sábado, 29 de dezembro de 2012

Imagem e Mensagem: Mandamento Maior

O que ainda nos falta como seres espirituais para estarmos integrados a essa nova fase em decurso?

Uma mensagem belíssima para reflexão de final de ano.


sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A Doutrina Espírita e as Obras Básicas - Por Yvonne do Amaral

Um artigo extraído do livro “Pelos Caminhos da Mediunidade Serena”, que reúne uma série de entrevistas e pensamentos da médium Yvonne do Amaral Pereira, em que ela expõe a sua preocupação com a importância das obras básicas de Kardec para a doutrina espírita, chamando a atenção para o estudo e a manutenção da sua pureza doutrinária.



Em Defesa de Kardec


Muito frequentemente, ouvimos adeptos do Espiritismo, declararem, não sabemos, baseados em que autoridade, que os códigos firmados por Allan Kardec foram “ultrapassados”, por obras espíritas modernas, incluindo também Léon Denis, a par do Codificador nesse conceito irreverente.

Mesmo alguns espíritas de certa circunspeção têm afirmado tal à novidade de suas tribunas, incorrendo, portanto, em melindrosa responsabilidade perante a doutrina.

No entanto, bastará pequeno raciocínio para observamos que, nem Allan Kardec, nem Léon Denis foram ultrapassados agora, e nem serão tão cedo, assim como não foi o Evangelho , que há dois mil anos, aos homens o mais perfeito código de moral até hoje conhecido, código que, não obstante ainda não é acatado pelos próprios cristãos, com poucas exceções visto que a própria Terra, com seus prejuízos de planeta inferior, não comporta por enquanto, a prática integral de tão elevados, princípios. E não poderia Allan Kardec estar ultrapassado, porque ainda não apareceram, depois dele, no mundo inteiro obras melhores que as por ele firmadas, sobre o mesmo assunto.

A humanidade, por sua vez, ainda não foi despertada pelos ensinamentos que os livros deles apresentam, e os próprios espíritas os conhecem tão poucos que, no próprio movimento espírita, são eles ainda desconhecidos nas suas mais belas e significativas expressões.

Conhecemos até mesmo médiuns, cuja instrução doutrinaria, se limita a uma única leitura de o evangelho segundo o espiritismo, e orientadores de sessões que apenas leram (dizemos leram e não estudaram) uma só vez o livro dos Espíritos, desconhecendo completamente as demais obras clássicas que com elas formam a estrutura doutrinária espírita; não assimilaram os dois compêndios lidos e por isso consideram superado o grande codificador, porque se integraram somente nas obras modernas, as quais, conquanto excelentes, apenas irradiam detalhes extraídos da base já revelada. Isso acontece até mesmo com presidentes de centros e oradores o que vem a ser de suma gravidade. Se quisermos raciocinar serenamente, sem paixões nem ideias pessoais, constataremos que os nobres espíritos incumbidos da instrução aos humanos assim não pensam.

Consideram antes Allan Kardec o mestre terreno ainda credenciado para tudo quanto voluteie em torno do espiritismo, tanto assim que tudo quanto escrevem ou ditam aos seus médiuns é baseado nos códigos kardecistas, vazados deles e neles inspirados sendo todas as teses apontadas a desenvolver em suas produções as mesmas estudadas por Kardec, além daquelas também colhidas no Evangelho Cristão.

Allan Kardec poderá ter sido ampliado, talvez completado nos seus ensinamentos pela obra ditada do espaço visto ele próprio haver afirmado que apenas estabelecida os primeiros passos doutrinários mas ultrapassados não!

Mesmo assim vemos que essa ampliação, esses complementos são inteiramente assentados em duas obras porque, se não o forem, estarão deslocados, serão ilógicos e suspeitos , o próprio raciocínio os repele diante da leitura desconexa que apresentam, como sucede a várias obras que não logram o apoio da maioria dos leitores justamente pela ausência da dita base kardecista.

Precisamos refletir que Allan Kardec somente será superado no dia em que ele mesmo aparecer na Terra, reencarnado para prosseguir o assunto ou outro à altura do mandato insigne, e quando já a maioria dos espíritas, pelo menos, tiver adquirido amplo conhecimento da revelação por ele obtida dos espíritos superiores.

Os códigos Kardecistas serão sempre surpreendentes novidades para aqueles que os consultarem pela primeira vez, como o nascimento de Jesus Nazareno de Belém de Judá é novidade para aquele que no fato presta atenção , não obstante o dito fato haver se passado há quase dois mil anos.

Se os próprios espíritas desconhecem as verdadeiras bases da doutrina que professam, como ousaremos declarar superada a obra de Kardec? Essa obra é imortal como imortal é o Evangelho, uma vez que ambos são revelações divinas e sempre existirão cérebros e corações necessitados de renovação e esclarecimento através deles .

Por enquanto é, com efeito, a fonte kardecista a única habilitada em assuntos de espiritismo capaz de expandir renovações para o futuro, visto ser o alicerce de quanto existe a respeito, até agora. O mais que podermos aceitar é que, em futuro talvez próximo a obra de Allan Kardec, poderá sofrer uma revisão uma vez que ele próprio preveniu esse acontecimento.

Para os espíritas, pois Kardec ainda é o grande desconhecido, dado a minoria que o conhece plenamente.

Ele tratou de ciência, de filosofia e de moral e tais matérias, de sua grandeza, não podem ser apenas lidas uma ou duas vezes, mas estudadas continuadamente, com método analítico, observação acurada, amor e perseverança a fim de serem bem compreendidas e praticadas , e não interpretadas e sofismada , como vemos acontecer de quando em vez...



Yvonne do Amaral Pereira

Do livro “Pelos Caminhos da Mediunidade Serena”, de Yvonne do Amaral Pereira, pag.167 “Em Defesa de Kardec”.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Seminário Yvonne do Amaral Pereira

Seminário ministrado por Sandra Ventura sobre a história de Yvonne do Amaral Pereira, abordando suas encarnações anteriores, suas obras, assim como alguns de seus trabalhos mediúnicos.


1ª parte



2ª parte

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Mensagem de Natal


Feliz Natal
“...se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz.” (Mateus 6:22)

Neste humilde cenário nasceu Aquele que trouxe ao mundo a verdadeira mensagem de Amor e Paz !

Nesse natal, que a Paz e o Amor do divino Mestre Jesus envolva a todos e que assim habite em vossos corações durante todos os dias desse novo ano que se inicia.



Feliz Natal!

Um abraço afetuoso e fraterno!

Carlos Pereira – Manancial de Luz

domingo, 23 de dezembro de 2012

Encontro Divino


Na bênção do Natal,
quando o aprendiz desditoso
contemplou toda a luz
que o Mestre lhe trazia
a Terra transformou-se
aos seus olhos em pranto.

Renovado a feliz
reconheceu que a lama
era adubo sublime;
Notou em cada espinho
uma vara de flores
e descobriu que a dor,
em toda parte, é dádiva celeste.

Assombrado,
viu-se, enfim, tal qual era,
um filho de Deus-Pai
ligado em si à Humanidade inteira.

Descortinou mil sendas para o bem
no chão duro que lhe queimava os pés.
Encontrou primaveras
sobre o frio hibernal
e antegozou colheitas multiformes
na sementeira frágil e enfermiça.

Deslumbrado,
sentiu, nas flores, estrelas mudas,
nas fontes, bênçãos do céu exilados no solo,
e nas vozes humildes da natureza
o cântico da vida
à Bondade Imortal.

Abrira-se-lhe n’alma o Grande Entendimento...

Não conseguiu articular palavra
à frente do mistério.
Somente o pranto
de alegria profunda
orvalhou-lhe o semblante em êxtase divino.

E, desde então,
passou a servir sem cessar,
dentro de indevassável silêncio,
qual se o Mestre e ele se bastassem um ao outro,
morando juntos para sempre,
à maneira de duas almas
vivendo num só corpo
ou de dois astros
a brilharem unidos,
em pulsações de luz,
no Coração o Amor.


Rodrigues de Abreu

Francisco Cândido Xavier, do livro Antologia Mediúnica do Natal, por Espíritos diversos.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Soprada por Anjos: When a Child is Born – Lee Ryan

Uma antiga canção de natal que celebra o nascimento de Jesus interpretada ao vivo pelo cantor britânico Lee Ryan, um dos integrantes do grupo Blue que está atualmente seguindo carreira solo.


sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Dos Romances Mediúnicos


Muitos dos nossos leitores, ou quase que em geral os espíritas, supõem sejam os romances mediúnicos meros arranjos literários, ficções habilidosas para exposições doutrinárias. Alguns confessam mesmo não se darem ao trabalho de ler tal literatura, visto não se interessarem por obras fictícias. Não sentem nem mesmo a curiosidade, muito razoável, demonstrando zelo pela causa esposada, de observar a arte com que os romancistas espirituais tecem os seus enredos para apresentar a magnificência do Bem, que tais livros tanto exaltam, alheios, como se deixam estar, à relação dos fatos reais da vida de cada dia, que os mesmos livros expõem paralelamente como ensinamento revelado pela Doutrina dos Espíritos.

O Espírito Adolfo Bezerra de Menezes, em certa obra mediúnica a nós concedida (Dramas da Obsessão), classifica os romances espíritas de similares das parábolas messiânicas, visto serem eles extraídos da vida real do homem, enquanto as parábolas. igualmente foram inspiradas ao Divino Mestre pela vida cotidiana dos galileus, dos judeus e de suas azáfamas diárias.

Engana-se, pois, quem julgar os referidos romances histórias ilusórias, simples composições artístico-literárias para fins de propaganda doutrinária. Estamos autorizada a declarar, dada a nossa longa convivência com os mentores espirituais, que, na grande maioria, pelo menos, senão na totalidade, nos romances mediúnicos existe a verdade de vidas humanas como fundamento, senão relatórios ligeiramente alterados a fim de não identificar completamente as personagens. No XXXV capitulo da sua bela obra «Depois da Morte», referindo-se às reallzações concretas do Além-Túmulo, o grande Léon Denis usa desta significativa descrição:

“ Construções aéreas, de cores brilhantes, de zimbórios resplandecentes: circos imensos onde se reúnem em conselho os delegados do Universo; templos de vastas proporções, donde se elevam acordes de uma harmonia divina; quadros variados, luminosos; reproduções de vidas humanas, vidas de fé e de sacrifício, apóstolos dos dolorosos, dramas do Infinito.» E nós mesmo, e também o leitor somos testemunhas de que as «reproduções de vidas humanas» acima citadas já foram ditadas aos médiuns através de visões e da psicografia e os romances da vida real aí estão, na bibliografia espírita, prestando serviços à obra de esclarecimento quanto à conduta que devemos ter, na vida social ou íntima, em face das leis de Deus.

Em «O Céu e o Inferno», de Allan Kardec, no relatório das comunicações das entidades sofredoras que o Codificador analisou, encontraremos temas variados, levantados de ocorrências reais, que poderiam ser transportados para histórias educativas modelares, de sabor espírita, ao passo que o mesmo Denis, em outro livro de sua autoria, relata acontecimentos observados durante experiências espíritas realizadas sob controle científico rigoroso, que permitiriam farto cabedal para histórias e romances fundamentados em acontecimentos reais. Qualquer médium meticuloso e honesto, que amasse os próprios desempenhos mediúnicos com verdadeiro desprendimento, do seu convívio com as individualidades espirituais colheria assuntos dignos de serem transportados para a boa literatura educativa, desde que se estribasse na verdade dos mesmos acontecimentos e não em fantasias do seu subconsciente. E quantas confissões e narrativas de Espíritos sofredores, durante as chamadas sessões práticas, encerram dramas pungentes, muitas vezes impressionantes, cujos exemplos são excelentes para a reeducação das massas?

Comumente, pois, os fatos narrados nos romances mediúnicos são extraidos das próprias vidas planetárias, remotas ou recentes, dos autores espirituais, como sabemos acontecido com as obras «Há dois mil anos... »e «Cinquenta anos depois», concedidas pela entidade instrutora Emmanuel ao médium Francisco Cândido Xavier, além de outras da mesma entidade, que ventilam existências de personagens por ela conhecidas no Além. De outras vezes os fatos são extraídos da existência dos pupilos ou amigos espirituais dos autores da obra, como o sucedido ao romance «Amor e Ódio», ditado pelo Espírito Charles; e «Dramas da Obsessão», onde a entidade Dr. Adolfo Bezerra de Menezes descreve as dramáticas peripécias de uma pequena falange de protegidos seus, encarnados e desencarnados, durante trabalhos que, como orientador espiritual de Centros Espíritas, realizou, ao passo que no volume «Nas Voragens do Pecado», a nós também concedido mediúnicamente, vemos a vida do seu autor espiritual, Charles (o Carlos Filipe 2º, da mesma obra), e de criaturas por ele muito amadas na época, ou seja, pelo século 15. E todos sabemos que o mesmo se deu com o Espírito do Conde Rochester, que em vários dos seus livros confiados à médium russa Coudessa Krijanovsky, participa o leitor não só das suas próprias atividades de Espírito em marcha de evolução, mas também da ligação milenar existente entre o seu próprio Espírito e o da médium que o serviu. Também a entidade Padre Germano confia episódios de sua vida terrena à médium espanhola Amália Domingo Soler, confidências que resultaram num dos mais belos e encantadores livros que enriquecem a bibliografia espírita: «Memórias do Padre Germano».

Todos esses luminares do mundo invisível, assim como outras individualidades esclarecidas e igualmente iluminadas são unânimes em repisar que o mundo espiritual é fértil em temas para estudos e análises e que dramas intensos ali são surpreendidos entre as recordações dos seus habitantes, os quais muitas vezes concordam em narrar ao vivo, ou seja, criando cenas sob o poder da mente, suas passadas peripécias planetárias. Sabemos também que os escritores do plano invisível, que concedem obras literárias aos encarnados, se estas são românticas, costumam reunir trechos de uma existência e trechos de outra para uma lição mais completa e lógica, figurando-os como se se tratasse de uma única fase planetária; substituem nomes, deslocam datas e localidades, quase sempre com a finalidade de não identificarem as personagens; ampliam a moral da história, adaptando-a aos ensinamentos evangélico-espíritas, no intuito de dotarem a obra de finalidade educativa; enxertam, frequentemente, noticiário espírita autêntico da época, para fins de propaganda, tal como vemos no conto «O Paralítico de Kiew», à nossa faculdade concedido pelo Espírito Léon Tolstoi, sem, contudo, alterar a essência do caso, na sua construtura veraz, e enfeitam personagens e ambientes transportando-os, algumas vezes, para a aristocracia, concedendo-lhes títulos nobiliárquicos, por não ignorarem que tais detalhes possuem a magia de melhor atrair a atenção do leitor, encantando-o com uma arte toda especial, muito embora algumas personagens fôssem realmente antigas figuras da nobreza. Vale aqui relembrar certas confidências do nosso grande amigo espiritual Camilo Castelo Branco, que, referindo-se à sua obra mediúnica «O Tesouro do Castelo», a nós ditada, afirmava que o Espaço se achava repleto de entidades da categoria moral do «Barão André Januário», personagem central da dita obra, e que ele, Camilo, não tinha necessidade de criar ficções para ditar obras mediúnicas, porque, tanto no Além como na Terra, havia temas verídicos excelentes, à sua disposição. O que lhe faltava eram médiuns que se submetessem às disciplinas necessárias ao certame. Para um literato, portanto, mas principalmente para o literato desencarnado, um ponto de referência, pequeno acontecimento da vida real do cidadão terreno ou da entidade espiritual, bem estudado e analisado, poderá transformar-se em formosa obra educativa espírita, e é o que vemos acontecer com os nossos escritores do Além, que não têm necessidade de inventar os romances que dão aos seus médiuns, porque, vasculhando a sociedade terrena e o mundo invisível, encontrarão acontecimentos dignos de serem imortalizados num livro. As Belas Letras possuem recursos expressivos para, sem se afastar da verdade, apresentar literatura romântica atraente, que poderá ser considerada como biografias de personagens que realmente existiram sobre a Terra, O Espiritismo, cuja missão é influir para renovar, melhorando todos os setores da sociedade, criou uma literatura nova, modelar, e a sua atual bibliografia mostra dignamente o que poderá ele ainda realizar futuramente nesse delicado setor.


Yvonne do Amaral Pereira

Do livro “Recordações da Mediunidade”, trecho do cap.6 “Testemunho”.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Estudo sobre a obra “Memórias de um Suicida”

Videoaula completa e comentada sobre a obra “Memórias de um Suicida”, psicografada pela médium Yvonne do Amaral Pereira e ditada pelo espírito Camilo Cândido Botelho.


Parte 1/6



Parte 2/6



Parte 3/6



Parte 4/6



Parte 5/6



Parte 6/6

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Gotas de Luz


“Com a supervisão dos espíritos, a energia emanante do passe alcança a pessoa que a recebe e, na pauta dessa confiança e merecimento, a própria pessoa emite ondas mentais características, que lhe permite assimilar os recursos vitais emitidos, retendo-os na própria constituição fisiopsicossomática, através das várias funções do sistema sanguíneo.”

Passe Magnético e Frequência Mental



O corpo físico possui trilhões de células em atividade incessante e cada órgão constitui um departamento de trabalho, com autonomia no âmbito de suas funções.

Contudo, esses órgãos são interdependentes entre si e sua coesão e equilíbrio são mantidos através de comando mental, por intermédio das oscilações do pensamento.

Variadas províncias celulares recebem constantemente as radiações mentais e lhes absorvem os princípios de reação deste ou daquele teor, pelos quais os processos da saúde e da enfermidade, do equilíbrio ou desequilíbrio são associados, conforme a direção que a vontade lhes imprima.

Associada à alimentação e à respiração comuns, esses princípios resultarão no poder mecânico da mente para a formação de anticorpos. O sistema sanguíneo representa o conjunto das energias circulantes no psicossoma, energias essas captadas do reservatório de fluído cósmico, em princípio pela mente, através de um processo similar ao da respiração. Assim sustenta-se a produção das hemácias, leucócitos, trombócitos, macrófagos, linfócitos, histiócitos, plasmócitos, monócitos, desde o baço e a medula óssea, fígado e gânglios, até o interior de cada um dos demais órgãos.

Devidamente orientado, pela prece, por exemplo, o pensamento é força que facilita a movimentação das células para efeitos de preservação ou cura. Assim como os pensamentos bons ajudam na preservação do equilíbrio, também todo desregramento de natureza física ou moral faz-se refletir em reações mentais consequentes, sobre os agrupamentos celulares, determinando desarmonia orgânica.

O exercício mediúnico constitui processo fundamental para o alcance e manutenção do equilíbrio. O passe magnético, um dos recursos da mediunidade curativa, alicerça-se no sentimento de fraternidade.

De forma análoga à prática da enfermagem, é necessário assepsia no campo de trabalho, pois da higiene espiritual dos agentes do processo resultará maior benefício às pessoas que se propõe atender. Hábitos alicerçados na simplicidade e humildade funcionarão à maneira do tungstênio na lâmpada elétrica, suscetível de irradiar a força da usina, produzindo a luz que com naturalidade afasta a sombra.

O investimento no conhecimento amplia os recursos psíquicos, facilitando a captação das orientações espirituais, e o asseio mental capacita a induzir a pessoa que necessita de auxílio a despertar os próprios recursos de reação. O clima de confiança entre os participantes do processo ajuda a estabelecer a ligação sutil que permite potencializar o auxílio, na medida do merecimento de cada um.

Com a supervisão dos espíritos, a energia emanante do passe alcança a pessoa que a recebe e, na pauta dessa confiança e merecimento, a própria pessoa emite ondas mentais características, que lhe permite assimilar os recursos vitais emitidos, retendo-os na própria constituição fisiopsicossomática, através das várias funções do sistema sanguíneo.

A ajuda corporifica-se à medida que a pessoa lhe confere atenção: centralizando seu pensamento sobre o organismo físico, ao influxo das energias do passe, lhe regula a atividade.

Esse processo é tanto mais eficiente quanto mais intensa se faça a adesão daquele que lhe recolhe os benefícios, pois sua vontade determina sobre si mesmo maior potencial de refazimento. Assim, as oscilações mentais daquele que esteja eventualmente enfermo se condensam mecanicamente na direção da restauração, passando a sugeri-la às células do corpo, e os milhões de corpúsculos do organismo tendem a obedecer, sintonizando-se com os propósitos do comando espiritual que os agrega.

Bernardo Perna

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Entrevista com Yvonne do Amaral


Uma entrevista com a médium Yvonne do Amaral Pereira, publicada no portal Vinha de Luz.

1 - Ao receber a mensagem do Além, para os seus livros, você fica consciente do que escreve ou só se reconhece ao terminar?

R - A obtenção de um livro mediúnico é trabalho árduo, que mobiliza todas as forças mentais e psíquicas do médium a serviço do agente comunicante, pois é transmissão de pensamento a pensamento. Nem todos os médiuns têm as mesmas características para a recepção desse gênero de trabalho. No que me diz respeito, sofro transe pronunciando, embora, não completo. Tenho consciência de mim mesma, mas qualquer rumor exterior me poderá perturbar. Por essa razão só escrevo altas horas da noite. Vou lendo o que escrevo como se se tratasse de um folhetim que me apresentassem. O impulso do braço e atordoamento é ligeiro, sem ser veloz. Às vezes, ouço o murmúrio do ditado como se se tratasse de um folhetim que me apresentassem. O impulso do braço é ligeiro sem ser veloz. Às vezes, ouço o murmúrio do ditado como se o espírito comunicante falasse aos meus ouvidos, o que facilita a recepção. Se a obra é de difícil captação, como Memórias de um Suicida e Nas Voragens do Pecado, o impulso vibratório do braço é menos rápido. Perco a noção do que me rodeia, mas não de mim mesma; somente me apercebo da tarefa que executo, por isso necessito de silêncio e tranquilidade. Às vezes, vejo as cenas que estou descrevendo, mas só me inteiro do conteúdo da obra, verdadeiramente, depois da sua publicação.

2 - Quantas obras já publicou e quais os seus autores?

R - Publicados tenho apenas onze, mas possuo várias outras inéditas, esperando oportunidade para virem a lume. Os autores são os espíritos de Adolfo Bezerra de Menezes, Camilo Castelo Branco, Charles, cujo sobrenome ainda desconheço, e Léon Tolstói. Nessas onze obras estão incluídas as duas constantes do volume Nas Telas do Infinito e as duas constantes do volume Dramas da Obsessão.

3 - Como e quando começou a psicografar?

R - Aos doze anos de idade já eu escrevia impulsionada pelos espíritos, sem contudo, ter verdadeira noção do fenômeno. Sou criada em ambiente espírita desde o berço e por isso o fato nunca me impressionou. Sentia indomável impulso no braço e atordoamento, sem no entanto, se verificar o transe, e isso fora mesmo de sessões práticas. Desejava parar de escrever e não conseguia. O fenômeno parece que se processava pela psicografia mecânica. E via o espírito comunicante, que se nomeava Roberto, afirmando ter vivido na Espanha, pelo século XIX. Nunca procurei desenvolver a mediunidade ou a provoquei. Apresentou-se-me ela, naturalmente, desde a infância. Apenas procurei imprimir-lhe o rumo conveniente, educando-me na moral evangélica e nas disciplinas recomendadas pela Doutrina Espírita. E comecei a psicografar livros ainda em minha juventude, recebendo o primeiro convite ao trabalho e as necessárias instruções do espírito Camilo Castelo Branco, que desde minha infância, se revelou um grande amigo espiritual. Qualquer entidade que conceda uma obra psicográfica convida o médium (não ordena) e fornece instruções. Sem esse convite será difícil, senão impossível, conseguir-se alguma coisa autêntica. Pelo menos é o que acontece comigo.

4 - Possui apenas o dom da psicografia ou faz alguma outra coisa dentro do Espiritismo?

R- Possuo vários outros dons mediúnicos, inclusive o de cura, os quais pus a serviço da Doutrina Espírita e do próximo desde a minha juventude. De tudo já realizei um pouco, como médium e como espírita. Atualmente, porém, como médium, limito-me à psicografia, à oratória, à colaboração na imprensa espírita, ao Esperanto, à correspondência doutrinária, a um pouco de assistência doutrinária e a um pouco de assistência social nos meios espíritas. Possuo também a faculdade de efeitos físicos (materializações), mas não me interessando por esse gênero de trabalho espírita não a utilizo.

5 - Que pretende para a vida espiritual? Ou já se afinou com ela?

R - Nenhum de nós poderá fazer projetos para a vida espiritual. Nosso futuro em além-túmulo depende das ações praticadas durante a vida terrena, ou seja, dos méritos ou deméritos adquiridos neste mundo. Nada posso pretender, portanto, da outra vida. Cabe-me apenas esperar pela justiça e a misericórdia de Deus. Não resta dúvida, porém, de que vivo mais da vida espiritual do que da material há muitos anos.

6 - A Psicologia e a Parapsicologia podem explicar cientificamente os fenômenos de psicografia?

R - Não, porque, propositadamente, os investigadores contrários à tese espírita não querem explicá-los, assim como nenhum outro fenômeno espírita. Fecham os olhos para não ver, tudo atribuindo ao inconsciente, quando o "maior livro de Parapsicologia escrito até agora é "O Livro dos Médiuns", de Allan Kardec, tal a declaração de um erudito espírita brasileiro. O fenômeno da psicografia é mediúnico, carecendo sempre de um agente espiritual independente do médium. Não havendo esse agente, isto é, o espírito comunicante, deixará de haver psicografia. O mais que os senhores parapsicólogos têm feito é apontar fenômenos de animismo, aliá-los aos fenômenos mediúnicos, ou seja, fenômenos produzidos pelo espírito do próprio médium e não por um espírito desencarnado; nesta última hipótese, a Parapsicologia para, quando devia continuar. Os espíritas foram os primeiros a observar os fenômenos produzidos pelo animismo e nunca se sentiram diminuídos por eles. Tratam-se de fenômenos belíssimos, de grande valor, provando não só a existência da alma e suas poderosas forças, mas ainda a vontade soberana dela, sua independência e lucidez fora dos limites corporais, sua ação, seu poder particular conferido pela natureza. Essa questão vem sendo esclarecida desde os primórdios do Espiritismo por ilustres pesquisadores e sábios psiquiatras europeus e norte-americanos, e também por vários observadores brasileiros. Qualquer espírita, ainda que pouco versado em matéria de mediunidade, e desde que se não deixe cegar pelo fanatismo, poderá realmente distinguir o fenômeno espírita do fenômeno puramente anímico, porquanto eles são absolutamente diferentes. A Parapsicologia, pois, não explica a psicografia, como não explica nenhum outro fenômeno espírita de que participe o espírito desencarnado, visto que prefere encobri-los.

7 - O psicógrafo interfere na qualidade literária da mensagem?

R - Até certo ponto sim. Se, na vida prática e em sua vida mental, ele age de forma a só atrair bons espíritos, necessariamente as comunicações recebidas serão de excelente qualidade. Se se afinar, porém, com espíritos ignorantes, medíocres, frívolos ou mistificadores, as mensagens recebidas (escritas ou verbais) serão suspeitas ou de má qualidade. Este um ponto doutrinário dos mais conhecidos e debatidos. Se o médium possuir cabedal intelectual também influirá, de certo modo, porque o agente comunicamente encontrará facilidade em usar esse material e a obra sairá mais completa. Mas há médiuns iletrados, sem ser analfabetos, que produzem obras literárias de imenso valor. O médium norte-americano Andrew Jackson Davis, por exemplo, obteve várias obras literárias importantes, entre outras a Grand Harmony, que maravilhou o mundo; e o médium Thomas P. James, também norte-americano, um simples mecânico impulsionado pelo espírito do escritor inglês Charles Dickens, terminou o romance O Mistério de Edwin Drood que o autor deixava a meio, ao falecer. E de tal forma o conseguiu que não foi possível determinar o ponto em que termina a obra do escritor e começa a ação do médium. Outros psicógrafos existiram, como o português Fernando de Lacerda, que escrevia mediunicamente, em prosa e em verso, conversando com amigos, com as mãos, acionado pelos escritores clássicos de Portugal. Às vezes, Fernando de Lacerda despachava com a mão direita papéis da repartição em que trabalhava, enquanto psicografava com a esquerda páginas de Alexandre Herculano, Eça de Queirós, Camilo, etc. O mesmo sucedia ao médium brasileiro Carlos Mirabelli, de São Paulo, que psicografava com as duas mãos, também conversando, teses científicas ou filosóficas, em línguas diferentes umas das outras. E apenas cito esses, que, certamente, não interferiram, de forma alguma, na qualidade ou na ação da psicografia. Médiuns desse tipo são, porém, muito raros. O mais comum é haver influência do médium, sobretudo quando ele não observa uma disciplina rigorosa e não se empenha em bem compreender a mediunidade, a fim de exercê-la criteriosamente. O médium muito intelectualizado, por sua vez, mantendo ideias e opiniões muito pessoais, e preconceitos, às vezes, inveterados, poderá influir bastante, alterando o pensamento da entidade comunicante, produzindo o a que denominamos "enxerto". Os espíritos elevados, que já se manifestam com obras de responsabilidade, preparam os seus médiuns longamente, por vezes desde a infância, a fim de evitar tais ocorrências. De qualquer forma, o espírito comunicante utiliza o cabedal fornecido pelo médium. Poderá este psicografar assuntos muito superiores à sua capacidade, mas sempre existirão certas expressões particularmente suas naquilo que produz. De outro modo, a qualidade da mensagem não depende apenas do médium, mas também do espírito que a fornece e até do ambiente em que exerça a sua faculdade. É trabalho penoso para ambos, e assunto complexo. O melhor meio de a palavra dos espíritos chegar pura e de boa qualidade é procurar o médium moralizar-se, elevar-se espiritualmente, fazer-se humilde, reconhecer as próprias fraquezas e jamais se considerar excelente ou indispensável, além do dever de exercer o bem de toda parte. Eis como o médium poderá influir nas mensagens que recebe.

8 - Pode descrever um pouco do estado de espírito da pessoa no momento de psicografar?

R - Quase que de regra, esse fenômeno se verifica tão inesperadamente que o médium se surpreende e aturde, mormente se o fato vem espontaneamente, sem o preparo prévio das sessões de experimentação mediúnica. Se se trata, porém, de psicografia já educada, com o médium responsável, ou da obtenção de um livro, por exemplo, quando o médium já recebeu as devidas instruções de seu guia espiritual; se se trata de um receituário, um conselho a particulares, etc., esse estado (em mim, pelo menos) é de expectativa, de emoção, de profundo respeito e até de religioso temor, se assim me posso expressar. Às vezes, certa inquietação sobrevém, pois que, já empunhado o lápis, com a mão apoiada sobre o papel, o médium não tem a mínima ideia do que escreverá.


Enviado por Geraldo Lemos Neto | Vinha de Luz Editora | Samuel Lima, 11/04/2011

Fonte: Vinha de Luz

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Poder do Pensamento

A Arte de Pensar


O célebre filósofo pessimista alemão, Schopenhauer, teve ocasião de definir o homem como sendo o animal que tem a funesta mania de pensar. A frase atormentada de Schopenhauer, evidentemente se refere ao homem que se levanta através do pensamento para fomentar a miséria, para desenvolver a guerra, para praticar os atos hediondos contra a humanidade. Se não tivessem existido aqueles heróis dos ideais, os mártires da ciência, os grandes filósofos, os idealistas, os artistas e os santos, cujas vidas são evangelhos de feitos, esta matéria demonstraria que Schopenhauer estava equivocado, porque a arte de pensar, a grande conquista do pensamento, é um dos atributos mais belos do processo antropológico, sociológico e psicológico do ser.

Atingimos nesse momento a uma das glórias da evolução, a etapa do pensamento lógico, que nos permite viajar através da cibernética, da biônica, utilizando-nos dos mais avançados recursos da eletrônica para nos situarmos neste arquipélago de estrelas e também da causalidade e a finalidade da vida.

Desejando interpretar essa realidade do ser humano, Goécio, o admirável filósofo da decadência romana, dos séculos V e VI, estabeleceu que a criatura humana é um animal bípede dominado pelo instinto gregário de conservação da vida, entre outros, com a extraordinária capacidade de pensar. E esta capacidade de pensar sempre interessou aos filósofos idealistas, que tentaram encontrar a base do pensamento em uma realidade de natureza extracorpórea, por chegarem à conclusão de que o cérebro por si mesmo era incapaz de elaborar a ordem das ideias.

Foi Aristóteles quem teve a coragem de tentar interpretar as leis do pensamento, para equacionar a arte de discernir e estabeleceu, por meio do estudo das associações, quatro leis fundamentais que seriam capazes de explicar o mecanismo da mente: as manifestações da verbalização e as técnicas da comunicação escrita. Mas, mesmo através da colaboração de Aristóteles encontramo-nos diante de efeitos, que as leis de associações, de espontaneidade, de continuidade, dos semelhantes, dos contrastes, procuram dar uma coordenação para as bases da lógica. Em um trabalho extraordinário, que é Evolução em Dois Mundos, através da mediunidade de Francisco Candido Xavier, o admirável espírito André Luiz estabelece que a forma corporal, consequência inevitável do corpo espiritual, por sua vez resultado do fator da mente, exterioriza no mundo das manifestações a realidade psíquica, que se vai desdobrar no mecanismo do pensamento.

Mira y Lopez, o grandioso psicólogo espanhol, fazendo uma análise desta realidade que é o ser pensante, estabelece que houve uma evolução, através de atavismos que se transformavam em realidades lógicas.

Até que o homem atingisse o estado de plenitude, agimos por conta própria. Que a contribuição extraordinária de Mira y Lopez vai ensejar-nos uma conquista etapa a etapa, patamar a patamar, sem que aqueles ascendentes anulem os que se encontrem como base ancestral, que serviria para Carl Gustav Jung como sendo a estrutura do arquétipo em nossa realidade do inconsciente coletivo, do inconsciente profundo para definir a realidade estrutural do ser humano racional.

Estabeleceu Mira y Lopez que a primeira manifestação do pensamento foi de natureza primitiva, quando o ser que se estava desdobrando no período Pithecantropus Erectus, impossibilitado de pensar, exteriorizava as suas manifestações de natureza sócio-motora, sensório-motora, primitiva, instintiva. Não dispondo do discernimento, aquele ser Pithecantropus Erectus, através da emissão de grunhidos, teve a necessidade do instinto preservador da vida. Começou a ter o que seriam os primeiros lampejos da ideação futura. É nesse período, que refugiado da caverna, ele tem da vida, as ideias apenas fisiológicas: a função de comer, de dormir, de co-criar; e logo depois, guiado pelo instinto de conservação, de defender-se. A caverna representa-lhe o habitat de segurança, para que ele possa desenvolver a manifestação de uma vida instintiva, natural, mecânica, automatista.

Assevera Mira y Lopez que a evolução é inalienável patrimônio da vida e este ser automaticamente passa ao segundo patamar da área do pensamento: o pensamento pré-mágico. É uma manifestação atávica e que ele na realidade não sabe exteriorizar aquilo que está dentro d’alma no turbilhão, mas que os antropólogos afirmam, a percepção de que a vida é valiosa e graças ao “insite” da sobrevivência, ele abandona a furna e vai viver na palafita ou na floresta, onde ele dispõe de uma área mais ampla, não somente para viver, mas também para defender-se dos adversários naturais. Ele observa agora a terra, as florestas imensas, as erupções vulcânicas, os terremotos, os maremotos, as calamidades sísmicas, as chuvas torrenciais, as feras e brota nele um sentimento de submissão. As forças ignotas da natureza, sendo essa a primeira manifestação de culto pelo temor, para poder preservar a existência. Nesse período do pensamento pré-mágico ocorre de que a vida para sobreviver mata e a criatura humana é resultado da morte de outras expressões de vida, na alimentação, na defesa da sua individualidade e advém a ideia de prestar culto bárbaro a essas forças ignotas que ele pensa aplacar através dos holocaustos de vidas humanas. Nesse período pré-mágico ocorre-lhe a possibilidade de uma vida depois da vida, que certamente a fenomenologia mediúnica se encarrega de oferecer-lhe subsídios e os primeiros fatores probantes da sobrevivência.

O progresso continua e ele passa ao terceiro período do pensamento: é o período mágico, que na criança corresponde à faixa etária dos dois aos três anos e que ele através do instinto, da imaginação e do seu próprio âmbito de movimento começa a descobrir necessidades estéticas ainda em uma fase de magia, que será interpretada através da policromia da natureza e por meio dos primeiros arquétipos e que surge a divindade, agora incompreensível, exteriorizada no politeísmo, na manifestação dos numes tutelares, dos deuses lares, das forças que devem ser diligenciadas através de novos holocaustos para o protegerem, para o amarem, para dilatarem-lhe a vida na face da Terra. Surge então, a mitologia. A mitologia ainda bárbara, a mitologia de Baal ou a mitologia pré-grega; a mitologia do norte da África, do Oriente Médio ou das montanhas imensas do Himalaia ou das regiões das margens dos grandes rios prenunciando o período agrário.

O Ganges, o Nilo, o Tigre, o Eufrates, o Yang-Tsé-Yang, oferecendo-lhe agora uma expressão maior de territórios e ele passa para o quarto período do pensamento. É o pensamento egocêntrico. Já se lhe desenvolveu a faculdade da sobrevivência, ele tem necessidade de dar continuidade à vida. É o ser fisio-psicológico, já consegue oferecer a realidade de um mundo metafísico. Através das ideias nasce uma filosofia empírica, mas ele sente necessidade natural de vencer aqueles que lhe feriam; adversários comuns alargam seus horizontes e pelo mesmo instinto de preservação da vida ele vai para a lei de destruição e conquista as outras tribos, as outras tabas, vai contra as nações e em breve alarga-se pelo Mar Mediterrâneo para poder desenvolver a sua capacidade de valores. Este pensamento de ordem egocêntrica está representado como atavismo na criança entre os três até os seis anos de idade. Mas é nessa hora que seus lampejos, agora não mais “insites”, resultado de elaboração mental, atinge um patamar superior e ele adquire o pensamento lógico.

Asseveram os psicólogos que esse pensamento lógico teria sido adquirido entre os gregos, na Hélade, com o que não concorda Mira y Lopez, isto porque se apenas os gregos houvessem logrado o pensamento de natureza lógica, as grandes civilizações da Antiguidade oriental estariam detidas no pensamento atávico do egocentrismo, o que não corresponde à realidade. Mas, a grande verdade é que a Grécia logra o pensamento lógico e toda sua policromia religiosa é feita de estesia. A sua filosofia agora apoia-se na base da poesia, da retórica, da lógica, oferecendo numa visão de pensamento filosófico - a velha dualidade do bem e do mal – que são os atavismos do primarismo e, ao mesmo tempo, as perspectivas do fatalismo. É o “ghost” do amanha nele embutido e é o diabo das experiências primeiras, atormentadas, de que ele ainda não se logrou libertar. Neste momento do pensamento lógico, ele transfere a razão para Roma e, do pequeno espaço do Lácio, as tropas e as legiões agigantam-se, conquistam a península Itálica. Depois, invadem o mar Tirreno, o Egeu; o Mediterrâneo tomba e Roma coloca a sua águia dominadora em todas as partes da civilização terrestre.

Neste momento de grandeza ilógica, ressumam as manifestações do pensamento egocêntrico, existe o mundo porque existe Roma; existe o pudor porque César é divino, é a personificação da divindade, é deus; mesmo morto ele permanecerá como a gloria do Império ou a glória da república, mas a necessidade de evoluir agiganta-se e Mira y Lopez propõe o sexto nível no patamar de pensamento: é o nível do pensamento intuitivo, que somente se pode lograr quando se desenvolvem as percepções de ordem parafísica. Em alguns, de maneira espontânea, como em Beethoven, que muitas vezes conseguia compor tendo no mundo intimo integral, a partitura da obra que ainda ia escrever; ou como Voltaire, ao escrever um dos cantos do Henríada, asseveraria depois que houvera feito enquanto dormia, enquanto sonhava; ou Daudet, nas Cartas do seu moinho, aquele mesmo eterno apaixonado das cartas à Julia; ou como Tartinni, na sua bela obra “A Sinfonia ao Diabo”; ou como Condorcet, que asseverava haver equacionado vários problemas de matemática enquanto dormia, enquanto sonhava; ou como São João Crisóstomo, interpretando as epistolas Paulinas, no começo do Cristianismo, era assessorado pelo apóstolo das gentes, que o inspirava; ou Teresa D’Ávila, no monastério, dominada pelo artritismo e nos momentos da confissão flutuando diante dos olhos atentos de São João da Cruz, em um estado de natureza transcendental, erguidos da Terra, em admirável fenômeno de natureza anímica, superando a densidade gravitacional do globo, em êxtase.

Quando a figura cândida de Francesco Bernardoni, dobrado sobre as águas de Spoleto, escutando a voz inesquecível de Jesus: “Vai, Francesco e ergue a minha igreja que está em ruínas.” Ele parte para Assis e vê a igreja de São Damiano em ruínas físicas, começa a carregar pedras, levanta o templo de pedra e de cal, e quando esse vai ser oferecido ao Senhor, a mesma Voz lhe diz: “Não é esse templo, Francesco. É o templo moral. Não é essa igreja. É a igreja moral, a igreja do espírito.” Ele se levanta dali e se transforma em “Il trovatori di Dio”. Sai para ser o cantor da Era Nova, aquele servo de Jesus, o mais perfeito símile de Jesus Cristo. Nesse nível de pensamento, que o doutor Robert D. Hope, um dos pais da ontologia cerebral americana, dirá que é o quinto nível de consciência: a consciência que se vincula a realidade cósmica e de que somente alguns raros homens e mulheres são portadores, está no mesmo nível do pensamento de natureza intuitiva.

Fazendo uma análise desta evolução do pensamento, somos dirigidos a recordar-nos de Allan Kardec, da realização do pensamento espírita, da Codificação que lhe guarda o nome, em justa homenagem ao seu labor, a Codificação Kardequiana. Ao nos recordarmos desse homem de pensamento lógico, esse homem racional, que de um momento para outro atinge também o pensamento intuitivo, tendo a visão da realidade do futuro, como colocará em rodapé , nos comentários das suas recordações dos dez anos após o lançamento de “O Livro dos Espíritos”; na análise que faz das dores que experimentou; das ingratidões que recebeu; das bordoadas das almas impiedosas que lhe maceraram a alma; dos beijos que se converteram em dentadas na face; inclusive na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas ele sorri e diz: “Tudo isto o Espírito de Verdade me havia anunciado! Mas, ele não me disse das alegrias, das emoções que eu experimentaria em ver a doutrina espírita crescer e consolar milhões de almas. Quando as minhas dores eram mais acerbas, quando as minhas dificuldades eram mais cruéis, eu me erguia acima da humanidade através da oração e de lá, eu podia ver o futuro que me estava reservado e o futuro da causa que havia abraçado com abnegação.”

Acompanhamos a tecnologia e admitimos a ideia de Schopenhauer; e vemos neste século, o holocausto da Iugoslávia; tivemos ocasião de ver, a pouco, o holocausto da Chechênia; experimentar o horror das cartas-bombas, mandadas por fanáticos ou da estupidez de determinadas áreas fanáticas desejando levar o pavor a Paris, a cidade-modelo do mundo, onde a arte, a beleza, a sabedoria e a ciência dão-se as mãos e onde brotou a árvore do Evangelho a 18 de abril de 1857.

É ainda o período de Schopenhauer, mas ao Espiritismo cumpre a tarefa de apressar essa hora, para que ajudemos a transformação desses fatores que retardam a marcha do progresso. Allan Kardec, preocupado com a questão, perguntou às entidades venerandas, qual era a razão da guerra e esses espíritos admiráveis, na questão 742 de “O Livro dos Espíritos”, responderam: “Predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual do homem e transbordamento das paixões.” Período de pensamento egocêntrico. Ainda há predominância dos atavismos das faixas primárias em detrimento das aspirações superiores dos patamares que o homem vai galgar. E que pretende, pois, com a guerra? Acelerar o progresso. Parece paradoxal. Através da guerra acelera-se o progresso nas condições primitivas, nas condições da barbárie, porque o homem, sob o flagror da guerra, sonha com a paz, desenvolve a ciência, acelera a tecnologia e, quando vem a paz, descuida-se. E aqueles valores, antes bélicos, são aplicados no conforto, na comodidade, até a erupção de uma nova guerra. Chega, porém, o momento em que iremos promover o progresso, não através da guerra, senão, através da paz.

Foi no dia 13 de junho do ano de 313, em Milão, que o Cristianismo soçobrou, quando Constantino, depois da vitória, na fonte Nízia, transformou a doutrina do amor em doutrina do Estado. Foi a partir dali que o pensamento grandioso de Jesus começou a emurchecer, como diria Santo Eusébio. Na hora em que diminui o holocausto, também diminui o ardor; na hora em que o sacrifício desaparece, os valores éticos, morais, eles se debilitam e fenecem com os interesses abastardados das paixões humanas. A partir daquela data, a doutrina que era de perseguidos, passou a ser uma doutrina de perseguidores, culminando nos atos hediondos da Inquisição, de que a América Latina foi uma das grandes vitimas, quando teve os seus silvícolas praticamente dizimados, como aconteceu na Colômbia; qual aconteceu nas terras da grande Cordilheira dos Andes e não tanto aqui, graças à presença soberana de José de Anchieta, Manoel da Nóbrega, Auzpicueta Navarro, que tomaram a defesa do hotentote, do homem primitivo para colocar-lhe na alma a doçura de Jesus.

O Espiritismo cresce e jamais sentará ao lado das mesas dos poderosos para firmar a paz de fora, porque a sua mensagem é da transformação da criatura humana para melhor, que irá mimetizar a criatura próxima e aquela que esteja mais perto, até que o grupo social, beneficiado transforme-se e a sociedade experimente as bênçãos da conquista. Mas como poderá o Espiritismo promover o progresso, acelerar as transformações que tardam? A ciência nos deu a grande horizontal das conquistas tecnológicas, o Espiritismo dar-nos-á a grande vertical da conquista moral, para que possamos dizer, como Albert Einstein: “O homem que tiver a bomba atômica, se não tiver Deus no coração, destruirá a Terra. Eis, porque - completou o Pai do Concepcionismo – é necessário que a ciência se una a religião, pois se isso não ocorre, ela é capenga; e a religião se ligue à ciência, pois se isso não se der, ela será cega.”


domingo, 16 de dezembro de 2012

Mensagem da Semana


Humildade Celeste


Ninguém mais humilde que Ele, o Divino Governador da Terra.

Podia eleger um palácio para a glória do nascimento, mas preferiu sem mágoa a manjedoura simples.

Podia reclamar os princípios da cultura para o seu ministério de paz e redenção; contudo, preferiu pescadores singelos para instrumentos sublimes do seu verbo de luz. Podia articular defesa irresistível a fim de dominar a governança política; no entanto, preferiu render-se à autoridade, presente em sua época, ensinando que o homem deve entregar ao mundo o que ao mundo pertence, e a Deus o que é de Deus.

Podia banir de pronto do colégio apostólico o amigo invigilante, mas preferiu que Judas conseguisse os seus fins, lamentáveis e escusos, descerrando-lhe aos pés o caminho melhor.

Podia erguer-se ao Sol da plena vida eterna, sem voltar-se jamais ao convívio humilhante daqueles que o feriram nos tormentos da cruz; no entanto, preferiu regressar para o mundo, estendendo de novo as mãos alvas e puras aos ingratos da véspera.

Podia constranger o espírito de Saulo a receber-lhe as ordens, mas preferiu surgir-lhe qual companheiro anônimo, rogando-lhe acordar, meditar e servir, em favor de si mesmo.

Em Cristo, fulge sempre a humildade celeste, pela qual aprendemos que, quanto mais poder, mais amplo o trilho augusto aberto às nossas almas para que nos façamos, não apenas humildes pelos padrões da Terra, mas humildes enfim pelos padrões de Deus.



Pelo Espírito Emmanuel

XAVIER, Francisco Cândido. Antologia Mediúnica do Natal. Espíritos Diversos. FEB. Capítulo 13.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Videobiografia de Yvonne do Amaral Pereira

Videobiografia sobre a médium Yvonne do Amaral Pereira, exibida no Programa Terceira Revelação em 2007, produzido pela Federação Espírita Brasileira - FEB e Conselho Espírita Internacional –CEI, contendo depoimentos de parentes e amigos que conviveram com a médium.

Os direitos autorais desse material foram cedidos pela FEB e CEI para conhecimento público.



sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A Obra de Yvonne do Amaral Pereira

A obra mediúnica de Yvonne Pereira monta a uma vintena de livros. Embora desde 1926 tenha escrito numerosas obras psicografadas, somente decidiu publicá-las na década de 1950, segundo ela mesma, após muita insistência dos "mentores espirituais". Dentre as mais conhecidas destacam-se:

Memórias de um Suicida (Rio de Janeiro: FEB, 1955. 568p.) – atribuída aos espírito de Camilo Castelo Branco e de Léon Denis. Constitui-se num libelo contra o suicídio, descrevendo em sua primeira parte, os sofrimentos experimentados pelos que atentaram contra a própria vida. Na segunda e na terceira partes focaliza os trabalhos de assistência e de preparação para uma nova encarnação. Esta obra é considerada um marco na bibliografia mediúnica brasileira e o melhor exame sobre o suicídio sob o ponto de vista doutrinário espírita.

Nas Telas do Infinito – apresenta duas novelas: uma atribuída ao espírito Bezerra de Menezes e outra a Camilo Castelo Branco.

Amor e Ódio (Rio de Janeiro: FEB, 1956. 553p.) – atribuída ao espírito Charles, enfoca o drama de um ex-aluno francês do Prof. Rivail (Allan Kardec), o artista Gaston de Saint-Pierre, acusado de um crime que não cometera. Após grandes padecimentos, recebe os esclarecimentos elucidativos por meio de um exemplar de O Livro dos Espíritos, à época em que este foi lançado pelo codificador.

A Tragédia de Santa Maria (Rio de Janeiro: FEB, 1957. 267p.) – atribuído ao espírito Bezerra de Menezes, ambientado em uma fazenda de café em Vassouras (RJ).

Ressurreição e Vida (Rio de Janeiro: FEB, 1963. 314p.) – atribuído ao espírito Leon Tolstoi, compreende seis contos e dois mini-romances ambientados na Rússia dos czares.

Nas Voragens do Pecado (Rio de Janeiro: FEB, 1960. 317p.) - primeiro volume de uma trilogia atribuído ao espírito Charles, relata a trágica história do massacre dos huguenotes na Noite de São Bartolomeu (23 de Agosto de 1572), durante o que seria uma encarnação anterior da médium, na personalidade de Ruth-Carolina de La Chapelle.

O Cavaleiro de Numiers (Rio de Janeiro: FEB, 1976. 216p.) - segundo volume da trilogia mostra outra suposta encarnação da médium, ainda na França, na personalidade de Berth de Sourmeville.

O Drama da Bretanha (Rio de Janeiro: FEB, 1974. 206p.) – terceiro e último volume da trilogia, ilustra como a médium, agora na personalidade Andrea de Guzman, não consegue suportar os embates de sua expiação e se suicida por afogamento.

Dramas da Obsessão (Rio de Janeiro: FEB, 1964. 209p.) – atribuído ao espírito Bezerra de Menezes, compreende duas novelas abordando o tema obsessão.

Sublimação (Rio de Janeiro: FEB, 1974. 221p.) – apresenta dois contos atribuídos ao espírito Charles (um ambientado na Pérsia e outro na Espanha) e três contos atribuídos ao espírito Leon Tolstoi (ambientados na Rússia).

Como escritora, publicou muitos artigos em jornais populares, produção atualmente desconhecida, que carece de um trabalho amplo de recuperação. São ainda da autora:

A Família Espírita

À Luz do Consolador (Rio de Janeiro: FEB, 1997.) - coletânea de artigos da médium na revista Reformador, originalmente entre a década de 1960 e a de 1980.

Cânticos do Coração (Rio de Janeiro: Ed. CELD. 1994. 2 v. 246 p.) - coletânea de artigos publicados no jornal Obreiros do Bem.

Contos Amigos

Devassando o Invisível (Rio de Janeiro: FEB, 1963. 232p.) – a autora desenvolve uma dezena de estudos sobre temas doutrinários, com base em suas experiências mediúnicas.

Evangelho aos Simples

O Livro de Eneida

Pontos Doutrinários – reúne crônicas publicadas na revista Reformador.

Recordações da Mediunidade (Rio de Janeiro: FEB, 1968. 212p.) – a autora discorre sobre reminiscências de vidas passadas, arquivos da alma, materializações, premonição e obsessão.

A Lei de Deus


Fonte: Wikipedia

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Pensamentos Nobres

A nossa coletânea com frases e pensamentos espíritas, para reflexão.




"Cada dia que amanhece assemelha-se a uma página em branco, na qual gravamos os nossos pensamentos, ações e atitudes. Na essência, cada dia é a preparação de nosso próprio amanhã." (Chico Xavier)

"Toda pessoa que serve além do dever encontrou o caminho para a verdadeira felicidade." (André Luiz)

"Ninguém na Terra avalia no trabalho a que se lança a colheita de alegria de uma frase de esperança." (Meimei)

"Se você aproveitar o tempo a fim de melhorar-se, o tempo aproveitará você para realizar maravilhas." (André Luiz)

"O que nos deve interessar (...) é a semeadura do bem. A germinação, o desenvolvimento, a flor e o fruto pertencem ao Senhor." (Aniceto - Livro Os Mensageiros)

"O amor é luz permanente no cérebro e paz contínua no coração." (Joanna de Ângelis)

"Em hora alguma proclame seus méritos individuais, porque qualquer qualidade excelente é muito problemática no quadro de nossas aquisições. Lembre-se de que a virtude não é uma voz que fala, e, sim, um poder que irradia." (André Luiz)

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Yvonne Amaral – Infancia e Reminiscências de Vidas Passadas

«Minha primeira infância destacou-se pelo traço de infortúnio, que foi certamente a consequência da má atuação do meu livre arbítrio em existências passadas. E uma das razões de tal infortúnio foi a lembrança, muito significativa, que em mim permanecia, da última existência que tivera. Desde os três anos de idade, segundo informações de minha mãe e de minha avó paterna, pois com esta vivi grande parte da infância, neguei-me a reconhecer em meus parentes, e principalmente em meu pai, aqueles a quem eu deveria amar com desprendimento e ternura. Sentia que o meu círculo de afinidades afetivas não era aquele em que eu agora vivia, pois lembrava-me do meu pai, da passada existência terrena, a quem muito amava, pedindo insistentemente, até muito tempo mais tarde, para que me levassem de volta para a casa dele. Tratava-se do Espírito Charles, a quem eu via frequentemente em nossa casa, conforme explicações do capítulo anterior. Eu o descrevia com minúcias para quem me quisesse ouvir, mas fazia-o por entre lágrimas, qual a criança perdida entre estranhos, sentindo, dos três aos nove anos de idade, uma saudade torturante desse pai, saudade que, nos dias presentes, se não mais me tortura tanto, também ainda se não extinguiu do meu coração. Se as suas aparições eram frequentes, eu me sentia amparada e mais ou menos serena, pois ele me falava, conversávamos, embora jamais eu me recordasse do que tratavam as nossas conversações, tal como acontecia com a outra entidade, Roberto. Mas, se as aparições escasseavam, advinha amargor insuportável para mim, fato que tornou a minha infância um problema tanto para mim como para os meus.

Até aos nove anos de idade não me lembro de que concordasse, de boamente, em pedir a bênção a meu pai, o da atual existência. Negava-me a fazê-lo porque — afirmava, convicta e veemente — «Esse não é o meu pai!» E entrava a explicar a minha mãe, que tentava contornar a situação, a ele próprio e àminha avó paterna, que foi o anjo bom da minha infância, como era a personagem que dominava as minhas recordações.

Detalhes singulares viviam em meus pensamentos por essa época: Referindo-me à «casa de meu pai», eu descrevia um saguão que me era muito familiar, de tijolos de cerâmica, coloniais, onde a «minha carruagem» entrava para eu subir ou descer. Havia aí uma escada interna por onde eu subia para os andares superiores — narrava eu, desfeita em prantos, descrevendo a casa a fim de que me levassem novamente para lá — e o corrimão da mesma, com o balcão lavrado em obra de talha, pintado de branco e com frisos dourados, mostrava o motivo de uma corsa perseguida por um cão e pelo caçador em atitude de atirar com a espingarda. O caçador mais tarde eu o compreendi — era tipo holandês do século 15. No entanto, jamais me referia a minha mãe de então, isto é, da existência passada, o que leva à suposição de que eu teria sido mais afim com o pai, visto que foi o sentimento consagrado a ele que venceu o tempo, dominando até mesmo a dificuldade de uma reencarnação. Mas, se jamais me referia a minha mãe de outrora, lembrava-me muito bem dos vestuários que provàvelmente foram por mim usados, e graças a tal particularidade mais tarde foi possível levantar a época em que se teria verificado a minha última existência terrestre:

Época de Allan Kardec, de Vitor Hugo, de Frederico Chopin, ou seja, mais ou menos de 1830 a 1870 (rei¬nado de Luís Filipe e Império de Napoleão, na França).

Á hora do banho, à tarde, freqüentemente eu exigia de minha avó certo vestido de rendas negras com grandes babados e forros de seda vermelha, “muito armado” e amplo, inexistente em nossa casa, e que eu jamais vira. Pedia as mulheres (eu dizia “luvas sem dedos”, coisa que também jamais vira); pedia a mantilha (xale) e a carruagem para o passeio, porque o meu pai esperava para sairmos juntos». Admirava-me muito de não encontrar nada disso, assim como também os quadros que viviam em minhas lembranças, quadros de grandes proporções, os quais eu procurava pela casa toda a fim de revê-los, sem, todavia, encontrá-los, e que, certamente, seriam coleções de arte ou pinacoteca dos antepassados da família da última existência. Reparava então, decepcionada, as paredes, muito pobres, da casa de minha avó ou da de meus pais, e, subitamente, não sei que horrorosas crises advinham para me alucinar, durante as quais verdadeiros ataques de nervos, ou o quer que fôsse, e descontroles sentimentais indescritíveis, uma saudade elevada a grau super-humano, me levavam quase à loucura. Passava dias e noites em choro e excitações, que perturbavam toda a família, e o motivo era sempre o mesmo: o desejo de regressar à «casa de meu pai», de onde me sentia banida, a saudade angustiosa que sentia dele e de tudo o mais de que me reconhecia separada. Em tais condições, não podia folgar com as outras crianças e jamais senti prazer num divertimento infantil. Em verdade não encontrei jamais, desde a infância, satisfação e alegria em parte alguma. Fui, portanto, uma criança esquiva, sombria, excessivamente séria, criança sem risos nem peraltices, ator-mentada de saudades e angústias, imagem, na Terra, daqueles réprobos do suicídio descritos nos livros especificados. O lenitivo para tão anormal situação apenas advinha dos trabalhos escolares, pois muito cedo comecei a frequentar a escola, e do amor com que me assistia minha avó paterna, já mencionada, a qual, não obstante os seus pendores materialistas, me ensinou a orar muito cedo, suplicando a proteção de Maria Santíssima.

Certo dia, aos sete anos de idade, lembro-me ainda de que, ao me tentarem obrigar a pedir a bênção a meu pai, recusei e expliquei, veemente:

— «Esse não é o meu pai! O meu usa um paletó muito comprido (sobrecasaca ou coisa semelhante), com uma capinha dos lados (trajes masculinos do tempo de Luís Filipe 1, da França); um chapéu muito alto e cabelos «meio brancos» (grisalhos) e mais compridos. E usa bigodes grandes. Ele é «um pouco velho»... não é moço como «esse aí, não!... »

Tal franqueza, que para mim representava uma grande dor, para os demais nada mais seria do que petulância e desrespeito. Valeu-me, nesse dia, boa dose de chineladas ministradas por meu pai, o que muito me surpreendeu e fêz que me considerasse mártir, pois fui castigada desconhecendo o motivo por que o era, visto que, sinceramente, o pai por mim reconhecido era o Espírito que frequentemente eu via e do qual me lembrava com inconsolável saudade. Na verdade, eu necessitava mais de tratamento físico, com vistas ao sistema nervoso e psíquico, visando ao suprimento de fluidos balsamizantes, para o traumatismo sediado no perispírito, do que de repreensões e castigos corporais, cujas razões eu não compreendia. O castigo de que, realmente, eu necessitava ali estava, na tortura de conservar a lembrança de um pai amado de uma passada existência, quando ali estava o pai do presente requerendo igual sentimento e respeito idêntico, mas apenas temido e não propriamente amado, e no qual sempre deparei a severidade, útil e muito necessária à minha situação atual.

No entanto, bastaria uma série de passes bem aplicados, frequência às reuniões de estudo evangélico num Centro Espírita bem orientado e preces, para que tão anormal situação declinasse.

Se, como é evidente, o fato de recordar existências passadas é, antes de mais nada, uma faculdade, aquele tratamento tê-la-ia adormecido em mim, desaparecendo as incomodativas explosões da subconsciência, ou talvez fôsse mesmo necessária, ao meu reajustamento moral-espiritual, a conservação das ditas lembranças, e por isso elas foram conservadas. Mas o caso é que, posteriormente, eu mesma, depois de bem norteadas as minhas faculdades supranormais, tratei, com meus Guias Espirituais, de algumas crianças assim anormalizadas, conseguindo resolver terríveis impasses de natureza semelhante. Mas apesar de meu pai se ter convertido à crença espírita antes mesmo do meu nascimento, e certamente porque ao meu espírito seria necessário que tais lembranças não fôssem banidas da minha consciência, esse tratamento não foi tentado e eu tive de vencer a primeira infância rudemente torturada por uma situação inteiramente anormal, dolorosa.

Mais tarde, atingindo os nove anos de idade, é que esse tratamento naturalmente se impôs e, com os tradicionais passes, terapêutica celeste que balsamizou minhas amarguras de então, sobrevieram tréguas e consegui mais serenidade para. a continuação da existência.


Yvonne do Amaral Pereira

Trecho do capítulo 3, Reminiscência de Vidas Passadas, do livro “Recordações da Mediunidade”, de Yvonne do Amaral Pereira.
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