quarta-feira, 16 de junho de 2010


O Cristo


CRISTO, a terceira manifestação de Deus, o Filho Unigênito do Pai (ou Verbo), está integralmente em todas as coisas criadas, embora nenhuma coisa criada seja O Cristo senão quando souber anular-se totalmente, para deixar que o Cristo se manifeste nela.

Há exemplos que poderão esclarecer esta verdade. Apanhe um espelho grande: ele refletirá o sol. Quebre esse espelho num milhão de pedacinhos: cada pedacinho de per si refletirá o sol. Já reparou nisso? Se o desenho estivesse no espelho, e ele se partisse, cada pedacinho ficaria com uma parte minúscula de um só desenho grande. Mas com o sol não é isso que se dá: cada pedacinho do espelho refletirá o sol todinho.

Ora, embora não possamos dizer que o pedaço de espelho seja o sol, teremos que confessar que ali está o sol, todo inteiro, com seu calor e sua luz. E quanto mais puro, perfeito e sem jaça for o espelho, melhor refletirá o sol. E as manchas que o espelho tiver, tornando defeituosa e manchada a imagem do sol, deverão ser imputadas ao espelho, e não ao sol que continua perfeito. O reflexo dependerá da qualidade do espelho; assim a manifestação Crística nas criaturas dependerá de sua evolução e pureza, e em nada diminuirão a perfeição do Cristo.

Outra comparação pode ser feita: um aparelho de televisão. A cena representada no estúdio é uma só, mas as imagens e o som poderão multiplicar-se aos milhares, sem que nada perca de si mesma a cena do estúdio. E no entanto, em cada aparelho receptor entrará a imagem “total e integral”. Se algum defeito houver no aparelho receptor, a culpa será da deficiência do aparelho, e não da imagem projetada. E podemos dizer que a cena está toda no aparelho receptor, embora esse aparelho não seja a cena.

Assim o Cristo está em todas as criaturas, integralmente, não obstante cada criatura só manifestá-lo conforme seu estágio evolutivo, isto é, com a imagem distorcida pelas deficiências da criatura que o manifesta, e não do Cristo, cuja projeção é perfeita. O rádio é outro exemplo, e muito outros poderiam ser trazidos.

Da mesma forma que, quanto melhor o espelho, a televisão ou o aparelho de rádio, tanto melhor poderão manifestar o sol, a imagem e o som, assim ocorre com a manifestação da força cristônica em cada criatura.

Por isso é que Jesus, a criatura mais perfeita e pura (pelo menos em relação à Terra), pode integralmente e sem Jaça. E por fazê-lo, justamente, é que foi denominado Jesus, o Cristo. E porque o Cristo é a manifestação integral de Deus, foi com razão que a Humanidade o confundiu com o próprio Deus. Tanto mais que, em se tratando da encarnação de Jeová (YHWH), conforme predissera Isaías (60:2), e sendo Jeová considerado como Deus, mais do que justo era que Jesus fosse considerado Deus; não Deus “O Absoluto”, o Pai, mas o “Filho de Deus”, Sua manifestação entre os homens, aquele que é (YHWH = Jeová) , como Jesus mesmo se definiu: antes que Abraão fosse feito, “Eu Sou” (Jo. 8:58). Ora, “Eu Sou” é exatamente o sentido de YHWH (YAHWEH ou Jeová). Então o próprio Jesus confirmou que Ele era Jeová, a encarnação de Jeová.

Na realidade, em relação a nós tão pequenos e imperfeitos, a manifestação divina em Jesus foi total, e bem pode Ele ser dito Deus (embora não em sentido absoluto); da mesma forma que podemos dizer que o reflexo do sol num espelho de cristal puríssimo seja o sol; ou que a música reproduzida por ótimo aparelho de rádio ou de vitrola, seja a orquestra. Nesse sentido, Jesus é indubitavelmente Deus, porque Nele reside a “plenitude da Divindade” (Col. 2:9). Entretanto, todas as criaturas também têm em si essa mesma plenitude (da plenitude Dele todos nós recebemos, Jo. 1:16), apesar de não na manifestarem por causa das próprias deficiências e defeitos.

Foi nesse sentido que Jesus pode confirmar o Salmista (Ps. 81:6) e dizer: vós sois deuses (Jo. 10:35), da mesma forma que podemos afirmar que cada pequenino reflexo do sol num espelho é o sol; embora em sentido relativo, já que o sol, em sentido absoluto, é um só; e também Deus, em sentido absoluto, é Um só, se bem que esteja manifestado integral e plenamente em todos (1 Cor. 15:28) e em tudo (Ef. 4:6).


Carlos Torres Pastorino

Do livro Sabedoria do Evangelho, do capítulo O Prólogo de Lucas.

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