quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Um dia, todos os Povos serão Irmãos



No livro Diálogos com Cientistas e Sábios, [1] a autora, Renée Weber, doutora em filosofia pela Universidade de Colúmbia (EEUU), relata que em 1985 se encontrava na Suíça, na cidade de Rougemont, onde faria uma entrevista com o famoso filósofo e sábio indiano Krishnamurti (1895-1986). Ela havia agendado o compromisso meses antes, mas, estranhamente, o filósofo não queria permitir a gravação do encontro. Weber pretendia conversar com o autor de Diálogos sobre a Vida acerca do BIG BANG, ou Grande Explosão, a teoria mais aceita, por diversos cientistas, para explicar a origem do Universo, anunciada em 1948 pelo cientista russo, naturalizado americano, George Gamow (1904-1968). [2] Era intenção da jornalista dar continuidade à temática, abordada em outra entrevista com o físico Stephen Hawking (1942 -), e que também consta do seu livro.

Contudo, Krishnamurti evita, delicadamente, tocar no assunto: “– Por que falar da Grande Explosão, quando o mundo está em chamas, as pessoas estão chorando, o homem se mostra incrivelmente cruel para com o semelhante?” Ela insiste, mas ele se esquiva, atencioso, preferindo conversar sobre a condição humana. Amor e compaixão são os seus assuntos preferenciais naquele momento. E enfatiza: a menos que a Humanidade desmantele a sua violência por dentro, a partir de uma radical mudança pessoal, todos os nossos planos estarão fadados ao fracasso. Até que seja solucionado o problema humano básico, nada mais interessa.

Há, efetivamente, nestes dias, explosões mais inquietantes em todo o mundo, ameaçando a paz no planeta, exigindo atenção especial. Não é de hoje, porém, este estado de guerra. Ficamos estarrecidos, consultando uma página na Internet, onde nos deparamos com uma longa história dos conflitos humanos, uma grande variedade de beligerâncias, desde 3.000 anos antes de Cristo, com os primeiros embates entre povos da Mesopotâmia (o atual Iraque) e invasores; guerras entre gregos e persas; a Guerra do Peloponeso, entre Atenas e Esparta; as conquistas de Alexandre, o Grande, na Ásia, tomando o império persa e chegando até a Índia; as Guerras Púnicas, quando Roma derrota Cartago. Tivemos guerras de um dia, dos 6 dias, dos 30 dias, dos mil dias, dos cem anos, guerra de Tróia, de Secessão, do Bacalhau (disputa entre a Islândia e o Reino Unido, em 1970, sobre a jurisdição da área pesqueira); Guerra dos Emboabas, dos Farrapos, dos Alfaiates. Em 1945 começa a Guerra Fria; em 1979, o Projeto Guerra nas Estrelas, um escudo protetor antimísseis. A Primeira Guerra mundial. A Segunda Guerra Mundial, com 55 milhões de mortos, 35 milhões de feridos e 3 milhões de desaparecidos. Guerra da Coreia, do Vietnã (1960-1973), do Golfo (em 1991), e entre Israelitas e Palestinos. Os recentes conflitos armados entre a Coreia do Sul e a do Norte e os ataques ao Afeganistão, após os atentados terroristas suicidas a Washington e Nova York em 11 de setembro de 2001. E neste momento crucial da História? Estaremos vivendo uma terceira guerra mundial, diferente das anteriores, lenta e longa? Na citada página da Web,[3] o autor informa que “amargurado com a invenção da bomba atômica, o físico alemão Albert Einstein (1879-1955) teria dito: Não sei como será a terceira guerra mundial, mas a quarta será de paus e pedras”.

Realmente, as consequências das guerras são estarrecedoras. A segunda guerra mundial, por exemplo. Divaldo Franco, em 1990, realizou uma jornada doutrinária ao exterior e fez uma visita ao campo de concentração e de trabalhos forçados em Mauthausen, na Áustria. Nesse local, entre 1938 e 1945, os alemães nazistas dizimaram 122.762 pessoas, com os maiores requintes de crueldade, longe de qualquer piedade ou compaixão. Outros campos de concentração foram mais terríveis, culminando com a morte de 6 milhões de pessoas, na operação chamada por Adolf Hitler (1889-1945) de solução final. Tudo isto está relatado no livro Ante os Tempos Novos (1. ed. LEAL), de autoria de Divaldo Franco e Suely Caldas Schubert. No livro, uma indagação (pag. 77): por que será que o homem pode ser tão cruel e ao mesmo tempo tão gentil? Por que será que o homem é tão impiedoso e explodem essas guerras? Estudiosos apontam quatro causas de aspecto social: políticas e ideológicas, econômicas, religiosas e educacionais.

Existe, porém, uma causa mais profunda, bem mais profunda, que muitos pesquisadores, historiadores e religiosos não atentam corretamente, porque lhes falta a correta visão psicológica do homem, do seu verdadeiro passado e da sua verdadeira natureza, e que uma soberana lei, a lei da reencarnação e seu mecanismo de reajuste, que é a legislação em torno das causas e dos efeitos, rege os destinos humanos.

Allan Kardec (1804-1869), estudioso da Palingênese e orientado pelos Espíritos Elevados, conhecia as causas sociais das guerras e da ausência da paz no mundo; mas sabia que o homem era o epicentro da questão, e renascera com a missão de oferecer solução, através do Espiritismo, a esse problema. Por isso, ao dialogar com os Espíritos Codificadores, busca penetrar o bisturi espírita na investigação dessa realidade, e indaga, na pergunta 742 de O Livro dos Espíritos: — Que é o que impele o homem à guerra? E as Entidades Amigas respondem: — Predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e transbordamento das paixões. [4] (grifamos)

A causa fundamental da guerra é o homem belicoso. “A causa principal da guerra está no atraso dos indivíduos e das sociedades humanas, donde derivam as paixões desordenadas que tomam o caráter de violência e, com sua impetuosidade, produzem os conflitos”. O que fazer, então? A guerra desaparecerá, um dia, da face da Terra? Ou devemos perder a esperança? Foi o que Allan Kardec perguntou, na questão 743 de O Livro dos Espíritos: — Da face da Terra, algum dia, a guerra desaparecerá? — SIM, quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus. Nessa época, TODOS OS POVOS SERÃO IRMÃOS. (destaque nosso) Portanto, é preciso que o homem lute contra as suas paixões. “O homem ainda cultiva suas pequenas guerras, mantém suas pequenas violências”. Como declarou Krishnamurti, é preciso depor as armas, desarmar-nos por dentro, “instalando em nós o Reino de Deus, da piedade fraternal, da tolerância”.


É o que afirma Joanna de Ângelis em O Ser Consciente [5], ao destacar que a grande problemática-desafio da criatura humana é a aquisição da paz, e que a paz mundial é uma utopia! E que a paz externa só é possível através da paz íntima. E sugere uma revisão do comportamento humano através de uma viagem para dentro de si, por meio do silêncio interior, para o ser humano compreender o significado da sua vida, a gravidade da sua conduta em relação a Deus, ao próximo, a si mesmo, e o egoísmo ceder lugar à generosidade, à doação, e, então, em silêncio íntimo, empreender a grande experiência de viver o self em harmonia com as leis da vida.



Adilton Pugliese

Referências:
[1] Edição Círculo do Livro. p. 263 a 275.
[2] Almanaque Abril 1997. p. 171.
[3] Texto A Evolução das Guerras, de Marcelo Ferroni.
[4] 76. ed. FEB.
[5] Ângelis, Joanna de. Divaldo Franco. 1. ed. LEAL. p. 117, 120.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Um outro Lugar no Mundo

Foi-se uma década. A primeira do século 21, com uma coleção de problemas e alguns avanços. A humanidade sofre com várias coisas: a fome de pelo menos um quinto da população, as catástrofes climáticas, as guerras, a má distribuição das riquezas, o desemprego em muitos países, as novas formas de violência que se espalham pelo mundo, como o bullying; países que retomam métodos fascistas de governar, intolerância, xenofobia, preconceitos, mau gosto estético e artístico…

Como se não bastassem os macro problemas, cada indivíduo carrega sua cota de dores e dificuldades, independentemente do quanto carrega no bolso. O sofrimento é bem democrático e não escolhe ricos ou pobres, homens ou mulheres, jovens ou idosos, embora varie de forma. Alguns se escondem em fortificações que já foram casas. Outros se refugiam nas drogas lícitas ou ilícitas. Outros e outras, muitos, se entregam a uma alienação voluntária e confortável, lavando as mãos como se nada lhes dissesse respeito. Puro engano!

Crise é a palavra mais usada para definir os problemas que assolam o coletivo e o individual. As manifestações dessa crise de humanidade, e ao mesmo tempo existencial, vão dos homicídios aos suicídios. Essencialmente a crise é individual, mas o coletivo influencia, já que somos em parte fruto do ambiente em que vivemos. Se uma sociedade adoece porque seus valores se esgotaram, os indivíduos passam a adoecer também.

Certamente a crise mais profunda é de ordem espiritual. As conexões com as forças superiores e com a própria natureza se enfraqueceram ao longo do século passado. O materialismo foi sendo substituído, lentamente, pelo ateísmo. “Se Auschwitz-Birke-nau existiu, Deus não existe”, disse Primo Levi no livro A trégua. Tantos horrores ao longo das últimas décadas lançaram o ser humano num vazio existencial. Falta perspectiva quanto ao futuro. A quantidade de crenças e crendices que não solucionam sua tristeza lança o ser humano numa busca incessante por algo que dê sentido e propósito à sua existência.

Vivemos numa época em que a abundância de coisas que nos são oferecidas como panaceias é imensa. Das dietas milagrosas à prosperidade infinita devida a um Deus estranhamente envolvido com as questões mundanas. Ser rico e saudável aqui e agora se tornou a finalidade da existência para muitos desesperados e desorientados. Pagam caro por esses “produtos”: juventude e beleza, e levam um contrato com Deus de brinde!

“Deus é fiel”, “Presente de Deus”, “Guiado por Deus”,… são algumas das frases coladas nos para-brisas de carros por todo canto do país. Mas esse Deus que se presta a conviver com as pessoas na condição de um mercador comum, perde muito de sua influência, força e poder de fortalecer a quem precisa nos momentos mais difíceis. Afinal, ele, Deus, também está pronto para consumo!

Mas existem aqueles e aquelas que se perguntam: isso está certo? Será o melhor caminho para percorrer no mundo? Deus é assim mesmo? Tenho que pagar pelo meu lugar no Céu? Deus é pai de alguns e não pai de todos?

Essas pessoas estão na fronteira de grandes descobertas de natureza espiritual, pois já se permitem duvidar e perguntar. Mais um passo e passam para o campo da verdadeira busca, que ainda é, como sempre foi, mais de natureza subjetiva do que objetiva. Inicia-se uma longa jornada ao fundo do ego. Quem sou eu? O que faço na vida? Qual o propósito da existência?

Com algum esforço e método, as respostas vão chegando. Descobre-se um ser imortal. Aprende que existem alguns caminhos melhores que outros, e que todos têm que fazer escolhas e estabelecer metas, além de sair da mentalidade de rebanho. Essencialmente, percebe que o principal propósito da existência é contribuir de forma positiva com o seu entorno, de acordo com suas possibilidades. Servir.

Aos poucos descobre também que essa nova rota existencial é bastante solitária, mesmo em meio à multidão. Mas a troca vale a pena!

Sair da mundanidade e percorrer um novo caminho, pagando o preço que ainda é o mesmo, vale repetir: o desprezo de uns, o sarcasmo de outros.


Paulo R. Santos

Jornal “O Espírita Fluminense”, Instituto Espírita Bezerra de Menezes – IEBM – Niterói – RJ

domingo, 25 de novembro de 2012

O Genoma Humano e a Identidade do Espírito


As pesquisas sobre o Genoma Humano fazem surgir controvérsias a respeito da identidade de cada indivíduo. Porém o Espiritismo ensina: a individualidade pertence ao Espírito imortal.

“Por uma aberração da inteligência, pessoas há que só veem nos seres orgânicos a ação da matéria e a esta atribuem todos os nossos atos.” Esta frase aparece no início do comentário de Allan Kardec às questões 147 e 148 de O Livro dos Espíritos[1], a respeito do Materialismo. Os avanços no sequenciamento da molécula do DNA de vários seres vivos, incluindo o ser humano, estão permitindo aos cientistas descobrir as causas de uma série de doenças, como o câncer, proporcionar o desenvolvimento de produtos geneticamente modificados (os produtos transgênicos) e abrir perspectivas quanto à manipulação dos genes ainda durante o processo de formação do feto. Porém, essas pesquisas tem gerado o surgimento de questões éticas como a clonagem de um indivíduo e, recentemente, a questão do comportamento humano ser consequência de determinados genes1.

É sobre essa última questão que desejamos discutir nesta matéria. Ela se enquadra na afirmativa acima de Kardec e o destaque que o Genoma Humano tem recebido da mídia nacional e internacional revela a crença materialista por detrás dele. Motivados por um artigo publicado na revista internacional Journal of Molecular Biology (abril de 2002)[2] e por uma matéria publicada na revista Pesquisa Fapesp Especial (abril de 2003)[3] apresentaremos uma discussão sobre o assunto que consideramos ser de grande interesse ao movimento espírita já que ele envolve a questão da identidade ou individualidade dos Espíritos.

No artigo da referência [2], o professor de Bioética da Faculdade de Medicina da Universidade de Genebra (Suíça), Prof. Dr. Alex Mauron, questiona a crença de que todas as características do ser humano, incluindo os comportamentos e sentimentos de ordem psicológicas, são comandados pelos genes. Ele batiza essa ideia de “Metafísica genômica” pelo fato do Genoma ser considerado como sendo a “alma” de cada indivíduo. Os Espíritos são bastante claros a esse respeito [1]:

“361. Qual a origem das qualidades morais, boas ou más, do homem?

“São as do Espírito nele encarnado. Quanto mais puro é esse Espírito, tanto mais propenso ao bem é o homem.”

370. Da influência dos órgãos se pode inferir a existência de uma relação entre o desenvolvimento dos do cérebro e o das faculdades morais e intelectuais?

“Não confundais o efeito com a causa. O Espírito dispõe sempre das faculdades que lhe são próprias. Ora, não são os órgãos que dão as faculdades, e sim estas que impulsionam o desenvolvimento dos órgãos.”(Grifos nossos).

Um argumento apresentado por Mauron contrário à ideia de que a identidade de uma pessoa está diretamente associada ao seu Genoma é a existência de gêmeos monozigóticos, isto é, que possuem o mesmo Genoma. Desde que dois ou mais gêmeos são indivíduos diferentes, com comportamentos e identidades diferentes, fica evidente que não é o Genoma que determina a identidade. Porém, o professor Mauron não defende nenhuma tese espiritualista. Ele acredita que, em algum momento ao longo do desenvolvimento embrionário, existe algum tipo de evento material que determina a emergência da identidade pessoal do indivíduo. Essa “crença” (note que essa ideia não possui prova científica) reflete a postura materialista por parte do professor Mauron e da comunidade científica.

Por outro lado, apenas para vermos a importância de estarmos cientes dessas discussões, cabe mencionar que a ideia de que o Genoma determina a identidade de uma pessoa, desde o momento da concepção, favorece a luta contra o aborto e contra o uso de embriões humanos nas pesquisas científicas.

Portanto, pelo menos para defender a vida, essa ideia materialista tem alguma serventia.

O Espiritismo sela a questão ao ensinar que a causa de nossos comportamentos e de nossa identidade reside na nossa alma ou Espírito. As questões 150 e 152 de O Livro dos Espíritos[1] elucidam:

“150. A alma, após a morte, conserva a sua individualidade?

“Sim; jamais a perde. Que seria ela, se não a conservasse?”

152. Que prova podemos ter da individualidade da alma depois da morte?

“Não tendes essa prova nas comunicações que recebeis? Se não fôsseis cegos, veríeis; se não fôsseis surdos, ouviríeis; pois que muito amiúde uma voz vos fala, reveladora da existência de um ser que está fora de vós.”
1Um gene é um pedaço da molécula do DNA que é codificado numa proteína, que por sua vez, terá uma determinada função na célula ou no organismo de um ser vivo. Estima-se que o ser humano tenha entre 30 mil e 120 mil genes.

A chave para o problema da identidade de cada indivíduo está na pré-existência da alma que a traz consigo. A prova disso são as comunicações dos Espíritos que ao desencarnarem deixaram apenas o corpo físico e levaram tudo o que aprenderam. Lamentamos que a humanidade não reconhece isso como comprovação da sobrevivência da alma. O Genoma, do ponto de vista da Doutrina Espírita, é, portanto, apenas uma ferramenta do Espírito que o recebe para cumprir determinada tarefa no mundo material.

A compreensão desse importante detalhe está diretamente ligado ao problema levantado pelo professor titular de Ética e Filosofia Política da Universidade de São Paulo, Prof. Dr. Renato Janine Ribeiro, em sua matéria publicada na revista Pesquisa Fapesp Especial de abril de 2003 (referência [3]). O professor Ribeiro também questiona a expectativa de que a descoberta completa do Genoma Humano resolverá todos os problemas do ser humano, mormente, os de ordem psicológica e comportamental. Ele não discorda que esse avanço ajudará a resolver muitos problemas com doenças e insuficiências do ser humano. Mas ele questiona um outro aspecto que é de grande importância para nós espíritas.

O problema pode ser apresentado da seguinte forma, nas palavras do próprio autor[3]: “... há uma enorme tendência do ser humano a querer considerar-se coisa, objeto.” A ideia de que somos dirigidos pelas nossas características genéticas significa que não temos a liberdade de escolha. Apesar de não gostarmos dessa ideia, o professor Ribeiro argumenta que até mesmo a liberdade não é tão valorizada pois “ela implica responsabilidades”[3]. E como as pessoas tem fugido às responsabilidades, uma consequência é que: “...diante disso é comum desejar-se algo que resolva nossos problemas independentemente de nós mesmos.”

Não interessa o que causou nossos problemas e doenças mas sim como resolvê-los. “... se eu puder solucioná-los com um remédio ou cirurgia, não preciso responsabilizar-me, a fundo, por eles. Tratarei a mim mesmo como um objeto.”(Grifos nossos). Assim, a pesquisa do Genoma Humano favorece a filosofia do ser objeto e nos faz lembrar daquele antigo argumento dos que se eximem da reforma íntima: “... o espírito é forte, mas a carne é fraca”. Hoje, esse argumento se torna “... mas o genoma é fraco...”. É mais fácil crer que os nossos temperamentos desequilibrados são decorrentes dos nossos genes do que nos esforçarmos por reformar nossas tendências. É mais fácil acreditar que um dia a Ciência, com uma cirurgia, nos fará seres perfeitos do que acreditar no esforço próprio. Felizes que somos por conhecer a Doutrina Espírita que nos ensina perfeitamente o que é causa e o que é efeito. A causa reside em nosso Espírito. O efeito são os nossos atos, palavras e pensamentos. O corpo físico é apenas instrumento para que possamos trabalhar na obra da co-criação


Alexandre Fontes da Fonseca – Piscataway, New Jersey/USA – afonseca@rutchem.rutgers.edu
ARTIGO PUBLICADO NA REVISTA INTERNACIONAL DE ESPIRITISMO, JANEIRO DE 2004, PGS. 624-626

O autor é Doutor em Física pela UNICAMP e “Post-Doc” no Instituto de Física da USP.
Atualmente, o autor é “Post-Doc” no Departamento de Química de Rutgers, The State University of New Jersey, EUA.

Referências
[1] A. Kardec, O Livro dos Espíritos, Editora FEB, 76
a. Edição, (1995).
[2] A. Mauron, Journal of Molecular Biology Vol. 319, p. 957, (2002).
[3] R. J. Ribeiro, Pesquisa Fapesp Especial de abril, p. 38, (2003).
[4] A. Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Editora FEB, 112.
a. Edição, (1996).

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Kardec e o Bóson Higgs


Ao se aproximar de uma Nova Era, a da Regeneração anunciada pelos Espíritos Superiores, o planeta Terra começa a ganhar a sua maior idade e com ela, as dores e os sofrimentos tendem a diminuir e as descobertas científicas começam a ganhar espaço. Assim religião e ciência se aproximarão, e a razão científica que nascerá nos corações dos homens por certo eliminará as fantasias, as crenças cegas e os milagres. Tudo será explicado à luz dos ensinos do Cristo.

À medida que os homens de ciências vão evoluindo, Deus vai permitindo novas descobertas. O físico alemão Albert Einstein desenvolveu a Teoria da Relatividade provocando um enorme barulho. Afirmou que a ciência nos afasta de Deus, mas a ciência pura nos aproxima de Deus, e mais uma vez agora com o Bóson de Higgs, apelidado de partícula de Deus.

Allan Kardec na obra O Livro dos Espíritos (1857) - Capítulo II - 1a parte - Propriedades da Matéria, portanto há mais de 150 anos, denominou-a de “Fluido Cósmico Universal”. Na questão 30 de OLE, Allan Kardec pergunta aos Espíritos: “A matéria é formada de um só ou de muitos elementos?” Resposta: “De um só elemento primitivo. Os corpos que considerais como corpos simples não são verdadeiros elementos, mas transformações da matéria primitiva.”

Na questão 31 - “De onde provêm as diferentes propriedades da matéria?” Resposta: “Das modificações que as moléculas elementares sofrem, ao se unirem, e em determinadas circunstâncias”.

Questão 33 - “A mesma matéria elementar é suscetível de passar por todas as modificações e adquirir todas as propriedades?” Resposta: ”Sim, e é isso que deveis entender, quando dizemos que tudo está em tudo”. Esclarecendo ainda mais, o Codificador fez o seguinte comentário: “O oxigênio, o hidrogênio, o azoto, o carbono, e todos os corpos que consideramos simples não são mais do que modificações de uma substância primitiva. Na impossibilidade em que ainda nos achamos de remontar, a não pelo pensamento, a essa matéria primária, esses corpos são para nós verdadeiros elementos, e podemos sem maiores consequências, considerá-los assim até nova ordem.”

Portanto a doutrina dos espíritos já tinha o conhecimento da existência desta em partícula com o nome de Fluido Cósmico Universal. Fluido, por ser totalmente etéreo e impossível de se compreender pelos nossos cinco sentidos (visão, tato, audição, olfato e paladar); cósmico porque tudo o que está no mundo é feito dele; universal porque é a mesma substância que serve de base para tudo o que existe.

Há outras evidências de transformação do Bóson de Higgs na obra “Evolução em Dois Mundos e Mecanismos da Mediunidade”, pelo Espírito André Luiz, através da psicografia de Chico Xavier e Waldo Vieira, que afirma: “A matéria é luz coagulada” ou ainda “A matéria é luz capturada gravitacionalmente”. Toda a matéria é uma forma condensada de energia vibratória. É resultado das “inumeráveis modificações do mesmo fluido universal. Inclusive o fluido elétrico animalizado, fluido magnético, princípio ou fluido vital.”.

Higgs vê sua teoria ser comprovada


A prova da existência do Bóson de Higgs, postulada em 1964 pelo físico inglês Peter Higgs, tem um enorme impacto na ciência, já que se trata da única partícula elementar do modelo padrão que não foi observada até agora. O mecanismo de Higgs foi proposto por vários cientistas nos meados da década de 1960 como uma forma consistente de se construir uma teoria contendo partículas com massa. Depois foi incorporado a uma teoria descrevendo as interações fracas e eletromagnéticas, o hoje chamado de Modelo Padrão. Desde então se vem buscando descobrir a partícula remanescente desse mecanismo, o Bóson de Higgs. “Quero congratular-me com todos. Fico muito feliz que tenha acontecido enquanto estou vivo”, afirmou Higgs, atualmente com 83 anos, que se emocionou ao ser convocado para falar no final da apresentação dos cientistas do CERN.

O apelido de "partícula de Deus" foi cunhado pelo físico Leon Lederman, mas é mais usado por leigos, como um modo mais fácil de explicar como funcionam as partículas subatômicas e sua importância.

"Estou estupefato com a incrível velocidade com que os resultados foram obtidos", afirmou Higgs em um comunicado divulgado pela Universidade de Edimburgo, na Escócia.


Por Redação Correio Espírita, 16 Novembro 2012.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

O Adoecimento das (nas) Relações Interpessoais


Em meio à vasta rede de relações que os sujeitos experimentam, em que vivenciam suas histórias de vida, a socialização é o caminho para a construção da convivência interpessoal.

Marca imperativa, dentre os primeiros lampejos de vida, ainda mesmo quando crianças, a socialização com os primeiros pares (pais e cuidadores) é de grande importância para o desenvolvimento físico e psíquico. Primeiros passos para o conhecimento do outro e de si mesmo. Primeiros passos para as primeiras manifestações das escolhas e, quem sabe, o ensaio para o respeito das diferenças e dos diferentes.

Assim, é no seio familiar em que as primeiras experiências significativas e primárias de socialização são vivenciadas e, com tais experiências, a possibilidade dos primeiros contornos de personalidade e de reconhecimento do Eu se tornarem possíveis. Sentimentos e emoções, autoconhecimento e os primeiros nós existenciais também podem ser encontrados nesse momento.

Aos nós existenciais chamo aquelas situações traumáticas e/ou repetitivas em que os sujeitos são inseridos e que, embora sirvam de ensejo para se desenvolver algum tipo de aprendizado no campo do sentimento, atuam também como um fenômeno paralisante em relação ao Outro, uma dificuldade para o estabelecimento de relações atuais e vindouras, o que impossibilita o ser vivente de enfrentar os desafios e as oportunidades de crescimentos de novas relações interpessoais.

Em outras palavras, o medo e a desconfiança se tornam companhia constante, em detrimento da possibilidade de crescimento que mudanças em relações aos Outros pode trazer. É o velho que esbarra no novo a todo o momento. E quanto incômodo pode ser sentido e traduzido por meio de um corpo falante, de uma mente pensante e sentimentos transformados em armaduras protetoras de si mesmo e do outro. Daí nascem os questionamentos, dentre os quais se destaca esta indagação: como vai sua vida de relações?

Ando por vários lugares a escutar murmúrios e o queixume da dor nascida dos conflitos. Dor que corta para além de lugares palpáveis. Corações que choram sem cessar. Sentimentos sem nomes, emoções silenciosas e barulhentas. A necessidade de compreender a dor que lateja. A que veio a dor? O que ela quer me contar?

Vejo o quanto se relacionar é um padecimento e a enfermidade atual é gostar. Padecem almas que não escutam a si mesmas, em meio a uma sinfonia interior, lastreada pelo grito que teima em sair. Quem as ouve? Quem se ouve? Quem ouve quem?

Deseja-se o sonho do amor impossível, aquele que calou a alma e a modelou, docilizando os sentimentos alheios, a responder a uma necessidade que talvez seja somente uma fantasia, uma crença sobre a forma mais bonita de ser amado e de ser correspondido nas próprias necessidades.

As necessidades sempre existirão, motivo por que se deve perguntar se a própria necessidade não violenta a possibilidade de receber o Outro, ou seja, de estar aberto para o que o mundo circundante tem a lhe oferecer. Se eu não quero, tenho de aprender a dizer a palavra mágica – “não” –, ser livre e sustentar a escolha de não querer. E, por falar em liberdade, parafraseando Sartre, estamos condenados a ser livres. Concordo com esse brilhante filósofo e reitero suas palavras, afirmando que estamos também condenados a nos relacionarmos. Que tal começar a pensar nisso?


Fernanda Leite Bião

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O Racismo na visão do Espiritismo


Constantemente somos bombardeados de notícias através da mídia, que denunciam atos de agressão física, verbal, moral em relação ao "racismo". Temos os polêmicos "sistemas de cotas" como exemplo dessa questão. Em 1997, Jávier Godinho, jornalista da Revista Espírita Allan Kardec, publicou na mesma um artigo a respeito do Racismo. Confira essa matéria:

A imprensa apresenta, constantemente, fatos relacionados a manifestações de racismo, fora e dentro do Brasil. E mostra, também, cenas terríveis de miséria nos países mais devastados da África, onde homens, mulheres e crianças de pele negra parecem mais esqueletos vivos, semelhantes às fotos dos seis milhões de judeus exterminados nos campos de concentração nazistas.

Não seriam as esquálidas criaturas de hoje os mesmos homens que provocariam o genocídio da Alemanha de Hitler, agora em novos corpos?
O racismo é, antes de tudo, uma demonstração de atraso espiritual e desconhecimento das leis divinas. Aquele que diminui ou persegue o irmão pela cor da pele ou por qualquer outra característica étnica, viola o grande mandamento, síntese de toda a lei e dos profetas, "amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo."

Pela lei do carma, ou de causa e efeito, o racista sofrerá, em si próprio, a inteireza do sofrimento provocado ao semelhante. Pagará até o último ceitil, pois todo homem será punido naquilo em que pecar. "Quem com ferro fere, com ferro será ferido"- na expressão do próprio Cristo.

Ensina "O Livro dos Espíritos" que os homens atuais são os mesmos Espíritos que voltaram, para se aperfeiçoar em novos corpos, estando, ainda, muito longe da perfeição. A raça de agora, que por seu crescimento tende a invadir toda a Terra e substituir as raças que se extinguem, terá, também, a sua decadência. Outras raças a substituirão, descendentes dela mesma, como os civilizados contemporâneos descendem dos seres brutos e selvagens das eras primitivas. A origem das raças perde-se na noite dos tempos. Como todas pertencem à grande família humana, puderam misturar-se e produzir novos tipos. As múltiplas variedades de um mesmo fruto não impedem que constituam uma só espécie.

No final de 1939, justamente quando o racismo nazista contra o povo judeu era um dos determinantes da eclosão da Segunda Guerra Mundial, o espírito de Emmanuel começava, no Grupo Espírita Luiz Gonzaga, de Pedro Leopoldo, Minas Gerais, a psicografar, através de Francisco Cândido Xavier, o livro "O Consolador". Na obra, editada no ano seguinte pela Federação Espírita Brasileira, Emmanuel considera justo o agrupamento nos países de múltiplas coletividades pelos laços afins da educação e do sentimento. A política do racismo, todavia, é encarada como um erro gravíssimo, que pretexto algum justifica. O racismo não tem nenhuma base séria nas suas alegações que, na realidade, só encobrem o propósito tenebroso do separatismo e da tirania.

Se todavia, nenhum dos argumentos acima convence o leitor, lembramos as recentes descobertas da Arqueologia, dando-nos conta de que todos nós, seres humanos, de qualquer raça, somos originários do Continente Africano.


Javier Godinho

sábado, 17 de novembro de 2012

Qualidade de Vida


Para muitas pessoas viver é respirar, andar, comer, procriar. Outros, já se preocupam com a qualidade de vida. Há pouco tempo dizia-se que, enquanto o coração estiver batendo, existe vida. Entretanto, hoje, afirma-se, que quando o eletroencefalograma deixa de registrar as ondas cerebrais, configura-se a morte cerebral, portanto não há mais vida.

Logicamente existem os que discordam disso, pois é algo ainda muito novo na medicina, mas, o que queremos destacar é a qualidade de vida. Não basta estar andando e respirando, o coração batendo ou as ondas cerebrais registradas no encefalógrafo, é preciso que lutemos pela qualidade de vida de todas as pessoas.

Ainda nessa semana um grande jornal afirmou que milhares de crianças e adolescentes sobrevivem dos lixões. Dali eles retiram sucatas para vender, e também há os que se alimentam da comida encontrada no lixo. Por incrível que nos pareça, muitos deles se consideram felizes, porque podem tirar o sustento da família, do lixo.

Muitas vezes se tem a tendência de se julgar que essas pessoas estão respondendo por erros de vidas passadas; pode ser, mas com certeza são vítimas das injustiças sociais, do descaso dos governantes, da indiferença social.

Contudo, queremos deixar bem claro, que qualidade de vida não se refere apenas às coisas materiais, que proporcionam uma vida melhor, mas também a qualidade espiritual da vida. Viver com medo, descrente da bondade de Deus, órfão dessa maravilhosa coisa que se chama fé, é muito doloroso.

Lutem pelo direito de todos terem o suficiente para viver com dignidade, mas sempre que o mal imponha o desequilíbrio, tenhamos a coragem de dar o primeiro passo para instalar a serenidade, o amor, a humildade e a paciência, para assim garantirmos novamente a harmonia do bem.

A qualidade de vida se concretiza, também, ao cumprirmos os nossos deveres, sem aspirar nada mais que a tranquilidade da consciência. Realizando o bem, nos isentamos do mal.

Para a qualidade de vida material, precisamos de coisas que nos tranquilizem, que constituam um patrimônio. Porém, para que tenhamos qualidade espiritual, verificaremos que a segurança íntima, reside em nós mesmos, assim como a paz também é patrimônio nosso.


Amilcar Del Chiaro

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A Velocidade do Tempo e das Escolhas


Tem sido muito comum e generalizado o comentário: “meu Deus, como o tempo está passando rápido”; “nossa, já é Natal novamente”; “céus, meu dia não rende mais, não tenho mais tempo pra nada” – e assim por diante. Ouvem-se tais afirmações de pessoas de todas as idades, vivendo nas mais diversas situações, atuando nos mais diversos meios ou simplesmente já em fase de afastamento do que se chama “vida ativa”, isto é, os aposentados; e também daqueles que ainda estão no início de sua nova fase reencarnatória.

Todos que ouvimos notícias, lemos jornais e revistas, assistimos a noticiários, acessamos a internet, temos tido a oportunidade de ler, ver ou ouvir a respeito da “Ressonância Schurmann”, teoria já em estudo por vários cientistas e que demonstra a aceleração da pulsação do Universo, em geral – o que significa, em termos de avaliação desses cientistas, que o tempo, como o conhecemos aqui em nosso planeta, está passando mais rápido; que o dia antes correspondendo, de acordo com o ritmo de pulsação existente até pouco tempo, a 24 horas, hoje se restringe a 16 horas...

Isso nos parece de difícil compreensão, visto que poucos de nós temos o conhecimento necessário de Física e de Física Quântica que possa nos auxiliar a entender essa teoria, praticamente comprovada. Contudo, o que podemos constatar é que efetivamente o tempo parece estar passando muito mais rápido para todo o mundo que conhecemos – todos reclamam dessa “sensação” (ou não será sensação?), sem que se possa definir por que sentimos esse efeito.

A verdade é que se verifica uma “aceleração” na ocorrência dos fatos do nosso entorno e no mundo; é certo também que a mídia hoje é muito mais atuante e invasiva, gerando a impressão de uma proximidade maior entre criaturas e situações de todas as partes do mundo. Isso cria ainda uma monumental carga de informações que nos obriga a trabalhar num processo de assimilação e, quando necessário, de utilização, também muito mais rápida dessas informações.

No início do mês de outubro, dia 02 exatamente, estive em um congresso sobre mediunidade nos dias atuais, em que um companheiro de ideal, André Trigueiro, chamou a atenção para o efeito do excesso de energia consumida sem retorno real para o crescimento espiritual, quando levantou o problema da dispersão da atenção e do foco, originada pelo uso abusivo dos meios de comunicação e entretenimento hoje ao nosso alcance, inclusive ressaltando uma questão digna da maior reflexão de nossa parte: “maior dispersão: armadilha espiritual” – o que pode ser resultado de processo obsessivo ou mesmo anímico.

Citou ainda a advertência de Muniz Sodré, professor doutor titular da Escola de Comunicação da UFRJ: “A multiplicidade dos fatos informativos não resulta no aperfeiçoamento do cidadão”. Nós, espíritas, só podemos concordar com essa afirmativa – não é a teoria que nos promove a elevação espiritual, mas sim o bom uso dessa teoria, se ela for boa, logicamente! Não basta conhecermos de cor toda a Codificação Espírita, em que fulgura a moral do Cristo na vivência das Leis Divinas, se não nos dispusermos, mesmo com dificuldades e percalços, a lutar o “bom combate” ao qual se referia Paulo de Tarso, ou seja, a “envidar todos os esforços para vencer as nossas más inclinações e nos melhorarmos”.

Não se trata obviamente de fechar os olhos e os ouvidos para não tomar conhecimento dos fatos e dados que o progresso científico-cultural nos proporciona, mas de qualificar e não de quantificar as nossas escolhas; de fazer um melhor planejamento das nossas atribuições e compromissos e melhor adequá-los às nossas possibilidades e condições de bem atendê-los; de fazer uso inteligente dessas possibilidades e condições, no sentido de proporcionar oportunidades de crescimento intelectual e moral e, promover assim, a nosso favor e a favor dos que caminham conosco, um avanço mais tranquilo e seguro na estrada evolutiva.

Sabemos que as etapas reencarnatórias são transitórias, que as existências físicas são experiências necessárias à conquista de atributos imperecíveis para o bom relacionamento de criaturas nos dois planos da vida, criaturas imortais e com a eternidade ao seu dispor; assim, cabe-nos a responsabilidade de estabelecer estratégias de procedimentos benéficos, gerindo, da melhor forma possível, as novas situações que o avanço tecnológico, científico e intelectual nos oferece.

Cada vez mais se faz necessário encontrar tempo, apesar do “pouco tempo”, para o autoexame, a autoanálise, o tão conhecido “conhece-te a ti mesmo” – e isso é fruto de reflexão, de meditação, de avaliação criteriosa e sincera de nós mesmos em todos os aspectos; cada vez mais, faz-se necessário “o amar a si mesmo”, tal como o Mestre Jesus nos recomendou: não com egoísmo e orgulho, mas com respeito e carinho para com os “deuses” que somos, “capazes de fazer tudo o que Ele fez e muito mais”, não permitindo que excessos ou carências de qualquer tipo possam retardar indefinidamente a nossa ascensão.


Doris Gandres

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Deteriorização do Meio Ambiente numa Análise Espírita


A Natureza é sempre o livro divino, onde Deus escreveu a história de sua sabedoria, livro da vida que constitui a escola de progresso espiritual do homem. Todavia, o atual e desenfreado sistema econômico é uma das barreiras que impedem a consciência de sustentabilidade ambiental. Não é preciso ter o dom da profecia, para sabermos o catastrófico cenário no porvir do nosso Planeta.

Estamos na iminência de desastres ecológicos, de consequências imprevisíveis, em face da rota de colisão entre o homem e o meio ambiente. Um relatório de uma comissão da ONU (Organização das Nações Unidas) que estudou as mudanças climáticas, é sombrio: "Até o fim do século, três de cada dez espécies de seres vivos desaparecerão do Planeta, e a vida humana será profundamente afetada"(1).

Estudos indicam que a “mudança climática tem matado cerca de 315 mil pessoas por ano, de fome, de doenças ou de desastres naturais, e o número deve subir para 500 mil, até 2030”(2). O estudo estima que o problema do clima afete 325 milhões de pessoas, anualmente, e que, em duas décadas, esse número irá dobrar, atingindo o equivalente a 10% da população mundial da atualidade.

Os resultados dessa síndrome são alarmantes, como o aquecimento e a alteração do clima, precipitando a ocorrência de furacões, tempestades severas e, até, terremotos; o efeito do "El Niño e La Niña", também é aterrorizante, pois que acelera o degelo das calotas polares, aumentando, consequentemente, o nível do mar e inundando regiões litorâneas. Quase 25% da população mundial estão ameaçados pelas inundações, em consequência do degelo do Ártico. São reais os registros de diminuição das geleiras no Himalaia, nos Andes, no Monte Kilimanjaro, e a única estação de esqui da Bolívia, Chacaltaya, pôs fim à sua atividade, pela escassez de neve naquela região.

Os recursos "renováveis" que se consomem e o impacto sobre o meio ambiente não podem ser relegados a questões de menor importância, principalmente, levando-se em consideração a utilização da água potável. Certamente no futuro a sua posse (água potável) pode ser o motivo mais explícito de confronto bélico planetário.

É urgente que se crie uma mentalidade crítica, que permita estabelecer novos comportamentos com foco na sustentabilidade da vida humana. A sociedade deve formatar novos modelos de convivência, lastreados na fraternidade e no amor à natureza.

A falta de percepção, da interdependência e complementaridade, entre os seres humanos, gera, cada vez mais intensamente, o desequilíbrio da natureza. O cientista Stephen Hawking, no livro "O universo numa casca de noz", comenta que: "Uma borboleta batendo as asas em Tóquio pode causar chuva no Central Park de Nova Iorque”(3). Hawking explica, que "não é o bater das asas, pura e simplesmente, que gerará a chuva, mas a influência deste pequeno movimento sobre outros eventos em outros lugares é que pode levar, por fim, a influenciar o clima”(4).

Ao se desmatar as florestas, modificar cursos de rios, aterrar áreas alagadas e desestabilizar o clima, estamos destroçando as bases de uma rede de segurança ecológica extremamente sensível. "O meio ambiente em que a alma renasceu, muitas vezes constitui a prova expiatória; com poderosas influências sobre a personalidade, destarte, faz-se indispensável que o coração esclarecido coopere na sua transformação para o bem, melhorando e elevando as condições materiais e morais de todos os que vivem na sua zona de influência"(5).

Lamentavelmente ainda amargamos os contrastes de uma suprema tecnologia no campo da informática, das viagens espaciais, dos supersônicos, dos raios laser, ao tempo que ainda temos que conviver com esse desrespeito oficializado ao meio ambiente. Por outro lado, e menos mal nos parece é que a necessidade de destruição da natureza “se enfraquece no homem, à medida que o Espírito sobrepuja a matéria”(6). Realmente a consciência de proteção ambiental cresce com o nosso desenvolvimento intelectual e moral.

Devido a esses estertores de aguda dor provinda da “Mãe-Terra”, surgem, em várias partes do mundo, grupos de pessoas fanáticas, que criam seitas e cultos estranhos; abandonam emprego, família, à espera do “juízo final". “Na França há cerca de 200 seitas catastrofistas, com 300 mil adeptos. Nos Estados Unidos, 55 milhões de americanos acham que falta pouco para o mundo acabar”(7).

Os terremotos, os furações, as inundações, as erupções vulcânicas e outras catástrofes naturais são e serão parte inevitável da dinâmica da natureza. Isso não significa dizer que não possamos fazer alguma coisa para nos tornarmos menos vulneráveis. "Aprender com as catástrofes de hoje para fazer frente às ameaças futuras”(8). Somos esclarecidos por Allan Kardec, que os grandes fenômenos da Natureza, aqueles que são considerados uma perturbação dos elementos, não são de causas imprevistas, pois "tudo tem uma razão de ser e nada acontece sem a permissão de Deus"(9).

O Livro dos Espíritos afirma ser “preciso que tudo se destrua para renascer e se regenerar. Porque, o que chamamos destruição não passa de uma transformação, que tem por fim a renovação e melhoria dos seres vivos”(10). Porém, qualquer destruição não pode ocorrer antes do tempo. “Toda destruição antecipada obsta ao desenvolvimento do princípio inteligente.”(11)

Os flagelos da natureza podem ter utilidade, do ponto de vista físico, não obstante os males que ocasionam, pois que “muitas vezes mudam as condições de uma região. Mas, o bem que deles resulta só as gerações vindouras o experimentam”(12). A Terra não terá de transformar-se por meio de uma hecatombe que destrua de vez uma geração inteira. Até porque, os preceitos espíritas indicam que a atual geração desaparecerá gradativamente e uma nova lhe sucederá naturalmente, ou seja, uma parte dos espíritos que encarnavam na Terra não mais tornarão a encarnar.

Por mais difíceis que sejam os desafios a enfrentar, por conta da própria incúria humana, dinamizemos a vontade de nos harmonizar com a natureza. Não podemos esquecer que Jesus é o Caminho que nos induz aos iluminados conceitos da Verdade, onde recebemos as gloriosas sementes da sabedoria, que dominarão os séculos vindouros, preparando nossa vida terrena para as culminâncias do amor universal no mais profundo respeito à natureza.

Ante os impactos ambientais recordemos sempre que a mensagem do Cristo é o grande edifício da redenção humana em favor da natureza e da sociedade, que haverá de penetrar em todas as consciências humanas, como um dia penetrou nas consciências de Albert Schweitzer, Vicente de Paulo, da irmã Dulce, de Francisco de Assis, da Madre Teresa de Calcutá, de Chico Xavier e de Mahatma Gandhi.


Jorge Hessen


Fontes:
(1) Relatório da comissão que estuda as mudanças climáticas, da ONU (Organização das Nações Unidas), 2007
(2) Conforme Relatório Fórum Humanitário Global (FHG), instituição com sede em Genebra
(3) Hawking, Stephen. O Universo Numa Casca de Noz, São Paulo: Ed. Mandarim, 2a Edição, (2002).
(4) Hawking, Stephen. O Universo Numa Casca de Noz, São Paulo: Ed. Mandarim, 2a Edição, (2002).
(5) Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001, questão 121
(6) Kardec Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed. FEB, 2001, perg. 733.
(7) Publicado na Revista ISTO É, de 4 de agosto de 1999
(8) Mensagem do ex-Secretário-Geral da ONU , Kofi Annan, Por ocasião do Dia Internacional Para a Redução das Catástrofes Naturais, de 11 de Outubro de 2006, conforme veiculada pelo Centro Regional de Informação da ONU em Bruxelas – RUNIC.
(9) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed. FEB, 2001, perg. 536
(10) idem, questão 728
(11) idem, questão 729.
(12) idem, questão 739.

sábado, 10 de novembro de 2012

Mediunidade também na Mídia


Os temas apresentados pelo Espiritismo vivem agora a época de explosão na mídia. Antes eram ridicularizados, expostos até com agressão ou ironia, e agora surgem marcantes no cotidiano humano. É que, pela naturalidade da ideia espírita – não inventada, nem imaginada, mas lei natural –, os princípios que estruturam o Espiritismo estão gradativamente sendo absorvidos e assimilados pela cultura, pelos formadores de opinião e pelo público em geral, exatamente como fruto do amadurecimento da mentalidade humana.

Não é de se admirar, mas de se alegrar com os novos tempos. É muito natural que isso ocorra, é inevitável, pois que o Espiritismo está nas próprias leis naturais. Faltava apenas o amadurecimento trazido pela Lei de Progresso, como igualmente exposta em O Livro dos Espíritos.

Filmes, novelas, documentários, peças teatrais e músicas, entrevistas e variados programas de rádio e TV já trazem o cunho espiritualista e com facilidade migram para os temas estudados pela Doutrina Espírita. A reencarnação e a mediunidade, antes contestadas e com grande resistência, hoje são tratadas com naturalidade, especialmente fora do movimento espírita.

No caso específico da mediunidade, especialmente com as facilidades apresentadas pela internet, os filmes, entrevistas e documentários – nacionais ou não – já trazem expressiva dose de esclarecimento, apesar de pequenas distorções e faltando ainda a clareza de O Livro dos Médiuns como aporte para o correto proceder.

Isso faz pensar no cuidado que expositores, articulistas e escritores, médiuns, dirigentes e instituições devemos ter no trato com essa extraordinária faculdade humana que é a mediunidade, não exclusiva do Espiritismo, mas por ele orientada.

Agora que há mais busca pelo conhecimento espírita, nas instituições, motivada pelas facilidades da internet, o compromisso se agrava: seriedade com a temática deve ser tratada, priorizando o esclarecimento genuíno trazido pela Codificação. Prevenindo-nos de fanatismo, endeusamento de médiuns ou palestrantes, dirigentes ou aplicadores dos recursos do passe, todos somos responsáveis pelo encadeamento que dermos à prática mediúnica em nome do Espiritismo.

Na recepção das pessoas ou no atendimento fraterno, na organização do programa de atividades nas instituições, há de se superar condicionamentos, posturas arcaicas ou autoritarismo e ameaças de qualquer espécie, partindo para um correto direcionamento, a fim de que a pessoa estude e conheça o Espiritismo, para não se equivocar na prática mediúnica que, a cada dia, se torna mais comum nos diferentes estágios de vivência humana, independente de crença, sexo, condição social e outros fatores que poderiam ser citados.

Para isso é insuperável o monumental “O Livro dos Médiuns” que, diga-se de passagem, não pode ser esquecido, inclusive pelos veteranos. Devemos todos estudar a obra continuamente para oferecer orientação segura a tanta gente que chega. E aqueles que estão diretamente envolvidos com a prática mediúnica nunca devem se declarar sabedores da obra porque são espíritas há décadas ou desde o nascimento. Como diz um velho amigo, se não abrimos há uma semana qualquer dos livros da Codificação, estamos já desatualizados por uma semana, tamanho o conteúdo didático das obras que cresce aos nossos olhos, conforme avança a lei inevitável do progresso que amadurece as criaturas humanas e, por consequência, a sociedade em seu todo.

Por tudo isso, podemos ver a atualidade e a grandeza da Codificação Espírita.

Orson Peter Carrara

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Ponto de Mutação: a Visão Espírita


1. Um exame da atual experiência humana leva, inexoravelmente, à constatação de que ela vive uma de suas fases mais contraditórias, em que os extremos atingiram limites nunca antes alcançados. Jamais o progresso científico e o avanço tecnológico foram tão vertiginosos, como o observado nos últimos cem anos. Todavia, quanto ao aspecto moral, o homem não conseguiu caminhar no mesmo ritmo. Daí a razão por que os cientistas sociais são unânimes em reconhecer que o final do século passado e o início do atual constituem mais um ponto de mutação da Humanidade, cuja principal característica será a implantação de uma nova consciência, conforme acentua Leonardo Boff, em seu livro Feminino e Masculino, Uma nova consciência para o encontro das diferenças[1], escrito a quatro mãos com Rose Marie Muraro.

De acordo com eles, “... é só recentemente, no final do século XX e no início do século XXI que podemos falar realmente da emergência de uma nova consciência. A aceleração histórica e a tecnologia se tornaram incontroláveis e imprevisíveis. Mais de 90% de todas as grandes invenções foram feitas nos últimos cem anos. Assim, a humanidade caminhou de uma lenta escalada para uma aceleração explosiva, principalmente depois da invenção das tecnologias eletrônicas, das quais a mais importante é a do computador, que dá início à Segunda revolução Industrial.

Estamos vivendo, portanto, mais um “ponto de mutação” da nossa espécie, criador de uma nova consciência das novas estruturas humanas. Só que este é, talvez, o mais profundo de todos, tão radical quanto aquele que nos transformou de animais em seres humanos: nos primórdios integrados à natureza, os seres humanos também integrados entre si”.

2. Fritjof Capra[2] sustenta que a revolução da física moderna prenuncia uma revolução iminente em todas as ciências e uma transformação da nossa visão do mundo e dos nossos valores. Entende, também, que os movimentos sociais dos anos sessenta e setenta (o livro aqui citado foi escrito em 1981) representam uma nova cultura em ascensão, que, fatalmente, irá substituir as instituições vigentes, reconhecidamente obsoletas. O seu raciocínio se apoia nas tradições místicas orientais, com especial destaque para o I Ching, cujas palavras são utilizadas na abertura da referida obra: “O término de um período de decadência sobrevém do ponto de mutação. A luz poderosa que fora banida ressurge. Há movimento, mas este não é gerado pela força... O movimento é natural, surge espontaneamente. Por essa razão, a transformação do antigo torna-se fácil. O velho é descartado, e o novo é introduzido. Ambas as medidas se harmonizam com o tempo, não resultando daí, portanto, nenhum dano” (op. cit, s/n).

3. Essas opiniões, confrontadas com a realidade, dão a impressão de que não passam de utópicas esperanças de seus autores, e que é quase impossível alimentar qualquer expectativa mais otimista quanto ao futuro da Humanidade. A agressividade, tanto individual como coletiva, vem alarmando as autoridades das diferentes nações e os órgãos internacionais incumbidos de zelar pela paz mundial. A tecnologia a serviço do crime e da guerra dá uma dimensão exata dessa “era de perplexidades e contradições”, em que a fome e a miséria convivem no mesmo espaço com a fartura e a riqueza, o lixo com o luxo, a doença com a saúde, a guerra com a paz! As pesquisas de Erich Hobsbawm[3], professor aposentado do Birkbeck College da Universidade de Londres e, atualmente lecionando na New School for Social Research, de Nova York, concluem que, no século XX, mataram-se mais seres humanos do que em qualquer outra época. Mas, contraditoriamente, tais pesquisas apontam, também, que nunca se chegou a níveis de bem-estar e a transformações iguais aos observados nesse período.

4. Quem conhece a obra de Kardec não se espanta nem se admira diante dessa realidade. Em A GÊNESE, ele é por demais explicito ao afirmar que uma nova geração virá substituir aquela já velha e carcomida que ainda ocupava – e ocupa – seu lugar no mundo, o que implicará, necessariamente, uma série de sacudidelas no planeta. Adverte, porém, que tais sacudidelas não serão caracterizadas por grandes hecatombes de natureza física, porquanto ocorrerão no interior da própria Humanidade, cujas entranhas serão seriamente abaladas: “Hoje, já não são mais as entranhas do planeta que se agitam: são as da Humanidade” (p. 405).

Publicada em janeiro de l868, encerra uma autêntica profecia em relação a todos os acontecimentos que ocorrem atualmente na Terra. No Capítulo XVIII, o Codificador faz uma síntese magistral da situação da Terra neste início de um novo ciclo. Tomando como ponto de referência a Lei do Progresso, ele destaca o duplo aspecto da evolução planetária, o físico e o moral, o que conduzirá à depuração dos Espíritos encarnados e desencarnados que povoam a Terra. Enquanto a primeira se realiza de forma brusca e caracterizada por impressões muito acentuadas, a outra segue um ritmo lento, gradual e insensível. Daí a razão da distância que ainda separa as duas formas de evolução.

5. O “ponto de mutação” dos filósofos e sociólogos, com todas as consequências que as grandes transformações sempre provocaram, está definido de uma maneira clara e incontestável no seguinte trecho da referida obra: “A Humanidade tem realizado, até ao presente, incontestáveis progressos. Os homens, com a sua inteligência, chegaram a resultados que jamais haviam alcançado, sob o ponto de vista das ciências, das artes e do bem-estar material. Resta-lhe ainda um imenso progresso a realizar: o de fazerem que entre si reinem a caridade, a fraternidade, a solidariedade, que lhes assegurem o bem-estar moral. Não poderiam consegui-lo nem com as suas crenças, nem com as suas instituições antiquadas, estos de outra idade, boas para certa época, suficientes para um estado transitório, mas que, havendo dado tudo o que comportavam, seriam hoje um entrave. Já não é somente de desenvolver a inteligência o de que os homens necessitam, mas de elevar o sentimento e, para isso, faz-se preciso destruir tudo o que superexcite neles o egoísmo e o orgulho” (p. 404).

6. É indiscutível a importância do papel que o Espiritismo cabe desempenhar na árdua tarefa de elevação do sentimento humano. Isso não significa nenhuma vã pretensão de torná-lo universalmente aceito, uma vez que as enormes diferenças culturais e raciais, ainda presentes no mundo, inviabilizam tal resultado. O conflito de culturas, principalmente entre o Ocidente e o Oriente, impede, no nosso modo de ver, a sua acolhida e adoção entre povos e nações que ainda não conseguiram desembaraçar-se do formalismo e ritualismo religiosos, fato que se observa, sem exceção, em todos os credos. Isso tem gerado um outro conflito de seríssimas consequências e ao qual não se dá o devido cuidado: o conflito de teologias, que existe mesmo no seio das próprias correntes de uma mesma religião. Basta lembrar, por exemplo, as disputas que ocorrem entre partidários da Teologia da Libertação e os Ortodoxos, na Igreja Romana; entre os Tradicionalistas e os adeptos da Teologia da Prosperidade – base de todo o sistema neopentecostalista –, nas Igrejas Reformadas, ou a contenda quase bélica entre sunitas e xiitas, observada no Islamismo.

7. O Espiritismo, no seu aspecto religioso, é o único que se mantém distante dessas indesejáveis divisões, não obstante as malogradas tentativas de alguns de seus seguidores mais exaltados, o que se explica e até se justifica como resultante das reminiscências de seu passado religioso. A razão de ser de sua importância na atual conjuntura da Terra decorre desse fato. Compete-lhe, pois, a relevante missão de contribuir para a efetiva instalação, divulgação e manutenção da noção de religiosidade entre os homens, o que somente se conseguirá com a espiritualização do ser humano.

Kardec anteviu essa situação e toda sua obra se destina, iniludivelmente, à tarefa de alfabetização espiritual da Humanidade, principal causa de todos os seus males e sofrimentos. Tal encargo originariamente caberia às religiões, mas elas se deixaram levar pelas disputas internas e externas, e não assimilaram as lições legadas por Jesus. Ao invés de aproximar o homem de Deus, empenharam-se em torná-Lo cada vez mais distante, através das complicações de seus rituais, dos absurdos de seus dogmas, do verdadeiro culto de terror divino que implantaram, aliados à presunção de serem titulares absolutas da verdade, em detrimento das demais. O pároco da Igreja do Carmo em Belo Horizonte, Frei Cláudio Van Balem – que há muito anda na mira da Congregação para a Doutrina da Fé (nome moderno do Tribunal do Santo Ofício) – em entrevista concedida ao jornal ESTADO DE MINAS do dia 6 de outubro de 2002, declarou textualmente que “talvez o berço maior de toda a violência da história da humanidade se encontre nas religiões, com sua ânsia de monopolizar a verdade”. Depois de denunciar o enorme analfabetismo espiritual que ainda predomina no mundo, afirma: “... o analfabetismo é marcado pela uniformidade e conservação, e a espiritualidade pela diversidade e inovação. O analfabetismo aprisiona e fragmenta. A espiritualidade liberta e integra. Enquanto o analfabetismo exclui, a espiritualidade inclui”. E conclui dizendo que “o analfabetismo pode estar associado à religião, ao passo que as pessoas espiritualizadas vivem a religiosidade”. Essas ideias “coincidem” com aquilo que o Codificador sempre sustentou, e guardam profunda identidade com o pensamento dos Espíritos. É o que se vê, por exemplo, em Joanna de Ângelis[4]: “A religiosidade é uma conquista que ultrapassa a adoção de uma religião; uma realização interior lúcida, que independe do formalismo, mas que apenas se consegue através da coragem de o homem emergir da rotina e encontrar a própria identidade”.

Em síntese, referidas opiniões confirmam a afirmativa de que as revelações do Plano Espiritual Superior seriam comunicadas ao mundo em diferentes lugares e por diferentes pessoas, independentemente de cor, raça, posição social ou credo religioso, porque “o vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito” (João, 3: 8).


José Carlos Monteiro de Moura
 
________________________________________
[1] Boff, Leonardo e Muraro, Rose Marie – FEMININO E MASCULINO, Editora Sextante, Rio, 2002, pp 10 e 11.

[2] Capra, Fritjof – O PONTO DE MUTAÇÃO, Editora Cultrix, 1987.

[3] Hobsbawm – ERA DOS EXTREMOS – O breve século XX – 1914-1991 Cia. das Letras, São Paulo, 2003.

[4] O HOMEM INTEGRAL, psicografia de Divaldo Pereira Franco, Livraria Espírita Alvorada – Editora, Salvador, Bahia, 1991, p. 60.
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