeita.

O Espiritismo é de ordem Divina, abrandou todos os corações de boa vontade que por esforço próprio conseguiram entrever a verdade.

Desde o momento em que o Codificador Francês transcreveu a última linha da obra “O céu e o inferno” foi dado ao homem compreender com clareza os mecanismos da Justiça Divina cujo único objetivo é a glorificação do Espírito.

35 e um deles, doutor da lei, fez-lhe esta pergunta para pô-lo à prova:
36 Mestre, qual é o maior mandamento da lei?
37 Respondeu Jesus: Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito (Dt 6,5).
38 Este é o maior e o primeiro mandamento.
39 E o segundo, semelhante a este, é: Amarás teu próximo como a ti mesmo.
(Mateus: 22, 35-39)

Antes destes dois princípios, somente a dúvida acompanhava aqueles que desejavam de alguma forma compreender como se processa a Justiça Divina, necessário se faz que o homem eleve-se acima desta vida, é preciso olhar para o passado, para as existências anteriores onde encontram-se as causas dos sofrimentos e das alegrias de hoje.

Sem o conhecimento da reencarnação jamais conseguiremos conceber um Deus soberanamente bom e justo, pois de alguma forma Ele se tornaria parcial, uma vez que alguns nascem em berço de ouro, enquanto outros em condições paupérrimas, como explicar aquele que brota saúde em frente ao que desde tenra idade demonstra fragilidade orgânica, inúmeras doenças, problemas psíquicos, famílias onde seus integrantes odeiam-se entre si, enquanto que em outras a paz reina soberana, como entender os laços que nos ligam sem levar em consideração as vidas anteriores da criatura?

Velhas concepções, já desgastadas pelo tempo, que já não atendem mais as necessidades da razão, nem o avanço da ciência, acabaram por criar uma lacuna entre o conhecimento atual e as noções do Céu, do Inferno, do sofrimento, das angustias e das alegrias. Era necessário que algo novo viesse para que pudéssemos vislumbrar com maior nitidez o Pai Amado, ao qual devemos tudo o que somos.

Causas dos Sofrimentos 


Não é possível que o PAI tenha sido injusto com aquele que sofre desde tenra idade, mesmo não sabendo por que sofreu, aquele que sofre deve ter a consciência que os tormentos porque passa é efeito, não causa.

Como pode ser assim se nenhum mal fez nesta vida? Bem, pode não ter feito nada nesta vida, mas é imprescindível considerar as vidas anteriores, deve ser considerada a individualidade, que tem na existência atual nada mais que o resultado dos desajustes cometidos em existências anteriores e que não foram reparadas. Aqui um ponto muito importante, o Divino MESTRE jamais enunciou o sofrimento como algo indispensável para que o ser humano cresça, mas a rebeldia que faz do sofrimento o último recurso para que o homem acorde do seu egoísmo e passe a modificar seu mundo mental. Segundo Emmanuel o sofrimento consegue penetrar nos escaninhos da consciência de uma forma que não podemos ainda compreender, no entanto é sempre um benefício para o renitente que não quer ver nada além de si mesmo. Com certeza a receita para o nosso crescimento não é a dor, mas sim o AMOR, algo que está no âmago de todos nós, pois somos centelhas Divinas, a nossa origem, o pano de fundo da nossa consciência é DEUS e ESTE não quer que sua criatura sofra, mas que se eduque e viva em fraternidade.

Há que se reparar também na proporcionalidade entre a falta e a pena, não podemos conceber que uma falta temporária, resultado da imperfeição do homem possa ter uma conseqüência eterna e irrevogável, se assim fosse, não haveria justiça. Se Deus é perfeito, a condenação eterna não é possível.

Todos sofrem na medida que fizeram os outros sofrerem até que se arrependam e sintam a necessidade de reparação onde então poderão enxergar um fim para situação penosa.

Há que considerar também as dificuldades que tem origem nos atos cometidos no presente, segundo André Luiz 80% dos nossos problemas atuais não tem origem no passado, mas na desordem mental a que nos entregamos. A imprevidência, o orgulho e a vaidade são algumas das causas presentes da falência dos homens na vida presente. Tendo consciência disto é muito importante nos questionarmos todos os dias a respeito do que fazemos ou deixamos de fazer e quais as causas que nos fazem tomar nossas decisões, uma análise diária de nossos atos auxilia na reconstrução dos nossos destinos.

Para que o sofrimento seja proveitoso é necessário aplicar algo que Divaldo Pereira Franco cita em uma de suas entrevistas sobre a Justiça Divina.

“Resignação dinâmica”, ou seja, aceitar o destino como processo natural para o nosso adiantamento, sem deixar por isso, de buscar a melhoria da nossa condição. Ou seja, é não revoltar-se contra DEUS pelas vicissitudes do presente e fazer o máximo possível para melhorar cada vez mais".
“Aflição de hoje, dívida de ontem”
“Merecimento de agora, crédito de amanhã”
“Cada problema que te procura é semelhante ao trabalho de análise dirigida, como a radiografar-te certas zonas do ser, de modo a verificar-lhe o equilíbrio.”
“Nossas dores respondem, assim, pelas falhas que demonstremos ou pelas culpas que contraímos”
“A Lei estabelece, porém, que as provas e as penas se reduzam, ou se extingam, sempre que o aprendiz do progresso ou o devedor da justiça se consagre às tarefas do bem, aceitando, espontaneamente, o favor de servir e o privilégio de trabalhar” (Emmanuel)


Fonte: mundoespirita.net

domingo, 15 de março de 2015

Céu



Entre os chineses de épocas venerandas, afiançávamos que a imortalidade era a absoluta integração com os antepassados.

Na Índia bramânica, admitíamos que o éden fosse a condição privilegiada de alguns eleitos, na pureza intocável dos cimos.

No Egito remoto, imaginávamos que a glória, na Esfera Espiritual, consistisse na intimidade com os deuses particulares, ainda mesmo quando se mostrassem positivamente cruéis.

Na Grécia antiga, supúnhamos que a felicidade suprema, além da morte, brilhasse no trono das honrarias domésticas.

Com gauleses e romanos, incas e astecas, possuíamos figurações especiais do paraíso e, ainda ontem, acreditávamos que o céu fosse região deleitosa, em que Deus, teologicamente transformado em caprichoso patriarca, vivesse condecorando os filhos oportunistas que evidenciassem mais ampla inteligência, no campeonato da adulação.

De existência a existência, entretanto, aprendemos hoje que a vida se espraia, triunfante, em todos os domínios universais do sem-fim; que a matéria assume estados diversos de fluidez e condensação; que os mundos se multiplicam infinitamente no plano cósmico; que cada espírito permanece em determinado momento evolutivo, e que, por isso, o céu, em essência, é um estado de alma que varia conforme a visão interior de cada um.

*

É por esse motivo que Allan Kardec pergunta e responde:

–Nessa imensidade ilimitada, onde está o Céu?

“Em toda parte. Nenhum contorno especial lhe traça limites.

Os mundos superiores são as últimas estações do seu caminho, que as virtudes franqueiam e os vícios interditam.”

E foi ainda, por essa mesma razão que, prevenindo-nos para compreender as realidades da natureza, no grande porvir, ensinou-nos Jesus, claramente:

“O Reino de Deus está dentro de vós.”


Emmanuel

Do livro Justiça Divina, de Emmanuel, Por Francisco Cândido Xavier, Reunião pública de 24-4-611ª Parte, cap.III, item 18

sexta-feira, 13 de março de 2015

O Céu e o Inferno por Raul Teixeira

Trecho de palestra com o médium e orador espírita Raul Teixeira em que ele expõe sobre o tema "O Céu e o Inferno".


quarta-feira, 11 de março de 2015

O Prefácio “quase-esquecido” de “O Céu e o Inferno”. Parte II


Prefácio da Primeira Edição de Le Ciel et l’Enfer


Em 1865, quando Allan Kardec (1804-1869) publicou o livro Le Ciel et l’Enfer ou la Justice Divine selon le Spiritisme (“O Céu e o Inferno ou a Justiça Divina segundo o Espiritismo”), o fez preceder de um Préface no qual, dentre outras coisas, propõe uma revisão de algumas de suas obras e apresenta o novo livro como continuidade de seu labor de desenvolvimento da doutrina espírita.

Curiosamente, no entanto, este Préface parece ter sido esquecido pelos tradutores brasileiros da obra kardeciana. Esquecimento que só não foi total, visto que o público brasileiro dispunha de duas traduções parciais deste texto. Ambas, presentes nas traduções de Salvador Gentile e de Evandro Noleto Bezerra à Revue Spirite. No número de setembro de 1865, Kardec publicou um excerto do Prefácio na seção “Notas Bibliográficas”.

Recentemente (2009), no entanto, foi publicada pela Federação Espírita Brasileira (FEB), uma nova tradução de O Céu e o Inferno (feita por Evandro Noleto Bezerra), a qual reintegra o Prefácio a seu lugar de direito. Em nota o tradutor explica que:

Este “Prefácio” não fazia parte da 4ª edição francesa de O Céu e o Inferno – edição definitiva – que serviu de base para esta tradução. Apareceu, na 1ª edição, publicada em agosto de 1865. Ao inseri-lo aqui, tivemos em vista resgatar para as novas gerações estes escritos quase desconhecidos do Codificador do Espiritismo e oferecê-los aos estudiosos da Doutrina Espírita.

Desconheço se Kardec teria retirado o Préface apenas nesta última edição por ele revista (4ª edição de 1869), ou se já o fizera nas edições anteriores. A nota acima não oferece qualquer indicação a respeito. Igualmente desconheço os motivos pelos quais Kardec teria feito isso. No entanto, parece-me claro, os tradutores brasileiros se “esqueceram” do Préface de 1865 por que basearam suas traduções na edição de 1869.

Outro fato curioso envolvendo a obra em questão é que esta 4ª edição, assumida como definitiva, só veio a lume a 1º de Julho de 1869. Três meses, portanto, após a morte de Allan Kardec. Florentino Barrera, em seu livro Resumo Analítico das Obras de Allan Kardec [4], afirma que esta edição estabelece o texto definitivo da obra uma vez que teria sido revista pelo próprio Kardec. Informação corroborada pela Revue Spirite (Jul/1869) que a anunciou, seguida da observação:

A parte doutrinária desta nova edição, inteiramente revista e corrigida por Allan Kardec, sofreu importantes modificações. Alguns capítulos foram inteiramente refundidos e consideravelmente aumentados.

Instigado pelo que acreditava fosse uma lacuna histórica, e, portanto, sem conhecimento do trabalho de Evandro Noleto Bezerra, empreendi minha própria tradução do texto. Empreitada assumida com o apoio do amigo Vital Cruvinel (um dos editores do blog Decodificando O Livro dos Espíritos e de quem é a revisão da tradução). Nossa ideia original era a de enviar a tradução para publicação em algum periódico interessado. No entanto, diante da realidade daquela outra iniciativa, desistimos temporariamente da ideia.

Como tradutor, meu empenho foi de evitar tanto o literalismo simplista, que ignora as distâncias linguísticas e temporais entre o texto original e o esforço de tradução; quanto uma abordagem mais livre que pudesse desvirtuar o sentido original que o autor quis impingir a sua obra, ou que pudesse abrir espaço para interpretações dúbias de sua mensagem.

Depois de concluída a tradução e sua revisão, e tão logo tomamos conhecimento do trabalho realizado por Evandro Noleto Bezerra, tivemos o cuidado de cotejar as traduções em busca de possíveis equívocos de compreensão de nossa parte. E, de minha parte, fiquei satisfeito em constatar a proximidade bem como a distância pelas opções linguísticas e estilísticas assumidas. O que poderá ser facilmente percebido pelo leitor num breve exercício comparativo. Visando possibilitar tal comparação, bem como contribuir com o avanço dos estudos da obra kardeciana no Brasil, decidi, com a anuência de Vital Cruvinel, tornar público este modesto empreendimento conjunto.

segunda-feira, 9 de março de 2015

O Prefácio “quase-esquecido” de “O Céu e o Inferno”. Parte I



Por Augusto Araújo


Em 1865, quando Allan Kardec (1804-1869) publicou o livro Le Ciel et l’Enfer ou la Justice Divine selon le Spiritisme (“O Céu e o Inferno ou a Justiça Divina segundo o Espiritismo”), o fez preceder de um Préface no qual, dentre outras coisas, propõe uma revisão de algumas de suas obras e apresenta o novo livro como continuidade de seu labor de desenvolvimento da doutrina espírita.[1]

Curiosamente, no entanto, este Préface parece ter sido esquecido pelos tradutores brasileiros da obra kardeciana. Esquecimento que só não foi total, visto que o público brasileiro dispunha de duas traduções parciais deste texto. Ambas, presentes nas traduções de Salvador Gentile e de Evandro Noleto Bezerra à Revue Spirite. No número de setembro de 1865, Kardec publicou um excerto do Prefácio na seção “Notas Bibliográficas”.[2]

Recentemente (2009), no entanto, foi publicada pela Federação Espírita Brasileira (FEB), uma nova tradução de O Céu e o Inferno (feita por Evandro Noleto Bezerra), a qual reintegra o Prefácio a seu lugar de direito. Em nota o tradutor explica que:

Este “Prefácio” não fazia parte da 4ª edição francesa de O Céu e o Inferno – edição definitiva – que serviu de base para esta tradução. Apareceu, na 1ª edição, publicada em agosto de 1865. Ao inseri-lo aqui, tivemos em vista resgatar para as novas gerações estes escritos quase desconhecidos do Codificador do Espiritismo e oferecê-los aos estudiosos da Doutrina Espírita.[3]

Desconheço se Kardec teria retirado o Préface apenas nesta última edição por ele revista (4ª edição de 1869), ou se já o fizera nas edições anteriores. A nota acima não oferece qualquer indicação a respeito. Igualmente desconheço os motivos pelos quais Kardec teria feito isso. No entanto, parece-me claro, os tradutores brasileiros se “esqueceram” do Préface de 1865 por que basearam suas traduções na edição de 1869.

Outro fato curioso envolvendo a obra em questão é que esta 4ª edição, assumida como definitiva, só veio a lume a 1º de Julho de 1869. Três meses, portanto, após a morte de Allan Kardec. Florentino Barrera, em seu livro Resumo Analítico das Obras de Allan Kardec [4], afirma que esta edição estabelece o texto definitivo da obra uma vez que teria sido revista pelo próprio Kardec. Informação corroborada pela Revue Spirite (Jul/1869) que a anunciou, seguida da observação:

A parte doutrinária desta nova edição, inteiramente revista e corrigida por Allan Kardec, sofreu importantes modificações. Alguns capítulos foram inteiramente refundidos e consideravelmente aumentados.[5]

Instigado pelo que acreditava fosse uma lacuna histórica, e, portanto, sem conhecimento do trabalho de Evandro Noleto Bezerra, empreendi minha própria tradução do texto. Empreitada assumida com o apoio do amigo Vital Cruvinel (um dos editores do blog Decodificando O Livro dos Espíritos e de quem é a revisão da tradução). Nossa ideia original era a de enviar a tradução para publicação em algum periódico interessado. No entanto, diante da realidade daquela outra iniciativa, desistimos temporariamente da ideia.

Como tradutor, meu empenho foi de evitar tanto o literalismo simplista, que ignora as distâncias linguísticas e temporais entre o texto original e o esforço de tradução; quanto uma abordagem mais livre que pudesse desvirtuar o sentido original que o autor quis impingir a sua obra, ou que pudesse abrir espaço para interpretações dúbias de sua mensagem.

Depois de concluída a tradução e sua revisão, e tão logo tomamos conhecimento do trabalho realizado por Evandro Noleto Bezerra, tivemos o cuidado de cotejar as traduções em busca de possíveis equívocos de compreensão de nossa parte. E, de minha parte, fiquei satisfeito em constatar a proximidade bem como a distância pelas opções linguísticas e estilísticas assumidas. O que poderá ser facilmente percebido pelo leitor num breve exercício comparativo. Visando possibilitar tal comparação, bem como contribuir com o avanço dos estudos da obra kardeciana no Brasil, decidi, com a anuência de Vital Cruvinel, tornar público este modesto empreendimento conjunto.



[1] Ao contrário do que aconteceu com as demais publicações de Allan Kardec, a obra O Céu e o Inferno parece não ter obtido imediatamente um grande sucesso de vendas. Se comparado com a opus magna de Kardec – Le Livre des Esprits – a qual apenas entre 1860 (ano da publicação da 2ª e definitiva edição) e 1863 somou 9 edições (10 se contarmos a partir da 1ª edição de 1857); ou mesmo com o sucesso de La Génèse, les miracles et le predictions selon le spiritisme (“A Gênese, os milagres e as predições segundo o espiritismo”), que obteve três edições no mesmo ano de sua publicação (1868), com a diferença de apenas um mês entre elas; o penúltimo dos grandes tratados kardecianos teve desempenho bastante modesto. Segundo Florentino Barrera (2003, p. 71-78), a segunda edição de O Céu e o Inferno só veio a lume em 1868, três anos após seu lançamento, portanto. Ainda segundo Barrera, a 3ª edição data de 1868-1869; e 4ª edição 1869.

[2] KARDEC, Allan. Revista Espírita, Set/1865. Notas Bibliográficas. Rio de Janeiro: FEB, 2006. p. 377-382. (Trad.: Evandro Noleto Bezerra).

[3] BEZERRA, Evandro Noleto. Nota do Tradutor. In: KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Ou a justiça divina segundo o espiritismo. Rio de Janeiro: FEB, 2009. p.11.

[4] BARRERA, Florentino. Resumo Analítico das Obras de Allan Kardec. São Paulo: USE/Madras, 2003. (Trad.: David Caparelli). Há uma discrepância na informação da data da publicação da 4ª edição fornecida por Barrera e o anúncio publicado na Revue Spirite de Julho de 1869. O pesquisador fala do lançamento ocorrido a 1º de Julho de 1869. A Revue, embora no número de Julho, dá como data do início das vendas da nova edição a 1º de Junho, um mês antes, portanto. Tanto Barrera pode ter se equivocado, quanto pode ter ocorrido um erro gráfico na publicação da Revue. Como não tenho subsídios para uma correta avaliação da questão, deixo-a em aberto, por enquanto.

[5] KARDEC, Allan. Revista Espírita. Jul/1869. À Venda em 1º de Junho de 1869. Rio de Janeiro: FEB, 2005. p. 309-310. (Trad.: Evandro Noleto Bezerra). A rigor o artigo deve ter sido escrito por A. DESLIENS que, após a morte de Allan Kardec, tornou-se o secretário-gerente da Revista Espírita, cargo, na prática, equivalente ao de redator. Contudo, sigo aqui, ao fazer essa referência bibliográfica, o padrão indicado pelos dados fornecidos pela editora na ficha catalográfica do volume correspondente ao número XII da coleção da Revista Espírita.
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