sexta-feira, 9 de março de 2012

Gabriel Delanne – O Início de um nobre Apostulado


Allan Kardec tinha 51 anos quando começou a se ocupar com as mesas girantes e Léon Denis viveu 16 anos sem ter ouvido falar de Espiritismo. 

François-Marie-Gabriel Delanne nasceu em Paris, Rua do Caire, 21, em 23 de março de 1857. Seu pai, Alexandre Delanne e sua mãe, Marie-Alexandrine Didelot, tinham uma modesta loja de artigos de higiene. 

Alexandre Delanne viajava para seus negócios e sua esposa dirigia a loja. 

Durante suas viagens, o pai de Gabriel Delanne ouviu um dia, em Caen, falar de Espiritismo pela primeira vez. 

Era domingo, no Café do “Grand Balcon”. 

 Perto dele, dois desconhecidos mantinham uma conversa, no meio da qual um deles afirmava a existência dos espíritos e sua comunicação possível com os vivos. 

Alexandre Delanne não pôde evitar de zombar dele, mas, longe de se zangar, aquele a quem criticava lhe explicou rapidamente o que era o Espiritismo e lhe disse que um pensador, Allan Kardec, havia fundado, em Paris, uma sociedade espírita e aconselhou a leitura de certas obras escritas por esse homem. 

De volta a Paris, alguns dias após, Alexandre Delanne contou essa conversa a sua esposa. Esta, já mais espiritualista, aconselhou-o a adquirir os livros recomendados.

Foi então que ele fez a leitura de O Livro dos Espíritos e de O Livro dos Médiuns. Esses volumes interessaram profundamente Alexandre Delanne, que desejou conhecer o autor.

Acolhido fraternalmente por Allan Kardec, que morava então na Passagem Santa-Ana, foi convidado a assistir a uma das reuniões da sociedade recém-fundada. 

O convite foi aceito com alegria. Numa noite de quarta-feira, Alexandre Delanne e sua esposa assistiram a uma sessão bem interessante e, na mesma ocasião, quiseram saber se algum deles possuía mediunidade.

 “A exemplo do Mestre – escreveu mais tarde Alexandre Delanne –, dirigimos uma curta, mas fervorosa oração ao Ser Supremo e, sentados, minha mulher e eu, com o lápis numa folha de papel em branco, aguardamos, ansiosos e plenos de emoção, que o espírito quisesse manifestar-se. 

De repente – ó maravilha! –, a mão de minha querida esposa se agitou. Movida por uma força invisível, traçou rapidamente linhas em ziguezague, depois palavras apenas esboçadas, através das quais, todavia, três bem legíveis brilhavam diante de nossos olhos estupefatos:

“Crede, orai, aguardai.” 

Alexandre Delanne residia, então, na Rua Saint-Denis, na Casa dos Banhos São Salvador. 

“Foi lá – escreveu ele (fins de 1889) – que fundamos nosso Grupo. Naquele lugar, durante dez anos, abrimos nossas portas e nossos corações a todos os homens de boa vontade. 

Durante todo o tempo desse longo e laborioso período de proselitismo, não quisemos aceitar a colaboração de ninguém, apesar de nossa humilde e modesta posição social, a fim de conservar nossa inteira independência para dirigir nossos trabalhos e ter assim a maior liberdade para receber e instruir os neófitos.

Foi bom, porque jamais qualquer confusão, qualquer desordem perturbou nossas sessões.” 

A mãe de Gabriel Delanne tornou-se rapidamente uma excelente médium escrevente mecânica. 

Não podemos deixar de assinalar uma passagem do Voyage au Pays des Souvenirs (Viagem do País das Recordações), publicado por Alexandre Delanne, na revista O Espiritismo. 

“Quantas mães – escreveu ele –, quantos filhos, quantos pais encontraram a esperança, reconhecendo seres que eles supunham para sempre perdidos! Quantas almas corroídas pela dúvida encontraram, enfim, seu caminho de Damasco. 

Diante de semelhantes resultados, são esquecidas facilmente as lutas, as penas, as amarguras, as fadigas, os combates de toda sorte, suportados em face dos notáveis sucessos. 

Quão belas recompensas morais pelo pouco de bem que se pôde fazer!...” 

Citemos alguns fatos: 

Numa noite de reuniões, nosso amigo Ledoyen, antigo livreiro do Palais Royal, membro da Sociedade Espírita de Paris, nos mandou dois estrangeiros que recebemos por sua solicitação. Esses senhores assistiram à reunião como simples curiosos. 

Naquela noite, a Sra. Potet, médium escrevente, obteve, mecanicamente, uma comunicação que não conseguiu ler. 

Os hieróglifos passaram de mãos em mãos, mas dentre todos nós ninguém pôde decifrá-los, quando um dos dois visitantes pediu para ver a comunicação. 

Qual não foi o seu espanto e o nosso, quando o desconhecido nos disse que aquela comunicação estava redigida em idioma piemontês, que ele ficou no dever de nos traduzir. 

Convém destacar que esse fato típico impressionou seriamente os dois estrangeiros, porque nos pediram eles com insistência, no fim da reunião, lhes conceder uma sessão particular, isto é, recebê-los reservadamente, o que lhes foi concedido. 

Em 30 de agosto de 1862, compareceram ao encontro e nos entregaram seus cartões de visita, sem qualquer qualificação. 

“Para nos convencer melhor – disseram eles –, desejamos dirigir a um espírito que conhecemos uma evocação mental.” 

Concordamos com o pedido; apenas combinamos que, para maior segurança, ele fosse feito numa folha de papel de modo claro e não vago. 

Eles se submeteram a essa exigência e escreveram sua evocação em língua estrangeira.
Colocou-se o papel, dobrado em quatro, ao pé da lâmpada. 

A Sra. Delanne apanhou sua caneta e o espírito escreveu mecanicamente as seguintes frases: 

“Vocês me perguntam porque me opus, durante minha vida, à publicação do livro de Charles Albert, apesar de seu talento. 

É que ele combatia os abusos do clero do qual eu fazia parte. 

Eu o lamento e sofro por isso. Orem por mim. 

Vosso cardeal, hoje um simples espírito. 

Reservem o título de Eminência a um mais eminente do que eu”. 

Assinado: Lambrousquini.” 

Logo que terminou a comunicação e antes de ser dada a conhecer, pedimos a esses senhores para nos lerem o pedido escrito, que se achava sob a lâmpada. 

Ei-lo, textualmente: 

“Pedimos ao espírito de sua Eminência, o Cardeal Lambrousquini, que nos diga por que se opôs à publicação do livro que Charles Albert devia publicar.”

Nossos visitantes ficaram estupefatos com essa irrecusável prova de identidade. 

Alexandre Delanne aproveitava todas as suas viagens para fazer uma propaganda intensa em favor do Espiritismo. 

Era, portanto, normal que a família Delanne formasse adeptos fervorosos e pode-se citar entre eles o Sr. e a Sra. Pierre Potet, que foram assim iniciados muito rapidamente, graças à mediunidade da Sra. Delanne.

Tal era o meio no qual nasceu Gabriel Delanne. 

Seus pais o educaram, por conseqüência, segundo o ensino moral do Espiritismo. 

Desde sua infância, foi familiarizado com vocabulário espírita e assistiu, desde cedo, a numerosas e bem interessantes sessões. 

O pai de Gabriel Delanne foi o primeiro a falar do Espiritismo em Béziers, mais tarde tornado um centro espírita importante. 

A Sra. Ducel, presidente do Lar Espírita de Béziers e nossa colega na Comissão da União Espírita Francesa, nos narrou sobre isso uma recordação interessante. 

“Alexandre Delanne, no decorrer de suas viagens, ficava no Hôtel des Postes, quando ia a Béziers.

 Sentia-se contente em narrar que seu garoto, de sete anos, foi um dia interrogado sobre a profissão de seus pais. 

Com uma encantadora ingenuidade, Gabriel respondera: 

“Papai? Ele é espírita e mamãe também. Ela é uma boa médium. Espero, um dia, assim como minha mãe, poder honrar a minha fé.” 

A Sra Ducel tornou-se espírita pela leitura do livro de Gabriel Delanne: O Espiritismo perante a Ciência. 

Conheceu o autor somente em 1913, no Congresso de Gênova, e em seguida uma grande amizade nasceu entre eles. 

Por vezes, no curso de suas conversas, a Sra. Ducel evocava, diante de Gabriel Delanne, a recordação de seu pai. 

Ela lhe perguntou um dia se ele se lembrava de sua resposta infantil, que ela se alegrava em considerar como uma premonição. 

“Perfeitamente”, respondeu Delanne. 

Ele lhe falou, então, longamente, da mediunidade de sua mãe, mediunidade que lhe havia permitido jamais ter a menor dúvida sobre a verdade espírita, e afirmou que, bem pequeno, já convencido dessa realidade, esforçava-se em explicar o Espiritismo a seus coleguinhas, e – coisa maravilhosa! – conseguia convencê-los!” 

Gabriel Delanne começou, pois, desde pouca idade, sua tarefa de apóstolo da mais nobre das causas.

Allan Kardec via freqüentemente a família Delanne, à qual dedicava uma viva amizade.

Em suas visitas, demonstrava muito prazer em levar brinquedos para o pequeno Gabriel, que ele costumava deixar pular familiarmente em seus joelhos. 

Seria um simples sentimento de afeição? Não existiria no fundador do Espiritismo o pressentimento de que esse garoto saberia seguir seu exemplo e se tornaria, ele também, um dos apóstolos do Espiritismo? 

Durante toda a sua vida terrena, Gabriel Delanne conservou sempre a preciosa recordação do mestre, que ele exaltou em todas as suas obras, em suas conferências e discursos. 


Do livro "Gabriel Delanne, sua vida, seu apostolado e sua obra", de Paul Bodier e Henri Regnault.

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