segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Espiritismo



Dentre todas as doutrinas que pleiteiam a simpatia das almas, salienta-se o Espiritismo, que no curto espaço de setenta e poucos anos, pode-se dizer, difundiu-se no mundo todo como a claridade de um sol sem manchas.

Sem majestades, sem fortuna, sem influxo da nobreza, dos cultos que fascinam, dos governos que oprimem, sem o auxílio dos grandes e dos poderosos, firmou-se a excelente e incomparável religião, semelhante ao edifício da Parábola que desafia todos os vendavais e resiste a todas as correntezas.

E por que assim acontece?

É porque o Espiritismo é a única doutrina que se assenta em fatos positivos que se submetem ao mais minucioso exame, ao mais exigente controle.

É porque o Espiritismo é a única ciência demonstrativa da imortalidade, cujos fenômenos examinados pelos maiores sábios da Terra não deixaram de ser por estes constatados e proclamados como fatos positivos, concretos, persistentes e irrefutáveis.

É que a sua filosofia, cheia de verdade e de consolação, ergue os ânimos abatidos, desperta as consciências adormecidas, ilumina o passado, dá conta do presente, permite a visão do futuro, não limita a sua ação à Terra, mas desdobra aos olhos de todos as maravilhas da Eternidade, os enigmas do Universo, onde os poderes do Espírito se manifestam com suprema inteligência, incomparável sabedoria e grandiloqüente amor.

É que a sua Moral, fac-símile da moral do Cristo, só sabe proclamar o perdão, a benevolência, a paciência, a indulgência, a caridade, enfim, virtudes que manda seus adeptos exercerem até para os ínfimos seres, os animais inferiores – espíritos frágeis e atrasados que percorrem ainda as baixas esferas da criação.

Abrangendo todos os conhecimentos humanos do alfa ao ômega que o sábio e santo pode assimilar, o Espiritismo não cessa aí a sua luz, não limita nestes âmbitos estreitos a sua claridade; sua sabedoria é de progresso verdadeiro, crescente, infinito, ilimitado; seus conhecimentos não terminam no túmulo para daí se evolarem em espirais de conjecturas, como acontece às doutrinas sectárias, mas rompe as barreiras da morte e distende do outro lado o panorama de uma Vida mais real, mais impulsiva para a Luz, mais produtiva em felicidades que a vida exterior, terrena, de aparências enganadoras.

Sem destruir a Lei e os Profetas, mas antes esforçando-se para o seu cumprimento; sem condenar, mas absolvendo, ensinando e auxiliando; sem limitar doutrina, nem impondo dogmas, mas exaltando o raciocínio, esclarecendo a inteligência e incitando o sentimento, o Espiritismo é o grande e luminosos farol que conduz os pobres náufragos da vida à salvação e daí à felicidade imortal.

Examinai sem espírito preconcebido todas as doutrinas que pleiteiam a simpatia dos homens e dizei qual delas reúne, num corpo maravilhoso, tanta harmonia, tanta verdade, tantas consolações, tantas luzes, tantos sons, tanta benevolência para oferecer às almas boas e más, ignorantes e letradas, em atraso e progresso!

Examinai as doutrinas da Terra, as ciências e filosofias, as religiões que se arrogam de posse da verdade e dizei qual delas vos proporciona, como o faz o Espiritismo, a prova ao lado do ensino, a prática ao lado da teoria, o fenômeno ao lado “nomeno”*?

O Espiritismo é, como disse o sábio, a ciência que nos ensina a nossa natureza espiritual e demonstra a nossa sobrevivência, abrindo a todas as inteligências mais largos e extensos horizontes onde a Verdade impera, a Ciência enaltece e o Amor glorifica.

Espiritismo é Espiritismo, não existe palavra que melhor pudessem nomeá-lo, não existe expressão que melhor preenchesse e resumisse, em linguagem humana, a gloriosa e indispensável doutrina que é o poderoso motor da nossa ascensão para a Perfeição, para a Eternidade, para Deus.


Cairbar Schutel

Fonte: Jornal o Clarim, texto originalmente publicado em 20 de março de 1926.



* Númeno, no kantismo, é a realidade tal como existe em si mesma, de forma independente da perspectiva necessariamente parcial em que se dá todo o conhecimento humano; coisa em si, nômeno, noúmeno (embora possa ser meramente pensado, por definição é um objeto incognoscível). Etimologia: advém do alemão Noumenon, palavra criada pelo filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), a partir do grego nooúmena usada por Platão ao falar da idéia, propriamente ‘aquilo que é pensado, pensamento’.

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