terça-feira, 3 de abril de 2012

Préstimo da Música


Alguns dicionários e enciclopédias trazem um verbete relativo à Música que é uma palavra das menos usadas em todos os tempos. Não que tenha caído em desuso — fenômeno comum — mas que realmente jamais foi usual. Estamos falando de musicófobo, que se refere “àquele que tem aversão por Música”. Não há nenhum registro histórico que tenha havido, em qualquer época, um só exemplar de um indivíduo com tal epíteto em todo o mundo.

Por mais rude e primitivo que seja o sujeito, é impossível que tenha uma alma completamente indolente a este gênero, a ponto de não haver nenhum som, nenhuma melodia que não o sensibilize. Ainda que seja uma peça que o instigue às atitudes de baixeza, mas seus nervos não podem ser totalmente inertes ao encanto dessa arte.

Tal é o préstimo da Música à humanidade.

Contudo, a Música não é humana; isto explica em parte que não haja ninguém avesso a ela. Trata-se de uma arte divina, que vem da espiritualidade e se reflete na Terra como o brilho da Lua se reflete na água. Diríamos que nem chega a ser a própria, mas uma extensão dela, bem como o brilho refletido na água não constitui exatamente a Lua. A Música está inserida na essência espiritual como uma aptidão inata, da mesma maneira como se diz do instinto evolutivo. O Espírito nasce com o impulso de se melhorar, progredir. E nasce também com um instinto musical. Por mais que o elemento deseje a estagnação e tente barrar seu progresso evolutivo a todo custo, ele sente que não o conseguirá. Por essa analogia, ainda que se almejasse ser um musicófobo, não se lograria um intento dessa natureza.

De todas as artes a Música é a única com essa característica divina e a única que está presente em todos os tempos, pois que a Criação é também uma excelsa sinfonia.

Com efeito, além de Deus, no princípio havia apenas o nada, a escuridão e o silêncio. Desde o que os cientistas denominaram big bang, o sopro divino estabeleceu Sua obra rompendo o vazio com os elementos primitivos, quebrando a escuridão com a luz e ferindo o silencio com o som. A obra divina é destarte uma maravilhosa canção, o que fez do supremo Arquiteto o músico original, o Compositor dos compositores.

E como tudo é energia e esta se mantém pela ininterrupta vibração – de amor, aliás –, por conseguinte, a manutenção do Universo é um majestoso concerto, a ressoar mais ou menos forte aos “ouvidos espirituais”, em conformidade com a evolução individual.

Por essa constatação, diríamos que a Música é onipresente no Universo. Além de que sua arte é uma das ocupações da Espiritualidade, conforme nos diz a literatura espírita. Na espiritualidade superior, os Espíritos não se falam, eles musicam, pois que tudo que sentem, pensam e emanam é bom, justo e belo. Logo, como nosso pensamento tem forma, cheiro, cor e som, cada emanação espiritual superior também é uma vibração sonora.

Apenas isso bastaria para ponderar o valor da arte musical, entretanto, há mais.


Ery Lopes

Do livro “A Música segundo o Espiritismo”, de Ery Lopes.

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