terça-feira, 19 de maio de 2009

Destaque: “Entrevista com Divaldo Franco”

Destacamos essa enriquecedora entrevista com Divaldo Franco, concedida a Revista Cristã de Espiritismo em março de 2008, na qual ele discorre de assuntos como a religião e a evolução espiritual, terceiro milênio e a transição planetária.




-O escritor Jorge Andréa dos Santos disse que o que importa para evoluir é uma religião. Isto seria uma visão ecumênica do Espiritismo ?

Divaldo Pereira Franco – A colocação apresentada pelo eminente Dr. Jorge Andréa é muito respeitável. No entanto, assim colocada, fora do contexto do seu pensamento total, poderia deixar transparecer que a adoção de uma doutrina religiosa bastaria para facultar ao indivíduo a sua evolução. Afirmamos que a adoção de uma crença religiosa faculta o desenvolvimento intelecto-moral do ser, quando o mesmo se empenha pela própria transformação espiritual, para melhor, aplicando-se ao estudo e à vivência das lições libertadoras a que se entrega.

-Joanna de Ângelis evoluiu em sua última encarnação como freira, obediente à doutrina da Igreja Católica. A ligação espiritual de grandes personagens do catolicismo com o espiritismo ninguém pode negar: Francisco de Assis, Agostinho, Paulo apóstolo, Frei Luiz e incontáveis padres e freiras. Porém, em nossa geração a discriminação e o preconceito de ambos os lados ainda é grande. Que avaliação você faz desse fato?

Divaldo – À exceção do apóstolo Paulo, que não esteve vinculado à Igreja Católica Apostólica Romana, os demais referidos espíritos, e outros mais, realizaram o seu processo de evolução espiritual, sob o amparo do pensamento de Jesus, no Ocidente, de que aquela Instituição se fazia portadora. Não obstante os seus dogmas e desvios da mensagem original do Mestre, conforme hoje reconhece o Papa, e por cujos erros vem pedindo perdão à sociedade e aos descendentes das vítimas flageladas e martirizadas, os espíritos nobres ali encontraram elementos para desenvolver os sentimentos e a inteligência. Não me parece que haja na atualidade, preconceitos de parte a parte. No passado, face à ignorância que predominava no comportamento da sociedade, a Igreja Católica acreditava-se a única detentora da Verdade, que conduziu alguns de seus membros às atitudes de agressividade e crimes hediondos, o que ora não mais ocorre, em razão do desenvolvimento cultural da Humanidade. O Espiritismo, por sua vez, jamais hostilizou qualquer doutrina, porque reconhece que é a transformação moral do indivíduo, para melhor, que o credencia ao reino dos céus e não apenas a adoção de uma religião. Ademais, o Espiritismo preconiza que fora da caridade não há salvação e não fora das fileiras religiosas dessa ou de qualquer outra crença. Registram-se nos dias já idos reações de intolerância por parte de indivíduos espíritas com tendência ao fanatismo, e nunca por intermédio do comportamento espírita generalizado.

-Em seu vídeo sobre o tema Cura e Auto-Cura, você se refere aos vários níveis de consciência que há sobre a Humanidade. Não seria essa a justificativa lógica para as diversas convicções religiosas existentes?

Divaldo – Sem qualquer dúvida, face aos diferenciados níveis em que estagiam as criaturas na área da consciência e do pensamento, tornam-se necessárias formulações, não apenas religiosas, mas, também, de comportamento, compatíveis com o estágio de evolução no qual cada criatura se encontra. Haverá sempre diversos tipos de propostas religiosas, a fim de que sejam atendidas as criaturas. Verificamos que, há menos de três anos, o Observatore Romano, órgão oficial da Igreja Católica Apostólica Romana, apresentou uma excelente publicação, na qual se afirmava a comunicação dos espíritos, santos, na sua linguagem, advertindo sobre o perigo e orientando como as mesmas ocorrem, exatamente conforme as diretrizes insertas na obra O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec. E algo mais recentemente, o Papa voltou a informar que nas suas meditações chegara à conclusão de que não existem céu, nem inferno, em lugares determinados no Cosmo, mas, sim, estados de consciência. Esta declaração está perfeitamente concorde com o que se encontra exarado no livro O Céu e o Inferno, do mesmo codificador do Espiritismo. Chegará o momento, portanto, em que a lei de progresso levará outras religiões a incorporarem os postulados espíritas nos seus textos, a fim de melhor orientarem os seus fiéis no rumo da felicidade.

-Que conselho você daria a um espírita convicto que quer buscar em outras religiões os assuntos convergentes, sem demonstrar fraqueza em suas convicções, ou estimular o confronto indesejável das doutrinas?

Divaldo – O Espiritismo assenta suas bases na estrutura de todas as religiões: Deus, imortalidade da alma, justiça divina, caridade, amor, sendo, portanto, esses os alicerces que se poderá encontrar em quaisquer outras propostas espiritualistas da humanidade. Uma análise honesta da estrutura religiosa de outras doutrinas, ao invés de demonstrar fragilidade do espírita, ou sentimento de futuros confrontos religiosos, o que hoje se encontra totalmente ultrapassado, mais lhe dará fortaleza na fé raciocinada, ampliando-lhe o entendimento em torno da divina sabedoria.

-Novas igrejas e seitas estão surgindo desordenadamente. Que religião vai prevalecer no Terceiro Milênio? Há mensagens do plano espiritual falando sobre isso?

Divaldo – Prevalecerá no futuro aquela religião que tenha suporte científico para as suas afirmações. Que seja compatível com a evolução da época, que se caracterize pelo amor, unindo todas as criaturas como verdadeiros irmãos. Permito-me repetir as palavras de Allan Kardec, em A Gênese, capítulo XVII, parte final, item 32: "No estado atual de opinião de conhecimentos, a religião que um dia deverá ligar todos os homens sob uma mesma bandeira, será aquela que melhor satisfaça a razão e as legítimas aspirações do coração e do espírito, que não seja exclusiva nem intolerante (...) Aquela cujo código moral seja o mais puro, o mais racional (...)".

-O missionário, que arrasta multidões, tem pouco espaço para sua privacidade pessoal. Sabemos que isso é uma glória, mas, também, uma grande provação. A fama é uma grande provação. Como é conviver com essa gratificante, mas difícil, missão evangelizadora?

Divaldo – Todos aqueles que se dedicam a qualquer experiência dignificadora, que promove o progresso da humanidade, seja na arte, na cultura, na religião e na ética, estão sempre muito expostos, devendo resguardar-se no equilíbrio, na oração e na vigilância, a fim de não serem levados de roldão pelas ondas desordenadas dos interesses terrestres que enxameiam em todos os setores da atividade. O trabalhador espírita que se vê cercado pelas massas necessitadas e aflitas, esse labor é dádiva de Deus. Naturalmente são exigidos dele renúncia aos interesses egoísticos, abnegação, caridade e amor, nunca se devendo permitir exorbitar pela vaidade e pela presunção, esses inimigos de todos os ideais de engrandecimento humano. Por fim, torna-se imprescindível manter-se em perfeita comunhão com os seus guias espirituais, poupando-se a perturbações e a desequilíbrios que sempre seguem os passos dos lutadores, aguardando oportunidade para os afligir...

-O Espiritismo não é uma religião constituída. Suas lideranças são naturais e não representativas sob o aspecto jurídico. Não há hierarquias. Isto não dificulta a organização interna da religião para dialogar com o mundo e difundir a doutrina?

Divaldo – A excelência da religião espírita, entre outros requisitos, se encontra na ausência de ritualística, formalismo, hierarquia, dogmatismo, sendo uma doutrina que evolve com as conquistas da Ciência. O Cristianismo começou a desnaturar-se, a perder a sua pureza primitiva, quando os homens se propuseram a representá-lo, fascinados pelo poder temporal, em detrimento das conquistas espirituais, íntimas e intransferíveis.

-Se você tivesse que resumir a doutrina espírita numa frase, qual seria?

Divaldo – Interrogaram ao grande orador Manuel Vianna de Carvalho que definição ele daria ao Espiritismo. Depois de apresentar a que foi formulada por Kardec, ele adiu: "O Espiritismo é a religião da ciência, a ciência da religião e a filosofia do Bem".

-Há quem tenha uma visão apocalíptica do tempo próximo que está para vir. Essa Era apocalíptica estaria, de fato, próxima, segundo a mensagem do plano espiritual?

Divaldo – Vivemos o momento das grandes transições, conforme as anotações bíblicas e proféticas de todos os tempos. Não, porém, do ponto de vista de destruição do planeta, de fenômenos sísmicos tenebrosos, de aniquilamento da vida. Kardec disse que chegaria o momento em que a Terra deixaria de ser mundo de provas e de expiações, para tornar-se mundo de regeneração. As dores que hoje enfrentamos, os imensos desafios que nos assaltam, constituem apelos da Vida, a fim de que aprendamos a auxiliar e servir, confiar em Deus e trabalhar em favor de melhores dias. Dessa forma haverá, sim, o fim dos tempos perversos e de sofrimentos ultrizes. A Terra continuará na condição de mãe generosa, com os seus filhos temporários, no rumo que lhe está destinado pelo Altíssimo.

-Houve quem dissesse que estamos vivendo a pior época de todos os viveres. Uma entidade espiritual de luz, que foi escrava no Brasil, afirmou que o sofrimento chega a ser, para nós, encarnados do século XX, maior que o do tempo do cativeiro. Esse cativeiro seria a negatividade que ameaça o mundo?

Divaldo – Segundo os benfeitores espirituais, o período de sombras e de dores não cessará de um para outro momento. No entanto, simultaneamente haverá a presença de bênçãos incomparáveis, de altas expressões de amor e de abnegação, de fraternidade e de construções científico-tecnológicas para que sejam apressadas as horas amargas, assim facultando a instalação da Nova Era. No próximo século ainda permanecerão alguns padecimentos graves – solidão, insatisfação, vazio existencial, desencanto, distúrbios de comportamento, transtornos psicológicos, enfermidades que a ciência irá vencendo – como decorrência do mau uso que se tem feito dos divinos recursos que jazem em todas as criaturas. Todavia, também afirmam esses amigos superiores do Além, que o vindouro será o século da arte, da beleza, da religião, quando o homem, cansado de buscar valores transitórios, se voltará para as engrandecedoras dádivas da reencarnação.

-Sabemos que por maior que seja a escuridão, a Luz do Mundo, que é Jesus, não se apaga nunca. Que conselho você daria a um espírita para que não dê oportunidade a que essa Luz se ofusque diante de si, em face da avalanche materialista que quer ludibriar a Humanidade?

Divaldo – Penso que a melhor terapia para uma existência feliz é a preventiva, aquela que mantém a saúde e a equipa de recursos imunológicos para evitar as doenças. Do ponto de vista moral, a melhor maneira de manter acesa a claridade de Jesus no coração e na mente, é perseverar com fidelidade nos ideais superiores abraçados, considerando que as ocorrências perturbadoras são acidentes de percurso, que deverão ser superadas com facilidade. Somente no exercício do Bem é que este se instalará por definitivo no ser. Jesus nos propôs que deixássemos brilhar a nossa luz, que nEle haurimos, a fim de que a escuridão seja espancada e desapareça. Este é, portanto, o momento feliz para ampliar os horizontes da luz no mundo e todos nós, envolvidos por essa peregrina claridade, espalhá-la em todas as direções.


Entrevista publicada na Revista Cristã de Espiritismo, Ed. 09.

Escrito por Paulo Roberto Viola 01-Mar-2008

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