sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A Infância de José Herculano Pires

Fotos antigas, datadas do ano de 1939, do Largo São João (em Avaré - São Paulo), cidade natal de José Herculano Pires:




























Estátua "menino com a luminária" no Largo São João (1939).


“Prestamos essa homenagem a José Herculano Pires pela data do seu nascimento, com esse texto que conta um pouco a história da sua infância.”


O nosso sempre lembrado Prof. José Herculano Pires chegou a este mundo em sua mais recente reencarnação na madrugada do dia 25 de setembro de 1914, na Província do Rio Novo — hoje a próspera e bela cidade de Avaré, no Estado de São Paulo. O parto não foi tranqüilo e o nosso reencarnante logo se viu ameaçado pelo próprio cordão umbilical que, tendo enrolado o seu pescocinho, quase o enforcou. Filho primogênito de José Pires Correa (um farmacêutico que, mais tarde, se tornaria um dos mais brilhantes jornalistas do interior paulista) e de Bonina Amaral Simonetti Pires, descendente de tradicional família de Rio Novo e exímia pianista. Depois do filho Herculano, o casal recebeu outros seis: Heraldo, René, Lourdes, Marília, Diógenes e Nancy, sendo que os dois últimos desencarnaram em tenra idade.

- A origem do nome de Herculano

A família Pires, como a maioria das famílias da época, era católica. Pois bem, o dia 25 de setembro, conforme registrava o calendário, era dedicado a São Herculano. O casal, então, deu ao filho recém-nascido esse nome. Logo depois, o tio Franco chegou para conhecer o pimpolho e, quando soube que lhe tinham dado o nome de Herculano, comentou: “Mas São Herculano não é muito conhecido; para reforçar a proteção do menino, sugiro que juntem ao nome já escolhido o nome popular de São José”. E foi assim que Herculano tornou-se José Herculano Pires.

Herculaninho, como o chamavam carinhosamente na infância, passou os primeiros anos de vida com problemas de saúde, aliás, esses problemas o acompanharam pela vida toda. Contudo, foi uma criança feliz, pois o clima e as águas do Rio Novo lhe deram robustez, tanto que em 1918 veio a chamada gripe espanhola e logo depois a endemia de tifo, enfermidades terríveis, mormente naquela época em que os recursos farmacêuticos eram escassos, que ceifaram milhares de vidas.

Herculaninho, felizmente, não foi molestado por essas duas endemias. Como dissemos, ele foi feliz porque sua infância, apesar dos problemas de saúde, foi embalada pelas coisas simples do interior daquele tempo que não volta mais na roda da história. A paisagem bucólica de Avaré: ruas de areia; a igreja matriz; o jardim São Paulo com seu coreto, onde, aos domingos, a banda executava emocionantes dobrados; o poético coaxar dos sapos; as águas cristalinas do Rio Novo, onde adultos e crianças pescavam e tomavam banho; o ranger dos carros de bois que transitavam pelas ruas da cidade chorosos; as boiadas que de quando em quando atravessavam a cidade em busca de invernadas e despertavam a curiosidade infantil; e ainda o trem-de-ferro da Sorocabana, que corria sobre os trilhos fazendo um barulho engraçado, “fuque, fuque, fuque”, e soltando rolos de fumaças e muitas fagulhas quando atingia sua velocidade máxima de 40 quilômetros por hora.

- A sua paranormalidade

Embora Herculano Pires tenha passado pela vida sem ser médium propriamente identificado, sua paranormalidade aflorou bem cedo, pois desde menino tinha visões espirituais bem definidas. Além de vidente, era também médium audiente, como veremos adiante. Herculano dizia para amigos que quando ainda dormia no berço muitas vezes se levantava e ficava em pé agarrado à grade da caminha observando os espíritos passeando no interior de sua casa. Não via somente criaturas desencarnadas, mas também espíritos de pessoas encarnadas. Dizia ter visto o espírito de sua mãe inúmeras vezes passeando pela casa enquanto o seu corpo físico descansava em outro ambiente da mesma. Fatos estes que algumas vezes assustavam a família, pois, por vezes, ele via espíritos assustadores e gritava. Os pais, querendo saber o que acontecera corriam para junto dele. O pai, entretanto, procurava acalmar o ambiente dizendo: “Ele está delirando, mas precisamos saber o que esse menino tem para gritar tanto à noite”. Quando Herculano já sabia falar e essa cena se repetia, ele contava aos pais sobre as figuras que via.

- Uma vidência confirmada

Herculano contava com seus sete ou oito anos, e foi, como fazia normalmente, brincar na casa do avô materno, um italiano casado com uma brasileira, em Avaré. O quintal da casa era enorme e possuía várias mangueiras. Cenário ideal para a garotada. Herculano brincava, então, com alguns amiguinhos naquele espaço aprazível. De repente, ele ouviu um estranho estrondo. Olhou para o lado de onde veio o som esquisito e notou que uma velhinha vinha em sua direção apressadamente. Ele ficou ali parado olhando aquela criatura que trajava um vestido que lembrava os vestidos de mulheres idosas estrangeiras. Olhou para baixo e viu que ela calçava meias com listras circulares vermelhas e azuis. Os seus sapatos também eram muito estranhos. O espectro entrou no depósito que havia no quintal e uma vez estando dentro daquele ambiente a velhinha cerrou a porta um tanto bruscamente e o barulho da batida da porta fez com que Herculano saísse do transe. Ele, imediatamente, correu para dentro de casa gritando de medo. O seu avô foi o primeiro a vir ao seu encontro, em seguida veio a avó. Quiseram saber a razão do seu desespero e ele relatou o que tinha visto e seu avô se virou para a esposa e disse: “É minha mãe! É minha mãe!”.

- Um menino poeta

Não há dúvida de que o nosso biografado trouxera de outras vidas um vastíssimo lastro cultural que permeou toda a sua história como jornalista, escritor, conferencista e lúcido filósofo, entre outras qualidades.

Em 1920, José Pires Correa, à caça de melhorias para a sua família, transferiu sua residência para a cidade de Itaí. Herculano estava, então, com seis anos de idade. Pois bem, aos nove anos, ele, que de fato era um reencarnante prodigioso, revelou-se poeta (pasme, caro leitor). Ele escreveu um soneto decassílabo que, ao contrário do que os leigos pensam, é a forma poética mais difícil de ser dominada, demonstrando, assim, conhecer as leis rígidas da Arte Poética. O tema escolhido pelo menino Herculano foi “O Largo São João de Avaré”, um tema adulto e árido.

Herculano permaneceu em Itaí até os dez anos de idade e teve a oportunidade de participar ali do Escotismo, onde aperfeiçoou sua disciplina.

Seu pai, quatro anos depois, buscando mais uma vez melhoria financeira, fixou residência na cidade de Cerqueira César, mas foi por pouco tempo, voltando, então, para Avaré, onde matriculou Herculano na Escola de Comércio, curso que ele, infelizmente, não pôde concluir. A vida profissional do Sr. José Pires Correa não fora fácil e logo tiveram que voltar a residir em Cerqueira César. Desta vez, as coisas para a família Pires melhoraram. Herculano agora estava com doze anos de idade e continuava elaborando seus poemas. O seu genitor foi nomeado coletor estadual e tudo para eles se tornou mais ameno. Algum tempo depois, o Sr. José Pires e seu irmão Ananias montaram uma pequena gráfica na Rua do Comércio a que deram o nome de “Casa Ipiranga”. Vemos aí o dedo da Espiritualidade que, pouco a pouco, preparava a trajetória brilhante de Herculano Pires.

Não demorou muito, o Sr. José Pires lançava um jornal chamado “Porvir”, de cunho político, um tablóide com circulação aos domingos. Ao “Porvir” se deve a primazia de ser o primeiro jornal de Cerqueira César. Ele nasceu com uma clara vocação: defender os “Cartolas” do Partido Republicano Paulista (PRP) contra os ataques do Partido Democrático. Washington Luís era o então Presidente da República e Júlio Prestes era o Governador do Estado de São Paulo.

Herculano Pires estava com apenas 12 anos e já trabalhava como aprendiz de tipógrafo na Tipografia Central (Se fosse hoje, isso seria logo bombardeado por certos defensores dos menores: “Onde já se viu uma coisa dessa! Um menino de 12 anos trabalhando!...”.) Esquecem-se, hoje, talvez por miopia, que o trabalho é salutar e educativo.

Ele sentiu que poderia, agora, trabalhar com o pai, pois família unida trabalha unida, e demitiu-se do emprego indo para a “Casa Ipiranga”, onde foi admitido como tipógrafo auxiliar. A composição do primeiro número do “Porvir” saiu de suas mãos e das mãos de seu tio Ananias, que exercia a função de Chefe da Oficina.

Alguns meses depois, o menino Herculano alcançou os seus treze anos de idade e já se encontrava no caminho que iria trilhar pelo resto da vida: o jornalismo.


Referências:

“José Herculano Pires, O Missionário da Terceira Revelação”, trecho da matéria do Correio Fraterno do ABC. Julho de 2002. Por Cirso Santiago
Fonte: ADE-RJ

*Imagens antigas do Largo de São João em Avaré (Cidade natal de Herculano Pires) do site Crystal Imóveis

2 comentários:

Adriana disse...

Oi Carlos,

Passei por aqui para atualizar minha leitura. Sou uma grande admiradora de Herculano Pires e gostei muito de conhecer mais sobre ele aqui! Parabéns, seu blog está cada vez melhor, é sempre muito bom visitá-lo!

Abraços fraternos e tudo de bom!

Carlos Pereira disse...

Olá Dri,

Mais uma vez muito obrigado pelo seu carinho. A sua presença é sempre uma alegria para mim.

Abraço e muita Paz!!

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