sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Terra: um Mundo de Regeneração



Por Fabio Alessio Romano Dionisi


Muito se tem falado sobre a transição que vive a Terra, de um mundo de provas e expiações para um mundo de regeneração, mas pouco tem sido publicado sobre como serão a vida e o planeta quando tivermos atingido este estágio.

Curioso a respeito, fui em busca de informações para poder compor este quadro. Naturalmente, pesquisei na literatura espírita as obras consideradas de confiança, como as compostas por Allan Kardec, Francisco Cândido Xavier, Léon Denis, Cammile Flammarion, Gabriel Delanne e J. Herculano Pires, principalmente.

Não foi menor minha surpresa ao constatar que foi escrito muito pouco a respeito. Contudo, satisfazendo a minha curiosidade e o desejo de compartilhar com os meus caros leitores, segue o que encontrei. Este escrito está, portanto, baseado naquilo que estes nossos grandes missionários e benfeitores nos passaram.

E como, sem dúvida alguma, qualquer trabalho neste sentido tem que começar pela Codificação Kardequiana, apoiamo-nos em O Evangelho Segundo o Espiritismo1, obra do Pentateuco que mais cuida da descrição das cinco categorias de mundos, segundo a classificação criada pelo Mestre Lionês.

Lendo o capítulo mencionado na referência já citada, podemos listar as seguintes características mais importantes dos Mundos Regeneradores:

– São mundos de transição entre os de Provas e Expiações, como a Terra, e os Mundos Felizes;
– Nestes, já consciente de seus erros e imperfeições, o Espírito encontra a calma e o repouso necessários para completar sua purificação;
– Contudo, o homem ainda está sob forte influência da matéria, experimentando sensações e desejos; porém, já se encontra liberto das paixões desequilibrantes e, principalmente, isento do orgulho e da inveja que tanto grassa em nosso globo terrestre;
– Além disso, o homem sofre vicissitudes, por ser densa ainda sua matéria;
– A palavra “amor” está bem mais presente, não só em nossas bocas, mas em nossos corações;
– As relações sociais são caracterizadas pela justiça; existe igualdade, retidão e equanimidade entre as pessoas;
– Todos reconhecem Deus e tentam d’Ele se aproximar, através do cumprimento de Suas Leis Divinas;
– Mas é forçoso reconhecer que ainda não existe a felicidade perfeita; antevemo-la, mas não a vivemos em sua plenitude;
– Ainda suportamos provas, porém, as expiações não mais fazem parte de nossas vidas;
– Estes mundos representam a bonança após a tempestade, o restabelecimento após a enfermidade;
– O homem tem melhor compreensão sobre o destino que o aguarda, pois está menos absorvido pelas coisas materiais;
– Mas como “não avançar é recuar”, nestes mundos ainda existe o perigo da queda; o de retornarmos aos Mundos de Provas e Expiações, pois ainda falível é o homem...
Talvez fosse suficiente o que vimos até aqui, para descrever os Mundos de Regeneração; tanto que Kardec não desenvolve muito mais além do que citamos; todavia, diante da monumental obra de J. Herculano Pires2, O Espírito e o tempo, não podemos evitar de complementar com alguns pontos muito interessantes apontados pelo grande filósofo espírita.
– Na vivência de um mundo em regeneração, consolidar-se-á a solidariedade cósmica da humanidade terrestre, por um maior intercâmbio entre as esferas celestes. Não só através de maior migração encarnatória entre mundos similares e dissimilares, bem como pela via das comunicações interplanetárias; estas últimas, inauguradas por Kardec através das comunicações mediúnicas, como as de Mozart e Pallissy, já emigrados da Terra para mundos melhores.
– O próprio planeta Terra progredirá materialmente, acompanhando o progresso moral de seus habitantes.

“Quem pudesse seguir um mundo em suas diversas fases (...) vê-lo-ia percorrer uma escala incessantemente progressiva (...) e oferecer aos seus habitantes uma morada mais agradável (...). Assim, marcham paralelamente o progresso do homem, o dos animais (...), dos vegetais (...), porque nada é estacionário na natureza (...).”

Podemos entender sob duas formas de progresso: o naturalmente gerado pela intervenção do homem sobre a matéria, como, por exemplo, pela própria mudança decorrente da acomodação do planeta, que, pelo seu amadurecimento geológico, ou através de qualquer outra intervenção telúrica que possa ocorrer, proporcionarão melhores condições de vida à humanidade terrestre.
Sem nos esquecermos, acrescentaríamos a ação benéfica dos arquitetos espirituais sob as espécies vegetal, animal e hominal, tanto no afã de criarem estruturas cada vez mais evoluídas, como no intuito de desenvolverem melhores modelos organizacionais biológicos, a serem transplantados na face do globo terrestre, proporcionando corpos físicos condizentes com um mundo de regeneração.

– De um mundo de provas e expiação, onde prevalece a ordem social, onde os indivíduos são divididos em classes de acordo com suas posses ou poder, onde as relações entre os elementos constituintes da sociedade se baseiam praticamente em transações utilitárias, passaríamos para outro, um mundo de regeneração, regido por uma ordem moral – e, acrescentaríamos, ética.

“A humanidade regenerada, embora ainda não tenha atingido a perfeição relativa dos mundos felizes, viverá numa estrutura de relações do tipo moral. Os valores pragmáticos serão substituídos naturalmente pelos valores morais, porque o homem não mais valerá pelo que possui (...) ou [pelo] poder [que tenha em suas mãos] (...), mas pelo que revela em capacidade intelectual e aprimoramento espiritual.”

– Do egocentrismo social dos indivíduos atuais (egoísmo), passando pela prática da caridade, chegaríamos ao altruísmo moral; isto é, destruindo-se o egoísmo que grassa em nosso ser, aprenderíamos a praticar a caridade, a princípio na doação de haveres materiais (assistencialismo), o que nos facultaria chegarmos à caridade em toda sua amplitude (na prática de todas as virtudes com o nosso semelhante); desprendendo-nos, ensinando-nos a doar daquilo que está em nós mesmos; enfim, a praticar o altruísmo (moral).
“Mas, a prática da caridade não pode limitar-se à criação de serviços de assistência (...).”

E continuando:

“(...) verá as coisas de mais alto e aprenderá que o valor supremo e o supremo bem estão nas leis de Deus, que são a justiça, o amor e a caridade (...).”
O homem do futuro se dedicará a educar, e não mais apenas em instruir seu semelhante.

A transformação dos indivíduos será possível pelas vias da educação (Q 917)3: “A educação, se for bem compreendida, será a chave do progresso moral. Quando se conhecer a arte de manejar os caracteres, como se conhece a de manejar as inteligências, poder-se-ão endireitá-los, da mesma maneira como se endireitam as plantas novas”. Platão, Jean-Jacques Rousseau, Johann Heinrich Pestalozzi, Allan Kardec, entre outros, já de há muito haviam compreendido e preconizado esta única via...

E, por fim, J. Herculano Pires conclui: “O próprio Espiritismo é um gigantesco esforço de educação do mundo, para que a humanidade regenerada de amanhã possa substituir, o quanto antes, a humanidade expiatória de hoje”.

Estamos convicto de que nos falta ainda muita informação para podermos aferrar uma real compreensão do que viria a ser este Mundo de Regeneração; mas, o que Kardec e Herculano descrevem já é suficiente para que ansiemos por sua chegada...



1. KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 129. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 3, itens 16 a 18.
2. PIRES, J. Herculano. O Espírito e o tempo. Introdução antropológica ao Espiritismo. 8. ed. São Paulo: Editora Paideia Ltda, 2003. Capítulo: Mundo de Regeneração.
3. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 2010.

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