sábado, 31 de março de 2012

A Desencarnação de Gabriel Delanne




Jean Meyer

(Revue Spirite, março de 1926)

Um homem tão valioso para seu tempo e para seus contemporâneos, um semeador de tão úteis lições não nos deveria deixar agora.

Fazia muitos anos que ele sofria, fisicamente.

Estava doente e preso a uma dolorosa cadeira de rodas.

Para qualquer outra pessoa, menos para ele, a existência terrena teria sido apenas um martírio.

Muitos, em seu lugar, teriam pedido para sair dessa vida. Todavia, de si próprio ele tirava uma bravura que não fraquejava em nenhum instante, e sua alma, sempre bem jovem, sempre bem alerta, não se revoltava contra a adversidade dolorosa para o seu espírito.

A bem da verdade, parecia que todas as forças enfraquecidas por um corpo esgotado estavam concentradas num espírito irredutivelmente ativo e criador.

Não havia mês em que não se encontrasse em algum lugar, nas publicações espíritas, a assinatura e o pensamento encorajador de Gabriel Delanne.

No silêncio de seu retiro forçado, esse espírita sempre lutava, num ininterrupto combate, contra o erro dos incrédulos e a parcialidade dos zombeteiros, agrupava em seu derredor os que partilhavam de sua doutrina filosófica, moral e científica, e lhes prodigalizava o pão nutritivo de uma sadia massa, o alimento espiritual que fortalece as crenças entre os que a adquirem e as consolida entre os que tendem para a dúvida.

Ele preparava, compunha, publicava obra após obra.

Sabíamos que, mesmo não ignorando a situação precária de sua saúde, havia elaborado para o futuro um plano de trabalho que comportava a realização de ainda mais uma importante obra.

Ele era desses espíritas que têm o orgulho de dizer:

“Espírita sempre o fui. O tempo de minhas primeiras recordações remonta a 1860. Meu pai era espírita. Aprendi o francês ouvindo-o falar de Espiritismo, com explicações e raciocínios.

Formei minhas concepções sobre o mundo e as criaturas pela prática daqueles raciocínios.”

Entretanto, Gabriel Delanne não podia imaginar, nos dias de sua adolescência, que se tornaria um dos grandes vultos do Espiritismo kardecista em seu tempo.

O destino parecia querer conduzi-lo para outros caminhos. Jovem ainda, cursava a Escola Central das Artes e Profissões: deveria ser engenheiro eletricista.

Assim, ele já confrontava seu pensamento com as precisões da Ciência e pode-se dizer que essa formação intelectual lhe foi um auxiliar jamais esquecido, sempre utilizado no terreno onde ele devia prosseguir uma notável obra de proselitismo.

No Espiritismo de Gabriel Delanne, na elaboração de suas obras, na ordenação de sua lógica, aparece, em todas as páginas, em todas as exposições, esse aspecto da exatidão científica, esse respeito pela verdade demonstrada, esse cuidado racional de apoiar a afirmação num testemunho preciso.

Seus primeiros estudos não o desviaram das pesquisas sobre o Espiritismo experimental, do qual houvera tido comprovação na própria família.
Nos começos de 1870, dedicou-se à Doutrina, resolutamente.

Adquiriu, então, pela observação de fenômenos verificados pessoalmente, a certeza de que nenhuma concepção materialista do mundo poderia explicar esses fenômenos essencialmente psíquicos.

Desde aquele dia, começou sua pesquisa e pode-se dizer que ele pesquisava sempre, com a mesma tenacidade, com a mesma vontade inabalável, até no momento em que fechou os olhos para reabri-los sobre as perspectivas do Além.

Ele quis conhecer todos os grandes médiuns e com eles experimentar.

Sua obra é farta em relações onde presta conta daquilo que viu, fornecendo explicação bem alicerçada na Doutrina e nos fatos.

Em 1897, fundava a Revista Científica e Moral do Espiritismo. Havia publicado seu primeiro livro em 1883.

Será necessário recordar os títulos das demais?

Todas as suas obras se acham hoje entre os grandes clássicos do Espiritismo e o mundo inteiro as conhece: Pesquisa sobre a Mediunidade, A Alma é Imortal, O Espiritismo perante a Ciência, O Fenômeno espírita, A Evolução Anímica, As Aparições Materializadas dos Vivos e dos Mortos, Os Fantasmas dos Vivos, As Aparições dos Mortos, A Reencarnação, etc.

Gabriel Delanne era presidente da União Espírita Francesa e membro da Comissão do Instituto Metapsíquico Internacional.

Morreu no momento em que ia escrever, para o Boletim da União, uma daquelas eloquentes páginas que levavam a marca do mais nobre pensamento e onde ele enviava sua fraternal saudação a todos os espíritas franceses, pela próxima Assembleia Geral da União Espírita Francesa.

Infelizmente, não foi essa página que se leu no cabeçalho do Boletim, porém um necrológio.

O homem de bem, que acaba de cumprir sua tarefa neste mundo, tinha lamentado não comparecer ao Congresso Espírita Internacional, em setembro de 1925, por dificuldades de locomoção.

Sua voz, porém, lá se fez ouvir e, no instante em que redigimos estas linhas, parece-nos ser um dever elementar para com Gabriel Delanne dar-lhe a palavra e ouvi-lo ainda nos dizer o que ele afirmava com uma grande confiança, em sua bela mensagem ao Congresso, onde falava, como membro honorário da Federação Espírita Internacional:

“Amanhã, todos os homens de boa-fé serão forçosamente conduzidos ao conhecimento da individualidade humana, do princípio pensante da alma e, por consequência, da sobrevivência após a morte.

Nenhuma vã argumentação prevalecerá diante dos fortes testemunhos que emanam diretamente do além, onde a vida é mais real do que a da Terra.

Para todas as nossas pesquisas, não temamos pedir ao mundo invisível as informações necessárias.

Não nos esqueçamos de que uma falange de grandes sábios continua no Além a se interessar por nossos trabalhos. Eles se juntam aos Espíritos de Luz, que tomaram a direção do grande movimento de renovação moral e intelectual, tão necessário para o momento atual!

Solicitemos sua presença, com todas as nossas forças! Que eles nos inspirem!”

Fraternal apelo à Ciência dos homens e à Ciência dos espíritos. Era toda a vida de Gabriel Delanne, sintetizada em poucas palavras.

Agora, nosso grande amigo, nosso grande irmão, está do outro lado, junto aos nossos guias. Nossos pensamentos o acompanham em sua serena ascensão.

Não duvidemos de seu breve retorno para nós, a fim de sempre nos ajudar e esclarecer, porque a desencarnação lhe aumentará a capacidade espiritual.


Texto extraído do livro Gabriel Delanne, seu Apostolado e sua Obra, de Paul Bodier e Henri Regnault.


Nota:
(**) Em 15 de fevereiro de 1926 sofrendo com a paralisia e a cegueira, Gabriel Delanne desencarnou em Paris às sete horas da manhã.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Imagem e Mensagem: Deus Sabe – Joanna de Ângelis

Do livro “Filho de Deus”, psicografado pelo médium Divaldo Pereira Franco e ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis, a mensagem “Deus Sabe” nos reafirma a onipresença e onisciência do Criador.




quinta-feira, 29 de março de 2012

A Vida do Espírito


Tomemos a alma ao sair deste mundo e vejamos o que se passa depois dessa transmigração. Extinguindo-se as forças vitais, o Espírito se desprende do corpo no momento em que cessa a vida orgânica; a separação, porém, não é brusca e instantânea. Começa, algumas vezes, antes da cessação da vida; não é sempre completa no instante da morte.

Demonstramos que entre o espírito e o corpo há um laço semimaterial que constitui um primeiro invólucro; ele não se rompe subitamente, e, enquanto subsiste, o Espírito fica num estado de perturbação, que pode ser comparado ao que sucede ao despertar; muitas vezes, mesmo, ele duvida da morte; sente que existe e não compreende que possa viver sem o corpo, de que se vê separado; os laços que o unem à matéria o tornam, mesmo, acessível a certas sensações físicas; dizia um deles que sentia os vermes lhe roerem o corpo.

O Espírito só se reconhece, depois de completamente livre: até aí ele não conhece perfeitamente a sua situação. A duração deste estado de perturbação é variável; pode ser de algumas horas ou de muitos anos, mas é raro que, ao fim de alguns dias, ele não se reconheça, mais ou menos bem.

Não falamos senão das almas chegadas já a certo grau de adiantamento moral, porque, entre os selvagens, a vida espiritual não é suficientemente ativa para que eles se identifiquem com a nova situação. Faz-se que estes Espíritos reencarnem muito rapidamente, a fim de apressar o momento em que gozando de seu inteiro livre-arbítrio, tornar-se-ão os únicos senhores de seus destinos.

Do mesmo modo para muitos Espíritos das nações civilizadas, a morte produz tal alteração, que eles acham tudo estranho, e é preciso certo tempo para que se familiarizem com a nova maneira de perceber as coisas.

É solene o momento em que um deles vê cessar a sua escravidão pela ruptura do laço que o retém ao corpo. À entrada no mundo dos Espíritos ele é acolhido por amigos que o recebem, como de volta de penosa viagem. Encontra os mortos amados, cuja perda lhe tinha sido cruciante pesar, e se a travessia foi feliz, se o tempo de exílio foi empregado de forma proveitosa, é por eles felicitado pelo combate corajosamente sustentado. Aos pais juntam-se os amigos que ele conheceu outrora e todos, felizes e radiantes, voam no éter infinito. Começa, então, verdadeiramente, para ele uma nova existência. - O invólucro fluídico do Espírito constitui uma espécie de corpo de forma definida, limitada e análoga à nossa. Vimos pelo estudo dos turbilhões de Helmholtz, como se poderia conceber este estado, mas este corpo não tem absolutamente os nossos órgãos e não pode sentir todas as nossas impressões.

Na Terra, a visão, a audição, o tato dependem de instrumentos cuja grosseria não nos permite sentir as vibrações, em número infinito, que se estendem além dos limites de nossas fracas percepções; mas estas vibrações existem e, para o ser que as pode captar e lhes compreender a linguagem, devem elas ter uma voz mais penetrante que o majestoso murmúrio do Oceano e as queixas misteriosas do vento através das florestas.

O Espírito sente tudo o que percebemos: a luz, o som, os odores, e estas sensações não são menos reais, por nada terem de material; elas possuem, mesmo, algo de mais claro, de mais preciso, de mais sutil, porque chegam à alma sem intermediário, sem passar, como entre nós, pela série dos sentidos, que as esmaecem.

A faculdade de perceber é inerente ao espírito; é um atributo dos seres; as sensações lhe chegam de toda parte e não de certas partes determinadas. Um deles dizia, falando da vista: é uma faculdade do Espírito e não do corpo; vedes pelos olhos, mas não é o corpo que vê, é o Espírito.

Pela conformação de nossos órgãos, temos necessidade de certos veículos para nossas sensações; é assim que nos é preciso a luz para refletir os objetos, o ar para nos transmitir os sons; esses veículos se tornam inúteis, desde que não possuímos os intermediários que os exigiam. O Espírito vê, pois, sem o socorro da luz, ouve sem necessidade das vibrações do ar. Não há, por isso, escuridão para eles. Temos, assim, a chave das notáveis propriedades dos sonâmbulos lúcidos, que veem e ouvem muito além do alcance dos sentidos materiais. É que a alma, desprendida, goza de parte das prerrogativas que possui em estado de desencarnação.

Mas, as sensações perpétuas e indefinidas, por mais agradáveis que sejam, tornam-se fatigantes, por fim, se a elas não nos podemos subtrair. Tem a alma à faculdade de suspendê-las; ela pode, à vontade, deixar de ver, ouvir, sentir, ou só sentir, ouvir e ver o que quer. Essa faculdade está em razão da superioridade do ser, porque há coisas que os Espíritos inferiores não podem evitar o que lhes toma a situação penosa.

É isto o que o Espírito, a princípio, não percebe. Os atrasados não compreendem, mesmo, nada, tal como entre nós os ignorantes, que veem e se movem sem saber como.

Essa inaptidão para compreender o que lhes está acima do entendimento, unida à jactância, companheira ordinária da ignorância, é a causa das teorias absurdas que apresentam certos Espíritos, e que a nós próprios induziriam em erro se aceitássemos sem controle e sem assegurar-nos pelos meios fornecidos pela experiência e pelo hábito de conversar com eles, do grau de confiança que merecem.

Há sensações que têm, origem no próprio estado de nossos órgãos; ora, as necessidades inerentes ao nosso corpo não podem existir desde que esteja destruído o nosso invólucro carnal. O Espírito não experimenta, pois, nem a fadiga, nem a necessidade de repouso, nem a da nutrição, porque não há nenhum dispêndio a reparar; as enfermidades não o afligem. Se, algumas vezes, os médiuns veem Espíritos corcundas ou coxos, é porque eles tomam essa forma para se fazerem melhor reconhecidos pelas pessoas com quem se relacionam na Terra.

As necessidades do corpo acarretam deveres sociais que não têm razão de ser para os Espíritos; assim as preocupações dos negócios, as mil inquietações a que nos expõe a necessidade de ganhar a vida, a procura das quimeras que nos lisonjeiam a vaidade, os tormentos que criamos por superfluidades, não mais existem para eles. Sorriem de pena, vendo o trabalho a que nos entregamos, para adquirir riquezas vãs ou ridículas frioleiras.

É preciso, porém, certo grau de elevação para contemplar as coisas dessa altura. Os Espíritos vulgares interessam-se, principalmente, em nossas lutas materiais e nelas tomam parte, como podem, e incitam-nos para o bem ou para o mal, conforme sua natureza boa ou perversa.

Os Espíritos inferiores sofrem, mas as angústias não deixam de serem menos dolorosas, por nada terem de físicas. Eles têm todas as paixões, todos os desejos que os atenazavam em vida, e é seu castigo o não poder satisfazê-los. É para eles uma verdadeira tortura, que acreditam perpétuas, porque a própria inferioridade não lhes permite ver-lhe o termo, o que é ainda um castigo.

A palavra articulada é também uma necessidade da nossa organização; os Espíritos não precisam de sons que lhes vão ferir os ouvidos; compreendem-se pela transmissão do pensamento, como acontece, aqui, nos compreendermos pelo olhar. Os espíritos podem, entretanto, produzir certos ruídos; sabemos que eles são capazes de agir sobre a matéria, e esta nos transmite o som; é assim que eles fazem ouvir pancadas ou gritos, e às vezes, cantos no vazio do espaço. Trataremos de tudo o que se refere as manifestações na quinta parte.

Enquanto arrastamos penosamente nosso corpo material, na terra, rastejando presos ao solo, os Espíritos, vaporosos, etéreos, transportam-se sem fadiga de um lugar a outro, transpõem incomensuráveis espaços, com a rapidez do pensamento, e penetram em toda a parte, sem encontrar obstáculos.

O Espírito vê tudo o que vemos e mais claramente; percebe aquilo que os nossos limitados sentidos não o permitem, e, penetrando na matéria, descobre o que ela oculta à nossa vista.

Os Espíritos não são seres vagos, indefinidos, como aprouve afigurá-los até agora, mas individualidades reais, determinadas, circunscritas, que gozam de nossas faculdades e de muitas outras que nos são desconhecidas, porque inerentes à natureza deles.

Eles têm as qualidades da matéria que lhes é própria e formam a população desse universo invisível que nos comprime, nos rodeia, nos acotovela, sem cessar. Suponhamos, um instante, que o véu material que os oculta à nossa vista se levanta; veríamos uma multidão de seres a Cercar-nos, a se agitarem em torno de nós, a contemplar-nos, como o faríamos se, por acaso, nos achássemos em uma reunião de cegos. Para os Espíritos, somos tomados de cegueira e eles são os videntes.

Dissemos que o Espírito ao entrar em sua nova vida, leva algum tempo para reconhecer-se, que tudo é estranho e desconhecido para ele. Perguntar-se,-á, sem dúvida, como pode ser assim se ele já teve outras existências corporais; estas passagens sobre a Terra foram separadas por intervalos no mundo dos Espíritos e, enfim, uma vez que o espaço é sua verdadeira pátria, o Espírito não deve encontrar-se como exilado. Várias causas tendem a tornar novas para ele essas percepções, apesar de já as ter experimentado.

A morte, já o dissemos, é seguida sempre de um instante de perturbação, mas que pode ser de duração curta. Dissipada essa turvação, as ideias se elucidam pouco a pouco, e com elas a lembrança do passado, que só gradualmente volta à memória. Só quando o Espírito está inteiramente desmaterializado é que se desenrolam diante de si as suas vidas anteriores, como uma perspectiva, ao sair lentamente do nevoeiro que a envolvia. Somente, então, se lembra ele da última existência; depois, o panorama de suas passagens sobre a Terra e as voltas ao Espaço se lhes desvelam diante dos olhos. Ele vê os progressos que fez e os que lhe faltam fazer, e assim nasce o desejo de reencarnar, a fim de chegar mais depressa aos mundos felizes que entrevê.


Gabriel Delanne

Do livro “O Espiritismo perante a Ciência”, de Gabriel Delanne.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Música Espírita: Canção de Amor ao Planeta – Alma Sonora

O Grupo Alma Sonora apresentando-se no programa Despertar Espírita, produzido pelo Clube de Arte, com a música “Canção de Amor ao Planeta”.


terça-feira, 27 de março de 2012

O Papel Psicológico do Perispírito. – A Identidade


A vida psíquica de todo ser pensante apresenta uma continuidade assecuratória de sua identidade. É por não sentirmos lacuna em nossa vida mental, que nos certificamos de ser a mesma, sempre, a individualidade em nós residente. A memória religa, de forma ininterrupta, todos os estados de consciência, da infância à velhice. Sob a forma de lembranças, podemos evocar eventos do passado, dar-lhes vida factícia, julgar-lhes as fases, dar-nos conta de que, mau grado todas as vicissitudes, lutas, abalos morais, desfalecimentos ou triunfos da vontade, é sempre o mesmo eu que odiou ou amou, gozou ou sofreu. Numa palavra: que somos idênticos.

Em que parte do ser reside essa identidade?

Evidentemente, no espírito, pois é ele que sente e quer. Na Terra, as faculdades intelectuais estão ligadas, em suas manifestações, a um certo estado do corpo, e o cérebro é o órgão pelo qual o pensamento se transmite ao exterior. O cérebro, porém, muda perpetuamente, as células dos seus tecidos são incessantemente agitadas, modificadas, destruídas por sensações vindas do interior e do exterior. Mais do que as outras, essas células submetem-se a uma desagregação rápida e, num período assaz curto, são integralmente substituídas.

Como conceber, então, a conservação da memória e, com esta, a identidade?

De nossa parte, não hesitamos em crer que o perispírito, ainda aqui, representa um grande papel, evidenciando a sua necessidade, visto como os argumentos que validamos, para o mecanismo fisiológico, melhor ainda se aplicam ao funcionamento intelectual, bem mais intenso e variado que as ações da vida vegetativa ou animal. Dessas duas ordens de fatos, bem comprovados, resulta: a renovação incessante das moléculas e a conservação da lembrança, que as sensações e os pensamentos registrados não o são apenas no corpo físico, mas também no que é imutável – no invólucro fluídico da alma. Eis como se pode representar o fenômeno.

Todo o mundo sabe que para termos uma sensação faz-se preciso que um dos órgãos dos sentidos seja excitado por um movimento vibratório, capaz de irritar o nervo correspondente.

O choque recebido propaga-se até ao cérebro, onde a alma toma conhecimento dele, por um fenômeno dito de percepção. Mas, nós sabemos que, entre o cérebro e a alma, está o perispírito, que aquele choque deve atravessar, deixando-lhe um traço.

Com efeito, ao mesmo tempo em que é percebida a sensação – o que se dá no instante em que a célula cerebral entra a vibrar –, o perispírito, que transmitiu ao espírito o movimento, registrou-a.

A célula pode, então, desaparecer, cumprida a sua tarefa. A que lhe deva suceder será formada pelo perispírito, que lhe imprimirá os mesmos movimentos vibratórios que recebera. Destarte, a sensação será conservada e apta a reaparecer, quando o queira o espírito.

Importa, necessariamente, assim seja, pois a certeza do trabalho molecular do cérebro é absoluta. Pode-se até medir a intensidade da atividade intelectual pela elevação de temperatura das camadas corticais e pelas perdas excrementosas consequentes.

O substrato material é incessantemente destruído e reconstituído.

Não fosse o perispírito uma espécie de fonógrafo natural, a registrar sensações para reproduzi-las mais tarde, impossível se tornaria adquirir conhecimentos, pois o novo ser, aquele que incessantemente substitui o antigo, nada conhece do passado.

Lógico é, pois, admitir que o perispírito tem grande importância do ponto de vista psíquico, e nada há nisso que nos deva surpreender, por isso que, em suma, ele faz parte da alma e lhe serve de agente junto à matéria.


Gabriel Delanne

Do livro “Evolução Anímica”, de Gabriel Delanne.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Boas Notícias

Destaques para notícias positivas que foram divulgadas em sites durante o mês de março.

Cultura de Paz


















Prêmio Gandhi estimula comunicação para a cultura de paz


A Agência da Boa Notícia segue recebendo inscrições para o Prêmio Gandhi de Comunicação 2012. O concurso chega à quinta edição com o objetivo de premiar profissionais e estudantes de Jornalismo e Publicidade & Propaganda autores de reportagens (rádio, TV e impresso), fotografia, anúncios e campanhas enfocando Cultura de Paz. Valem trabalhos veiculados ou apresentados no período de 1º de junho de 2011 a 30 de junho de 2012. O prazo de inscrições vai até 10 de agosto. Serão distribuídos R$ 35 mil entre os vencedores em nove categorias.

Desde a primeira edição, em 2008, a ABN vê com satisfação profissionais e estudantes produzirem trabalhos que revelam a capacidade de pessoas – individualmente ou em grupo, em casa, no trabalho, nas escolas, nas ruas ou nas mais diversas entidades – darem o melhor de si na construção de uma sociedade mais humanizada e fraterna.

Ao longo desses anos, foram premiados trabalhos sobre projetos comunitários, exemplos de voluntariado, campanhas institucionais educativas, iniciativas culturais e sobre diversas outras ações envolvendo questões relativas a desenvolvimento humano, meio ambiente, saúde, educação, segurança, resolução de conflitos, esporte, cidadania. Todas as produções tiveram como fio comum a promoção da cultura de paz.

Para motivar profissionais e estudantes, o Presidente da ABN, Prof. Francisco Souto Paulino, e diretores da ONG, intensificarão agenda de visitas às redações, agências e cursos de Comunicação para conversar sobre os objetivos do Prêmio Gandhi e esclarecer dúvidas dos potenciais candidatos. Será uma forma de aproximar ainda mais a Agência dos profissionais e estudantes de Comunicação.

Regulamento

Para a edição 2012 do Prêmio Gandhi de Comunicação, poderão inscrever-se jornalistas, publicitários e estudantes de graduação em Comunicação Social, com atuação no Estado do Ceará ou em outros Estados, desde que os trabalhos inscritos sejam sobre ações e fatos do Estado do Ceará. Os participantes de outras cidades do Ceará ou outros Estados devem enviar o material pelos Correios com data de postagem até o último dia de inscrição, com confirmação via e-mail. O regulamento e a ficha de inscrição estão disponíveis no site da entidade - www.boanoticia.org.br – e na sede da Agência da Boa Notícia, na Avenida Desembargador Moreira 2120, sala 1307 - Aldeota - CEP 60170-002 - Fortaleza – Ceará. O funcionamento é de segunda a sexta-feira, de 8h às 12h e de 14h às 18h.
O prêmio global de R$ 35 mil e certificados serão distribuídos assim:

* Vencedor em reportagem de jornal ou revista: R$ 5 mil para a equipe premiada e certificados individuais para cada integrante;
* Vencedor em reportagem para televisão: R$ 5 mil para a equipe premiada e certificados individuais para cada integrante;
* Vencedor em reportagem para rádio: R$ 5 mil para a equipe premiada e certificados individuais para cada integrante;
* Vencedor em fotojornalismo: R$ 5mil para o autor do ensaio ou reportagem e certificado;
* Vencedor em campanha ou peça publicitária: R$ 5mil para o autor da campanha e certificado;
* Vencedor do Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Comunicação Social: R$ 2.500,00 e certificado para o autor;
* Vencedor em trabalho em mídia impressa de estudante de Jornalismo: R$ 2.500;
* Vencedor em trabalho em mídia eletrônica de estudante de Jornalismo: R$ 2.500,00;
*Vencedor em trabalho de estudante de Publicidade & Propaganda: R$ 2.500,00.

Fonte: Agencia da Boa Notícia, 20/03/2012.


Nova Pesquisa indica que a Meditação fortalece o Cérebro

Pesquisadores americanos descobriram mais evidências de que meditar fortalece o cérebro. Estudos anteriores feitos pela Universidade da Califórnia (UCLA), nos Estados Unidos, já haviam sugerido que meditar durante anos torna o cérebro mais espesso e fortalece conexões entre células cerebrais.

As novas pesquisas feitas pela mesma equipe californiana revelaram ainda mais benefícios associados à prática. Os resultados foram publicados pela revista Frontiers in Human Neuroscience.

O cientista Eileen Luders e seus colegas do Laboratory of Neuro Imaging da UCLA dizem ter encontrado indícios de que pessoas que meditam durante muitos anos têm quantidades maiores de dobras no córtex cerebral do que pessoas que não meditam. Isso poderia acelerar o processamento de informações.

A equipe também encontrou uma relação direta entre a quantidade de dobras e o número de anos durante os quais a pessoa meditou. Isso pode talvez ser mais uma prova da neuroplasticidade do cérebro - a habilidade do órgão de se alterar, ou se adaptar, em resposta a estímulos externos.

Córtex

O córtex é a camada externa do cérebro e tem papel fundamental na memória, atenção, pensamento e consciência. Os dobramentos corticais são o processo pelo qual a superfície do cérebro se altera para criar sulcos e dobras. Sua formação pode promover e melhorar os processos nervosos.

Presume-se, portanto, que quanto mais dobras se formam, maior a capacidade do cérebro de processar informações, tomar decisões e formar memórias. "Em vez de simplesmente comparar pessoas que meditam com as que não meditam, queríamos ver se havia uma relação entre a quantidade de prática da meditação e o grau de alteração do cérebro", disse Luders. "Quer dizer, associar o número de anos de meditação com a incidência das dobras".

Testes

Os pesquisadores fizeram exames de ressonância magnética em 50 praticantes de meditação - 28 homens e 22 mulheres. Esse grupo foi comparado a outro, de não praticantes, com idade e sexo equivalentes. Os praticantes haviam meditado em média 20 anos. Os tipos de meditação eram variados, entre eles, Zen e Vipassana.

A equipe disse ter encontrado grandes diferenças na incidência das dobras em participantes que praticavam meditação. Para os pesquisadores, a revelação mais interessante foi a correlação positiva entre o número de anos de meditação e a quantidade de dobras, especialmente em uma estrutura do cérebro conhecida como ínsula.

Sabe-se que essa estrutura está associada às emoções humanas. E que lesões na ínsula podem resultar em apatia, perda de libido e alterações na memória. "Talvez (a descoberta) mais interessante tenha sido a relação positiva entre o número de anos de meditação e a quantidade de dobramentos insulares".

Emoção e raciocínio

Luders mencionou estudos anteriores que indicam que a ínsula funcionaria como um integrador entre a emoção e o raciocínio. "Pessoas que meditam são conhecidas por serem mestras em introspecção e consciência, assim como em controle emocional e autorregulação, então os resultados fazem sentido - quanto mais tempo alguém medita, maior a incidência das dobras na ínsula".

Luders adverte que fatores genéticos e ambientais podem ter contribuído para os efeitos observados. Ainda assim, "a relação positiva entre as dobras e o número de anos de prática dá suporte à ideia de que a meditação aumenta a incidência das dobras".

Fonte: Terra Notícias, 15/03/2012.


Economia

Banco Mundial divulga queda na taxa de extrema pobreza

O Banco Mundial anunciou que o percentual de pessoas que viveram na extrema pobreza entre 2005 e 2008 caiu. Essa é a primeira vez que o banco detecta uma queda simultânea em todas as regiões do mundo em desenvolvimento durante um período de três anos, desde que começou a monitorar a pobreza extrema.

Segundo as estimativas, 1,29 bilhão de pessoas viviam com menos de US$1,25 por dia, ou R$2,13. Isso equivale a 22% da população do mundo em desenvolvimento. Em 1981, o número era mais alto – 1,94 bilhão de pessoas.

Entrevistas Domiciliares

O Banco Mundial realizou mais de 850 entrevistas domiciliares em quase 130 países. Os dados são de 2008 porque apesar de estatísticas mais recentes para países de renda média estarem disponíveis, para países de renda baixa esses dados ainda são escassos ou não são comparáveis com as estimativas anteriores.

A análise mais recente depois de 2008 revela que, apesar das crises de combustível, alimentos e economia terem visíveis impactos negativos nas populações vulneráveis, a taxa de redução da pobreza mundial continuou a cair.

Na América Latina e no Caribe, a taxa de pobreza atingiu o seu valor mais baixo até agora – 6,5% em 2008. Depois de um pico em 1984, com 14% da população vivendo abaixo de US$ 1,25 por dia, o número de pobres vem diminuindo desde então.

Vulnerabilidade

Segundo o diretor do Grupo de Pesquisa do Banco, Martin Ravallion, o mundo em desenvolvimento como um todo tem feito progressos consideráveis no combate à pobreza extrema, mas as 663 milhões de pessoas que passaram para acima da linha de pobreza típica dos países mais pobres continuam pobres pelos padrões dos países de média e alta renda.

Para ele, o volume de pessoas logo acima da linha de pobreza extrema é um indicativo de vulnerabilidade para um grande número de pessoas pobres no mundo. E no ritmo atual de progresso, cerca de 1 bilhão de pessoas ainda estarão vivendo na pobreza extrema em 2015.

Fonte: Viva Pernambuco, 06/03/2012.


Ciência

Consumo Regular de Uvas pode evitar Hipertensão, diz Estudo

Consumir uvas todos os dias seria bom para prevenir a hipertensão em pessoas que têm a pressão arterial levemente mais alta do que o normal, destacou um estudo clínico divulgado neste domingo durante uma conferência de cardiologia em Chicago, nos Estados Unidos.

A investigação indica que a ingestão desta fruta três vezes por dia pode reduzir claramente os índices em indivíduos pré-hipertensos, cuja pressão sistólica se situa entre 120 e 139 mm/Hg, e diastólica entre 80 e 89 mm/Hg (milímetros de mercúrio).

O principal autor do estudo, Harold Bays, diretor do Centro de Investigação de Louiseville (Kentucky), aguarda análises clínicas mais avançadas para confirmar estes resultados. "As uvas são repletas de potássio, conhecido por diminuir a pressão arterial", disse Bays.

Este estudo é o primeiro controlado cientificamente de que demonstraria os efeitos positivos desta fruta em pessoas hipertensas.

Os resultados da pesquisa, financiada por uma organização que promove o consumo de uvas e subvencionado por produtores da fruta, foram apresentados durante a 61ª conferência anual da Escola Americana de Cardiologia, um dos maiores fóruns mundiais da especialidade, reunido este fim de semana em Chicago (Illinois, norte dos EUA).

Fonte: Terra Notícias, 25/03/2012.


Meio Ambiente

Natureza pode ser provedora de soluções à crise, diz UICN

Convencida de que a natureza pode ser provedora de soluções à crise econômica, a diretora geral da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), Julia Marton-Lefévre, afirma que a Rio+20 - Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável - é a oportunidade ideal para dar valor aos serviços dos ecossistemas.

Em entrevista à agência Efe, Marton-Lefévre explicou os desafios que da UICN, maior organização internacional dedicada à conservação dos recursos naturais, que em setembro realizará o 5º Congresso Mundial da Natureza em Jeju (Coreia do Sul).

Neste fórum, que contará com 8 mil participantes, será debatida a maneira pela qual a natureza pode ser provedora de soluções para o clima, a segurança alimentar, o fornecimento de água ou o desenvolvimento, declarou.

Alguns meses antes, em junho, o Rio de Janeiro sediará a Cúpula da Terra, que para a chefe da UICN "é a oportunidade para incluir o meio ambiente na governança internacional".

"Os governos têm que se comprometer mais no Rio, e com o dinheiro suficiente para que os preceitos ambientais sejam levados em conta nas decisões sociais e econômicas. Os pilares do desenvolvimento sustentável têm que sair mais fortes da Cúpula do Rio", insistiu a diretora da UICN.

Além disso, ela considera "imprescindível" que a Rio+20 "tenha mais participação da sociedade civil" porque "a esta altura não tem nenhum sentido que os governos estejam debatendo em uma sala, as ONGs em outra ou as empresas em mais uma".

"Em 1992, a Cúpula de Rio representou a primeira vez que as ONGs foram em massa a uma cúpula. Suas vozes foram ouvidas, mas 20 anos depois, na Rio+20, o que importa é que contribuam para a tomada de decisões", afirmou.

Marton-Lefévre considerou fundamental que os acordos internacionais em matéria do meio ambiente se integrem em um marco comum que facilite seu cumprimento. Nessa linha, a diretora geral da UICN pede aos países que compareçam ao Rio com a visão do planeta como uma nação. "Se pensamos no planeta como uma nação, nos afetaria muito pensar que há partes de nossa nação com tanta pobreza e sem acesso à água ou à eletricidade", ressaltou.

Marton-Lefévre elogiou o trabalho do Centro de Cooperação da UICN para o Mediterrâneo, no qual estão sendo abordados coordenadamente com os 14 países da região os grandes problemas que afetam a biodiversidade mediterrânea.

Entre estes problemas, ela citou especialmente a superexploração dos recursos pesqueiros, as infraestruturas litorâneas, a mudança climática e a falta de visão de futuro na gestão deste mar.

Fonte: Terra Notícias, 25/03/2012

domingo, 25 de março de 2012

Mensagem da Semana
















Ouça a Mensagem(**)

Voz: Carlos A. Bacelli


Por Onde Fores

Por onde fores nesta longa estrada
Semeia o bem em torno dos teus passos
Sustendo sempre a cruz na caminhada
Por estrela sublime nos teus braços.

Que as lágrimas que choras
Olhos baços fertilizando a gleba abençoada
Façam nascer sobre os teus membros lassos
As messes da bondade cultivada

Incansável semeia, alma de escol
Do alvorecer do dia ao por do sol
Neste bendito afã que não tem fim

Que em lugar dos espinhos redentores
Pisarás amanhã por sobre as flores
Da terra transformada num jardim.


Mensagem psicografada por Carlos A. Bacelli.

Do CD Orações de Paz, de Carlos A Bacelli, pelos Espíritos Irmão José, Eurícledes Formiga e Aura Celeste.

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Leia aqui o nosso post e saiba mais sobre o assunto.

sábado, 24 de março de 2012

Gabriel Delanne, por Canuto Abreu


Mentalidade politécnica, afeiçoada desde cedo aos estudos exatos, às pesquisas cientificas, às observações frias, às deduções rigorosas, ao horror do erro, da ilusão e da fraude — foi o chefe supremo da parte experimental do Espiritismo, a qual deu o maior desenvolvimento ainda não suplantado.

Ninguém reuniu até hoje mais vasto e variado repertório de fenômenos espiríticos. Competente, perito, cioso da sua responsabilidade, dedicou a existência, de 1883 a 1926, ininterruptamente, à propaganda pelos fatos. A veneração que o mundo espírita lhe tributava conquistou-a ele pelo merecimento, numa luta ingente contra os numerosos opositores que a Doutrina levantava por onde ele a vulgarizava.

Para fazer a prova de que a alma humana existe durante a vida e depois da morte, não empregou jamais uma palavra de religião ou de filosofia, e assim fez notar (1). A seu ver, “os argumentos metafísicos só convencem a convencidos; são atos de fé, ou de logomaquia, desprovidos de qualquer fundamento real” (2).

Fez uma escola. Compreendendo nitidamente a tarefa que lhe coubera na consolidação da Doutrina, fez discípulos que vêm acompanhando os progressos da ciência, em todas as suas províncias, no empenho de trazer para o Espiritismo todos os elementos úteis à sua evolução. Para esta escola “c'est Ia recheche expérimentale qui, en avançant lentement mais progressivement, dans l'explication des choses aboutira nécessairement un jour à rendre démontrable incontestablement à tous ce qui n'est encore que présumable sur I'apparence des faits”. (Andry-Bourgeois, in Révue Métapsychique n.º 2, 1926). (3)

Minha retentiva é demasiado precária. Esqueço facilmente tudo. Fatos importantes dissipam-se, esfumam-se, esvaecem. E graças a Deus! Mas, não me olvidei nunca daquela tarde invernosa de novembro, em que penetrei a primeira vez o Parque de Montmorancy. Um chalé à direita entre árvores, a hera trepando pelas paredes. Vidraças fechadas e cortinas amarelas. Vozes lá dentro. Minha pancada hesitante e receosa. Mademoiselle que abre e vai anunciar-me ao apóstolo, deixando-me ali diante daquele homem forte, gordo, ar carregado e perscrutador, que era o Comandante Darget (4). E meu nome declinado na sala à esquerda por voz venerável:

— “Monsieur le docteur Abreu, donnez-vous la peine d'entrer”. (5)

E diante de mim, que entro timidamente, um homem de estatura pequena, curvado sobre bengalas, rosto delicado, cabelos grisalhos e rentes, frontal de grandes entradas, nariz fino e meio curvo, bigode amarelado de fumo e em desalinho sobre um sorriso acolhedor e permanente. Tenta avançar cambaleante. Mas, apoiado já em meus braços, deixa-se cair na poltrona, enquanto Mademoiselle lhe recobre com a manta azul, que rolara, as pernas trêmulas, os pés inchados e metidos em sapatões de lã.

Tenho ainda gravado na mente o seu olhar: o olho direito mais claro que o esquerdo, as pupilas dilatadas, a nuvem da cegueira sobre a íris.

Reminiscência!

* * *

Que hei de transcrever aqui do meu velho caderno de viagem, tão cheio de coisas?

Nasceu Delanne em Paris, no dia 23 de março de 1857. Seu pai, Alexandre Delanne, falecido em 1901, era comerciante e frequentava Allan Kardec, em cujos funerais, à beira do túmulo, falou em nome dos espíritas dos centros longínquos. Sua progenitora, Alexandrina Delanne, foi um dos médiuns do fundador do Espiritismo e faleceu nonagenária (1801-1894), conservando lucidez de espírito e firme crença até o derradeiro alento.

Delanne recebeu, portanto, educação espírita no lar.

— Conheceu Kardec?
— Perfeitamente, respondeu-me. Acariciava-me e, duma feita, pondo-me ao joelho e abraçando-me pela cintura, profetizou que eu seria um sacerdote do Espiritismo. Não fui bem um “sacerdote”, mas tenho a presunção que fiz o possível em minhas forças para bem servir à Doutrina, no setor que me coube.

— E que vem dilatando e iluminando.
— Não. Nada tenho dilatado. Tudo que há, é de Kardec. Apenas tenho feito constatações. Mostrei-as em meus livros e demonstro-as na prática diária. Nada acrescento. Penso que não virá tão cedo a este mundo quem possa dilatar e iluminar mais o que nos legou o Mestre.

— A propósito: sua opinião sobre a obra de Roustaing?
— Você fala de Roustaing, de Bordéus? (6)

— Sim, do autor de “Os Quatro Evangelhos”.
— Um grande e sincero adepto do Espiritismo. Discordo inteiramente do ponto de vista que adotou nessa obra. Acho pouco prováveis os seus fundamentos e completamente desnecessários.

— No Brasil, é obra das mais estimadas.
— Questão de afinidade de sentimentos. Os países da antiga colonização espanhola possuem alma mística e religiosa (7). Todas as doutrinas de fé aí podem ter notável crescimento. Na França, onde o povo é mais céptico, Roustaing não teve muitos adeptos e penso que está esquecido. Já o leu você?

— Sim. Como aplicação do Espiritismo, acho-a digna de meditação. Quero, entretanto, registrar sua valiosa opinião.
— Dou-a com sinceridade e não é a primeira vez que me interpelam a respeito. Não tenho, porém, competência para opinar. É um trabalho de fé. É uma obra de espíritos. Não discuto, se é verdade ou não, o que se revela sobre Jesus. A mim se me afigura irreal o Cristo que Roustaing descreve. O assunto, aliás, não me interessa. Penso que não temos base de certeza para optar entre Cristo dos Evangelhos e da tradição, e o Jesus de Roustaing.

— Mas, sua opinião sobre Jesus?
— Um chefe espiritual.

* * *

Delanne está nos seus livros e nas suas revistas. Não diferia como homem. Mentalidade positivista, sua obra é positivista. Moço ainda, com 26 anos, abandonou a profissão de engenheiro, em que principiara, para se dedicar integralmente á propaganda do Espiritismo. Paupérrimo, quando o conheci vivia dos editores de seus livros, dos assinantes de sua revista e dos amigos. Paralítico e cego. Até o fim, perfeitamente lúcido. Seu último trabalho foi o discurso que ditou e foi lido na sessão inaugural do Congresso Espírita Internacional, em 7 de setembro de 1925 (8). Nesse discurso, canto do cisne, ele se mostra, talvez pela primeira vez, o espírita completo: deísta, animista, reencarnacionista. “Appelons sur nos travaux la bénédiction divine, puisque c'est en elle que reside toute puissance, toute science, toute justice, toute bonté et tout amour”. (9)

Desencarnou em 15 de fevereiro de 1926 como um justo, rodeado de amigos e discípulos, na mesma casa onde o conheci.


NOTAS

(1) “Les Apparitions materialisées”, T. 1º, p. 2.
(2) Op. Cit. T. 2º, p. 824.
(3) "Esta é uma pesquisa experimental que, avançando lenta mas progressivamente, oferece, necessariamente, explicações sobre as coisas, que um dia se tornarão incontestavelmente demonstráveis em tudo o que ainda é apenas presumível sob a aparência dos fatos." (Nota do PENSE).
(4) O pesquisador espírita comandante Louis Darget (1847-1923), de Tours, amigo de Gabriel Delanne e Léon Denis, realizou pesquisas sobre os raios V (eflúvios ódicos) e fotografias dos espíritos. Foi pioneiro nas pesquisas de efluviografia e captação, em chapas fotográficas, da configuração dos eflúvios ódicos. Obteve várias fotografias de eflúvios humanos e de fotografias do pensamento, antecipando as experiências com a Kirliangrafia. Publicou diversos artigos em revistas espíritas sob o pseudônimo de Comandante Tégrad. (Nota do PENSE).
(5) "Senhor doutor Abreu, tenha a bondade de entrar". (Nota do PENSE).
(6) Jean-Baptiste Roustaing (1805-1879), advogado e líder espírita de Bordéus, França, contemporâneo de Allan Kardec, publicou a obra Os Quatro Evangelhos (1866), compilação em três volumes de mensagens mediúnicas obtidas pela médium belga Émilie Collignon. Obra religiosa, de nítida influência católica, fundamenta-se na tese de que Jesus era um agênere, não possuía corpo físico, mas um corpo fluídico, causando o primeiro cisma no Espiritismo francês. No Brasil, a Federação Espírita Brasileira (FEB) adotou a obra de Roustaing, provocando assim uma cisão quase irreversível no movimento espírita brasileiro. (Nota do PENSE).
(7) Foi assim que ele falou.
(8) O 3º Congresso Internacional de Espiritismo foi realizado em Paris, França, de 6 a 13 de setembro de 1925, sob a coordenação de Jean Meyer (1855-1931), pesquisador e escritor espírita suíço. Devido à dificuldade de locomoção, Gabriel Delanne não pôde comparecer ao evento. Atendendo a pedidos de Meyer e do espírito Jerônimo de Praga, Léon Denis, mesmo em idade avançada, participa do congresso, do qual foi presidente de honra.
(9) “Compte rendu du Congres de 1925”, edição Jean Meyer, p. 25.
"Nós consideramos nosso trabalho uma bênção divina, pois é aí que reside toda a potência, toda ciência, toda justiça, toda bondade e todo amor." (Nota complementar do PENSE).


Silvino Canuto Abreu (1892-1980), erudito, tradutor e escritor espírita, profundo conhecedor da história do Espiritismo, adquiriu vários documentos de Allan Kardec quando esteve na França, antes da II Guerra Mundial. Era formado em farmácia, medicina e direito. Foi fundador e presidente da Associação Paulista de Homeopatia. Escreveu os livros: O Livro dos Espíritos e sua Tradição Histórica e Lendária; O Evangelho por Fora; Bezerra de Menezes: Subsídios para a História do Espiritismo no Brasil até o ano de 1895; O Primeiro Livro dos Espíritos de Allan Kardec - 1857, edição bilingue.



Fontes: “Metapsíquica” – revista bimestral da Sociedade Metapsíquica de São Paulo (SMSP), ano I - nº 1 - abril/maio de 1936. Texto finalizado em 1º de julho de 1927.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Gotas de Luz


Objetivos da Reencarnação


Ensina-nos Allan Kardec [LE-qst 330] que a reencarnação está para os Espíritos, assim como a morte está para os encarnados: é um processo inelutável, tão certo quanto o desencarne o é para os homens.

A encarnação é uma necessidade evolutiva, porque somente ao contato com a matéria física consegue o Espírito certos elementos necessários ao seu progresso.

A luta pela sobrevivência, o período de infância, o esquecimento do passado são condições exclusivas da vida na Terra e essenciais à aquisição de certos valores.

O Espírito São Luís, examinando o tema diz:

"A passagem dos Espíritos pela vida corpórea é necessária, para que eles possam realizar, com a ajuda do elemento material, os propósitos cuja execução Deus lhe confiou. É ainda necessária por eles mesmos, pois a atividade que então se veem obrigados a desempenhar ajuda-os a desenvolver a inteligência. Deus, sendo soberanamente justo, deve aquinhoar equitativamente a todos os seus filhos. É por isso que Ele concede a todos o mesmo ponto de partida, a mesma aptidão, as mesmas obrigações a cumprir e a mesma liberdade de ação." [ESE cap IV]

Kardec completa o tema:

"A obrigação que tem o Espírito encarnado de prover ao alimento do corpo, à sua segurança, ao seu bem estar, o força a empregar suas faculdades em investigações, a exercitá-las e desenvolvê-las. Útil, portanto, ao seu adiantamento é a sua união com a matéria. Daí se constituir uma necessidade a encarnação. Além disso, pelo trabalho inteligente que ele executa em seu proveito, sobre a matéria, auxilia a transformação e progresso material do globo que lhe serve de habitação.

É assim que, progredindo, colabora na obra do Criador, da qual se torna fator inconsciente." [GEN]

Estes objetivos reencarnatórios são sistematizados didaticamente por Allan Kardec em três tipos: expiação, prova e missão [LE-qst 872].

Expiação

Expiar, segundo a definição vulgar, significa sofrer em função de alguma coisa. A expiação surge como objetivo encarnatório, quando o homem malbarata o código divino que rege o universo. Quando o indivíduo por excessos, maldade ou por imprudência fere a lei geral que cuida dos nossos destinos, torna-se incurso na Lei de Causa e Efeito, para que, através do sofrimento, se reeduque.

"A expiação consiste nos sofrimentos físicos e morais que são consequentes a uma falta, seja na vida atual, seja na vida espiritual após a morte, ou ainda em nova existência corporal." [CI-cap VIII]

Em [O Consolador-qst 246] Emmanuel afirma:

"A expiação é a pena imposta ao malfeitor que comete um crime."

Características da expiação:
Sempre dolorosa.
Sempre ligada a uma falta.


Prova (Provação)

Ainda em [O Consolador-qst 246] Emmanuel continua:

"A prova é a luta que ensina ao discípulo rebelde e preguiçoso a estrada do trabalho e da edificação espiritual."

As provas são uma série de situações apresentadas ao Espírito encarnado objetivando o seu crescimento. Através do esforço próprio, das lutas e do sacrifício ele vai burilando a sua personalidade, desenvolvendo a sua inteligência e se iluminando espiritualmente.

"Não se deve crer que todo sofrimento por que se passa neste mundo seja necessariamente o indício de uma determinada falta: trata-se, frequentemente, de simples provas escolhidas pelo Espírito, para acabar a sua purificação e acelerar o seu adiantamento." [ESE-cap V it.9]

Lembra Kardec que nem toda prova é uma expiação, mas em toda expiação há uma prova, porque diante do sofrimento expiatório, o homem ver-se-á convidado a desenvolver (lutar) pelos valores de resignação.

Características da prova:
Não está vinculada a uma falta.
Não é sempre dolorosa, embora possa ser.
Representa sempre luta para crescimento pessoal.

Missão

"Um Espírito querendo avançar mais, solicita uma missão, uma tarefa, pela qual será tanto ou mais recompensado, se sair vitorioso."[ESE-cap V it 9]

Pelo exposto, podemos entender a missão como sendo uma tarefa específica que objetiva o bem da criatura.

Lembra ainda Kardec que:

"Todo homem, sobre a Terra, tem uma pequena ou grande missão" e que "as missões dos Espíritos tem sempre o bem por objeto. Há tantos gêneros de missões quanto as espécies de interesses a resguardar."

Informa que a importância das missões está em relação com a capacidade e a elevação do Espírito, e que cada um tem sua missão neste mundo, porque cada um pode ser útil em algum sentido.

Kardec [CI] emprega ainda a expressão reparação para designar aquela condição onde o indivíduo reencarna com o propósito de fazer o bem a quem ontem fez o mal. Pode-se considerar a reparação como uma variante da missão.

Características da missão:
Tarefa específica.
Pressupõe certa condição evolutiva prévia.
Objetiva o melhoramento de algo ou alguém.


Bibliografia:

a) O Livro dos Espíritos - Allan Kardec
b) Evangelho Segundo o Espiritismo - Allan Kardec
c) A Gênese - Allan Kardec
d) O Consolador - Emmanuel/Chico Xavier
e) O Problema do Ser, do Destino e da Dor - Leon Denis
f) A Reencarnação e Suas Provas - Carlos Imbassay
g) Reencarnação - Gabriel Dellane
h) Depois da Morte - Leon Denis
i) A Memória e o Tempo - Hermínio Miranda


Fonte: Divulgação: CVDEE - Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo
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